ECOS DA MAROFA 27.07.2005 Por Osvaldo Condesso Quando este jornal chegar às mãos dos estimados leitores tem já passado mais um aniversário -o 35o- da morte do Prof. António de Oliveira Salazar, ocorrida no dia 27 de Julho de 1970. Como é sabido, Salazar esteve no governo do nosso país durante 40 anos, 4 como ministro das Finanças e 36 como presidente do Conselho de Ministros, acumulando ainda, durante algum tempo, os cargos de ministro da Guerra, das Colónias e dos Negócios Estrangeiros. Passadas que estão estas três décadas e meia sobre o seu passamento, o seu nome continua a incomodar algumas pessoas e dele só se tem falado depreciativamente, como se nunca passasse de ser o lobo mau que quer a todo o custo comer o capuchinho vermelho, quando os seus piores detractores sempre defenderam e apoiaram criminosos como Lenine e Estaline, responsáveis pela morte de milhões de inocentes e colocaram no poder em África ditadores culpados por idênticos massacres. Para se falar de Salazar com alguma justiça, em primeiro lugar, temos que nos situar na época em que viveu. Nasceu em Vimieiro, Santa Comba Dão, a 28 de Abril de 1889, ano do falecimento do nosso monarca D. Luís e em que iniciou o seu reinado seu filho D. Carlos, que viria a ser assassinado 18 anos mais tarde, juntamente com o príncipe herdeiro D. Luís Filipe. Nessa altura e até meados do século passado, já depois do termino da II guerra mundial, contavam-se pêlos dedos os países que viviam em democracia e a maior parte dos territórios de África e da Ásia estavam ainda colonizados. Foi uma época em que a Europa - para só falar dela - passou por uma completa desordem, nomeadamente: duas guerras mundiais; lutas entre vários países centro-europeus; desmantelamento do império Austro-Húngaro; a revolução bolchevista e a criação da URSS com o domínio, pela força, dos países do leste; a guerra civil espanhola e a queda da II República; e muitos outros conflitos que causaram a morte a muitos milhões de vidas humanas. Em Portugal, como já disse em número anterior, desde a década de 80 do século XIX, viveram-se tempos de alguma confusão e instabilidade com as guerras em África (mapa cor-de-rosa e prisão de Gungunhana), os conflitos entre monarcas e republicanos que culminou com a implantação da República, na qual, em apenas 15 anos (1911-1926) houve 8 presidentes -Sidónio Pais foi assassinado e só António José de Almeida cumpriu o mandato até ao fim - e 45!! Governos. Estivemos envolvidos na I guerra mundial onde perdemos cerca de 7000 homens do CEP-Corpo Expedicionário Português, na batalha de La Lys, em 9 de Abril de 1918. A anarquia instalada devido ao desentendimento dos partidos era tal que levou Gomes da Costa, juntamente com Mendes Cabeçadas, a lançar em Braga o grito "Às armas Portugal" que levaria à ditadura militar e mais tarde à ditadura Salazarista. Salazar era nessa altura professor catedrático de Economia e Finanças da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e foi chamado por diversas vezes ao governo, mas só veio a aceitar integrá-lo, em 1928, ocupando a pasta das Finança, depois dos militares terem aceite as suas condições de ser ele, Ministro das Finanças, o único que poderia autorizar despesas. A economia teve então um grande impulso, pois logo no ano seguinte registou um saldo positivo. Em 1932 ascendeu a Presidente do Conselho e, no ano seguinte, depois de aprovada a Constituição de 1933, fundou o Estado Novo, como partido único. As graves perturbações verificadas nas primeiras décadas nos países da Europa, levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que publicamente discordavam da orientação do Estado Novo, tornando-se num "ditador", como ele próprio reconheceu. Mas quem o apelida de "fascista" mostra uma total ignorância, senão mesmo má fé. Basta ler os seus documentos, cartas e despachos para se perceber que não só o não era, como abominava quem defendia tal ideologia. Considerava até "o comunismo puro" como a "doutrina social mais perfeita criada pelo homem ", mas o regime implantado no leste e seguido por apaniguados em Portugal tornara-se "uma perversão do comunismo ideal", pelo que, vaticinava ele, num futuro breve, "iria desmoronar-se ". Como consequência era imperioso "combatê-lo e neutralizar os seus militantes ". Como veio a verificar-se, Salazar foi um rigoroso profeta. Sobre as colónias ou ultramar, sabe-se que foi o mentor da filosofia que se sintetizava na expressão "do Minho a Timor", pois tinha a perfeita consciência de que o direito à independência dos povos só era possível pelo desenvolvimento harmonioso das comunidades multi-raciais ali existentes que lhes permitisse, mais tarde, uma verdadeira independência para Angola, Moçambique, Guiné e até para a índia e Timor, já que Macau era uma situação especial. Quando, já próximo dos anos 60, começaram a soprar ventos da História, Salazar percebeu imediatamente que os movimentos locais não passavam de "marionetas" manipuladas por interesses internacionais, pois as independências foram estimuladas pelo sinergismo de acções comunistas com intenção expansionista daquela doutrina, bem como do plano capitalista dos Estados Unidos. Goa, Damão e Diu serviram de teste para se perceber o comportamento dos Estados Unidos e da Inglaterra que assobiaram para o lado perante a agressão do "pacifista " Nerhu e, muito embora os professores Galvão Teles e Braga da Cruz tivessem ganho, em nome do governo Português, no Tribunal de Haia, recursos que ali foram apresentados, de nada serviu, pois o Direito Internacional só é vinculativo para os pequenos países, já que os grandes só cumprem quando lhes convém. Hoje, nos territórios que estiveram sob administração portuguesa, principalmente em Angola e Moçambique, que chegaram a ser os mais desenvolvidos de toda a África, grassam a fome e as epidemias, apesar das grandes potencialidades naturais que possuem. Todo este retrocesso só veio confirmar que, também neste aspecto, Salazar tinha razão ao antever o desastre da descolonização. Muito mais haveria a dizer do antigo Presidente do Conselho, mas só direi ainda que estão a apodrecer na Biblioteca Municipal de Santa Comba Dão (fala-se em crime de lesa história), cerca de 150 caixotes com um vasto espólio constituído por objectos, cartas, livros e manuscritos à espera de se erguer o Museu do Estado Novo, mas o actual presidente da Câmara, o socialista Orlando Mendes, não mostra vontade em erigir o referido Museu, pelo que tem vindo a adiar sucessivamente a sua elaboração. História é história e não se pode apagar quem dela faz parte. Direi ainda que o cemitério do Vimieiro, onde Salazar está sepultado, continua a atrair milhares de visitantes por ano. Numa enorme placa de mármore, mandada colocar por um admirador de Mértola, pode ler-se: ''Havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem" e "Errar é próprio dos homens, mas até à data foi o melhor estadista e mais honesto dos governantes de Portugal".
Post a comment
Comments are moderated, and will not appear until the author has approved them.
Your Information
(Name and email address are required. Email address will not be displayed with the comment.)
oi
Posted by: mari | 17-12-2007 at 20:16
como se vê logo pelo comentário recebido o atraso português é antes de mais o atraso da mentalidade e cultura dos portugueses ainda faltam uns anos até nível cultural e educacional português permitir o povo português entender que a abrilada não foi uma invenção nossa, que não passou de operação instigada por interesses internacionais onde nós infelizmente não passamos de marionetas e onde infelizmente também foi muito fácil incutir chavões e preconceitos numa população em que 20% eram analfabetos e dos 80% restantes 70% sofrem de ileteracia.
A história será feita mesmo sobre o incómodo de alguns virem a descobrir que andaram ser comidos por parvos durante tanto tempo....já o aconteceu com a queda do muro, acontecerá também aqui
Posted by: Miguel | 13-11-2005 at 23:13
como pode compreender a mente e defender as idéias daquele ditador egocêntrico?
Posted by: victor barbosa | 05-11-2005 at 21:38