Retirado de um grupo de moçambicanos na net:
Leiam esta carta de um leitor do jornal Notícias, foi publicada na secção "Carta dos Leitores" do Jornal Notícias do dia 17 de Abril...
Mais uma vez vem à baila aquele tão característico sentimento de recalcamento do ex-colonizado, com o qual eu simplesmente não concordo nem um pouco.
Leiam a carta e digam se concordo comigo, mas eu sinceramente não alinho neste tipo de pensamento... o querer culpar os portugueses e a sua colonização não nos leva a lado nenhum, e só cria rancores
desnecessários.
Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!), mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra...
Obrigada pela luta da independência, vocês realmente foram os que lutaram e conquistaram a
independência do nosso Moçambique, o povo está agradecido a vocês!! Mas isso não vos dá o direito de serem donos da terra, de estarem no poder à quase 30 anos, de serem corruptos e o povo não poder reclamar... simplesmente porque vocês alcançaram a independência, e julgam-se donos da terra!!
a democracia por si só, implica alternância de poderes!!
Kandayane Wa Matuva Kandiya
Notícias, 17 de Abril de 2004
1. Historieta Portuguesa
Uma das piores senão a pior desgraça que há cinco séculos abateu o Povo Moçambicano, foi o de ter sido colonizado por portugueses.
Oriundos de um pequenino país da Europa, produto da fusão de vários povos, acabaram sendo conhecidos por Lusitanos.
Encravado no extremo sudeste [sic] da Península Ibérica, Portugal foi várias vezes feito colónia ou província Castelhana, depois de ter sido sucessivamente esgravatado por Iberos, Celtas, Fenícios,
Gregos, Cartagineses, Romanos, Vândalos, Suevos, Alanos, Visigodos, e por fim ainda hoje se podem encontrar naquele país, vestígios dos seus últimos colonizadores, os Muçulmanos, também conhecidos nessa época por Sarracenos, Árabes, Maometanos e Mouros.
Trazendo consigo recalcamentos de vários sofrimentos não podiam ter encontrado melhor campo para descarregar e semear as suas mágoas, as desilusões e enfim a sua fúria senão no pobre Povo Moçambicano.
Mal se tornou independente da Espanha pelo tratado de Zamora assinado entre D. Afonso Henriques e o Rei de Espanha lá para os anos 1149 por aí, e apercebendo-se da sua pequenez no tamanho e na
forma, Portugal decidiu desde logo tornar-se grande à custa de conquistar, subjugar e dividir para reinar outros povos, imitando os seus anteriores suseranos romanos e, pedaço a pedaço, os "Tugas" como hoje são apelidados formaram um "grande império português" que, partindo da praia do Restelo iniciou uma marcha longa cujo destino seria a Índia, contornando e conquistando quase todos os povos da parte ocidental do Continente Africano, desembocando depois em Moçambique.
Quer dizer, o conceito de poder e grandeza para os portugueses de então, não era em termos de possuir ou armazenar riqueza, tal como ouro, carvão ou gás de Moçambique que sempre jazeram no subsolo
inexploráveis (sic), muito menos o petróleo ou os diamantes angolanos que também sempre existiram, mas apenas e só apenas descobrir o caminho marítimo para a Índia, para de lá carregar para Europa piri-piri e outras especiarias culinárias, tais como gegimbre (sic), açafrão, colorau servindo apenas de entreposto comercial!
Ridículo não é?
Mas foi assim mesmo: a noção de riqueza e grandeza para os portugueses de então, não consistia na busca e/ou descoberta e estar sobre o seu domínio as areias pesadas de Angoche, Moebase e Chibuto
em Moçambique, Mancarra, olém de dedém ou borracha da Guiné, cacau em São Tomé e Príncipe, ou pelo menos algumas palancas em Angola que fariam delirar de encanto aos (sic) visitantes do Jardim Zoológico
de Lisboa, não senhor!
Apenas e só apenas espezinhar outros povos e levar para Portugal, pimenta, cravo e títulos honoríficos para os seus reis. Por exemplo, um dos seus reis o Rei D. João II, quiçá o mais sanguinário dos reis
portugueses, teve a alcunha ou o cognome de "Princípe Perfeito", após ter ordenado o abate de muitos dos seus adversários, mandando igualmente ao cadafalso o Duque de Bragança e apunhalado com as suas
próprias mãos o Duque de Viseu e assim ficou Rei e Senhor absoluto de tudo, passando depois a usar pomposamente os títulos de "Rei de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África, Senhor da
Guiné, da Conquista e Navegação, da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia".
Assim, El-Rei, ficava sumptuoso e altivamente arrogante gabaroso e amalham (sic) ao ponto de "chutar" alguns poderes para os seus "vice-reis" lá para as Índias, após ter descoberto o tão almejado caminho
marítimo e levar a Lisboa, malaguetas e outros afrodisíacos!
Com este tipo de colonizadores, outra sorte não podia nos calhar senão a pior.
...........................................................................................................................................................
Um comentário:
Em parte concordo contigo, repito, em parte, pois o culpar os colonizadores de fato não nos levará a lugar nenhum, a não ser a sentimentos de raiva, e ódio infundados, que aliás são dos mais perigosos, visto que o sujeito ignorante, é capaz de fazer "loucuras.
Por outro lado, é importante, distinguir, da culpabilização da colonização e dos colonizadores, pois tratam-se de dois aspetos diferentes, a colonização em si, nos colocou numa situação de eternos perdedores, ou inferiores. e isso poderás ver o estilo de linguagem que se cria, no período da colonização para designar o negro africano, importante perceber que isso não acontece apenas em Moçambique, e não é obra exclusiva do colonizador português, mas de uma conjuntura, sócio-economica da europa quanto um todo...
também, não posso, concordar contigo, quando dizes "Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!),
Mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa
própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra..."
Bem, a FRELIMO, embora tenha uma grande parcela de culpa pelo que vem acontecendo em nosso país desde que se alcançou a independência, é responsável também por um significativo crescimento.
Pois, Moçambique, forçado a seguir o Marxismo L. em detrimento do capitalismo, provocou uma guerra sem tamanho que os países capitalistas, luta essa que foi travada e combatida com garra e aguçada visão de futuro pelos frelimistas, hoje, devido a essa opção, está o nosso país sendo agraciado por um crescimento significativo, em relação só a título de exemplo, aos países que optaram pelo capitalismo logo após a Independência...
Não vou aqui escrever um ensaio, sobre a nossa breve história, pois minha intenção primeira é mostrar o lado inverso dos discursos que muitas vezes por conhecermos pouco nossa história temos feito, esses discursos, cheios de paixão e zelo, podem nos trair!
Não concordo e nem me afirmo frelimista, mas nossa realidade política, enquanto a nova geração não buscar e propor alternativas concretas, continuará por mais sei lá quantos anos nas mãos na Frelimo, pois ainda não conseguimos fazer frente nos vários aspetos imprescindíveis ao referido partido, falta-nos oposição de peso...
Fui, me desculpem se me alonguei demasiado, mas o discurso arraigado pela paixão me levou a tal extremo (rsrsrsrsssss)
Gaspar Sitefane
Comments