O ministro da Defesa, Luís Amado, anunciou hoje a intenção de "repensar as condições de financiamento" do fundo relativo aos ex-combatentes, que considerou insustentável a prazo, acusando o anterior Governo de "não ter posto um euro" no fundo.
"Terei oportunidade de apresentar ao Governo as propostas do Ministério da Defesa nesta matéria e o Governo tomará uma decisão", disse Luís Amado, defendendo a necessidade de "avaliar as condições de sustentabilidade do sistema de incentivos que está aprovado" para os ex-combatentes.
Questionado pelos jornalistas sobre a hipótese, hoje avançada pelo “Correio da Manhã”, de limitar o universo de beneficiários do sistema aos mais necessitados, o ministro da Defesa admitiu tratar-se "uma opção possível".
A revisão do fundo justifica-se, no entender do ministro, porque o financiamento do actual sistema "repousa sobre o património das Forças Armadas", que "já está afecto" a programas como o financiamento do fundo de pensões das Forças Armadas, a requalificação de infra-estruturas ou o reequipamento.
"O dinheiro não chega para tudo, é preciso fazer opções e redefinir prioridades", salientou Luís Amado.
Além disso, acrescentou, o fundo dos ex-combatentes "não foi constituído com as verbas necessárias para o dotar da sustentabilidade" e para garantir "os respectivos pagamentos".
"É necessário reavaliar as medidas tomadas, ponderar as várias opções, e tomar opções que garantam a sustentabilidade do Ministério da Defesa", disse Luís Amado, adiantando apenas que a proposta a apresentar pelo executivo respeitará "o espírito da lei" que criou o fundo, aprovada em 2002 no Parlamento.
No debate parlamentar, Luís Amado e as bancadas do PSD e CDS/PP trocaram acusações quanto ao processo de criação e provimento do fundo destinado aos ex-combatentes, com Luís Amado a reforçar que "não há património que sustente as exigências financeiras" deste programa a longo prazo e a acusar o anterior executivo de ter "engendrado atabalhoadamente um sistema insustentável num fim de ciclo caótico".
Nas contas de Luís Amado, o fundo dos ex-combatentes necessitaria de imediato de um encaixe de 828 milhões de euros para atender a um universo de 193 mil beneficiários.
PSD diz que fundo é "uma questão de honra do país"
Em resposta, Henrique Freitas, deputado do PSD e ex-secretário de Estado dos Antigos Combatentes, considerou que o pagamento aos ex-combatentes é "uma questão de honra do país", deplorando que "aqueles que lutaram por Portugal sejam contabilizados como dívidas do Estado".
"Os ex-combatentes não têm de pagar pela sua falta de peso político ou pelo problema do défice", salientou.
Pela bancada democrata-cristã, João Rebelo assegurou que o anterior Governo "deixou o dinheiro" para suprir o fundo dos ex-combatentes para este ano e defendeu que uma "gestão integrada do fundo", nomeadamente pelo Ministério das Finanças, poderia garantir o seu financiamento a longo prazo.
João Rebelo sugeriu ainda o fim das auto-estradas sem portagem (Scut), que "custam 700 milhões de contos por ano ao Estado", e a canalização desta receita para o financiamento do fundo dos ex-combatentes.
"Não digam que não há dinheiro. Trata-se apenas de opções políticas", acrescentou o deputado do CDS/PP, insurgindo-se também contra a redução do universo de beneficiários – "este complemento de pensão deve ser entregue a quem tem o direito de o receber", disse.
O deputado do PCP António Filipe criticou, por seu turno, o ministro da Defesa por comparecer no Parlamento "apenas para dizer que há um problema" – "o Governo não pode vir aqui de mãos a abanar dizer que não tem opções nem dinheiro", disse –, instando-o a esclarecer "que alterações vai propor".
Luís Amado: “Compromissos para o próximo ano serão honrados"
Face às interrogações da oposição, Luís Amado disse apenas: "trago a identificação dos problemas e trarei soluções no momento adequado".
Em qualquer caso, assegurou, "os compromissos para o próximo ano serão honrados", nomeadamente através de transferências da Caixa Geral de Aposentação e da Segurança Social.
Pelo Bloco de Esquerda, Fernando Rosas admitiu que o fundo dos ex-combatentes "foi criado com base em expectativas aleatórias e não controladas de receitas", mas defendeu que "o Estado não pode deixar de assumir as suas responsabilidades" neste domínio.
Marques Júnior (PS) apelou, por seu turno, a que "seja encontrada uma solução, mas com grande sentido de responsabilidade".
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