Um texto sem tabus…
Brasilino Godinho
O “Jornal de Notícias” na sua edição do p.p. dia 10 de Abril, inseria uma notícia sobre um seminário realizado na cidade de Leiria por iniciativa da organização maçónica designada “Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria”. Chamou-me a atenção o título “A maçonaria não é um lóbi” em que sobreleva a perspicácia e a inteligência da jornalista Helena Silva ao colocar-lhe as aspas. Fez-me lembrar os tempos da Ditadura do Estado Novo em que os jornalistas tinham que escrever numa linguagem rebuscada para os leitores perceberem, nas entrelinhas, o sentido do texto previamente submetido à aprovação dos agentes da Comissão de Censura, instituída pelo governo de Salazar. Hoje, estamos vivendo sob um regime democrático formal, com alguns medos implantados à flor da pele de muitíssimos indígenas e a bastante gente escapa a realidade de uma censura que se exerce às escondidas obedecendo a directivas de poderosas entidades que, na sombra, comandam os destinos deste país. Ou aquela que se pratica na observância de obscuros interesses.
Certo - no caso em apreço – que para além do inusitado expediente jornalístico e do facto de a jornalista nos sugerir a ideia de não estar convencida de que assim seja a natureza da posição e o grau de operacionalidade da Maçonaria, achei piada e relevo o facto de esta entidade, considerada no conjunto das seitas (que a integram) existentes em Portugal, “não ser um grupo de pressão”. E não é por uma razão que tem tanto de simples como de realidade inquestionável: Em Portugal, a Maçonaria é o Poder! Ou vice-versa: O Poder é a Maçonaria. Ela aí está, discreta, em toda a parte, aqui mesmo ao nosso lado, sem se expor frontalmente, antes escondendo-se, mas, sem margem para dúvidas, activa, covarde, dominadora, poderosa, manipuladora. Também, por vezes, bloqueando iniciativas e carreiras de cidadãos e exercendo represálias sobre quantos ousam criticá-la ou põem em evidência as suas insanáveis contradições e as sombrias actividades em que se empenha e nela são evidentes, não obstante o secretismo em que se apoia e busca fortalecimento. Em certas ocasiões, um gato escondido com o rabo de fora. Aliás, recentemente, durante a campanha eleitoral para a Presidência da República, quem não se tivesse distraído com os ruídos ensurdecedores da campanha e os jogos das aparências e dos disfarces ter-se-ia apercebido dos papéis preponderantes que as maçonarias nela desempenharam. E quando digo maçonarias, forçosamente incluo a Opus Dei, conhecida em Espanha como a Maçonaria Branca – o que pressupõe que as outras serão consideradas como negras ou cinzentas…
Vem a propósito realçar que no jantar comemorativo da fundação do Partido Socialista, há dias realizado, foi um espectáculo surpreendente de mover à piedade aquele de ver reunido um tão grande número de fraternos irmãos do Grande Oriente Lusitano, na circunstância, dispensados dos aventais; os quais, até dariam jeito a substituírem os guardanapos tradicionais… Permito-me interrogar: Quem era, entre badaladas figuras de proa do núcleo de fundadores do Partido Socialista, dispersas pelas mesas circundantes, o circunspecto indivíduo que teve lugar na mesa de honra e se sentou ao lado do chefe do governo, secretário-geral do PS? Quem haveria de ser? Senão o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano? Pois! O “venerável” irmão deu, naquele distinto lugar, confirmação do ascendente da tutela maçónica sobre o partido rosa e da posição de força e influência da referida seita maçónica em todos os mundos alfacinha, tripeiro, coimbrão, aveirense, etc, et cetera e tal…
Mas, como ia dizendo, a última eleição presidencial não foi uma luta travada entre os candidatos Cavaco Silva, Mário Soares e Manuel Alegre. Desengane-se a malta. O combate eleitoral desenrolou-se entre a Opus Dei (representada por Cavaco) e a Maçonaria (com os participantes Soares e Alegre). Teve episódios engraçados. Cheguei a deliciar-me com os diálogos entre personagens representativas dos dois grupos, escolhidas a dedo pelos directórios das televisões de forma a estabelecer o equilíbrio das representatividades. Era vê-los, os dois, a esgrimir argumentos com punhos de renda sobrelevando cuidados extremos de não aprofundarem as questões mais delicadas e de maior melindre susceptíveis de comprometer o tácito acordo de cavalheirismo prevalecente no relacionamento entre a Maçonaria e a Opus Dei. Algumas vezes deu para rir face aos disparates das afirmações e à crónica presunção de estupidez dos espectadores; como se fossemos todos patetas das luminárias. Tudo dito e sem vergonha representado nas barbas do jornalista moderador que, embevecido, se entretinha a fazer ofício de corpo à vista e exercício de alma ausente.
Sintetizando, na actualidade, a Maçonaria - recorrendo a um maior ou menor número de “pranchas” e aos seus membros espalhados por todos os azimutes e pelas mais importantes posições estratégicas - domina os órgãos de soberania: o executivo (Governo) e o legislativo (Assembleia da República); a Opus Dei detém a presidência da República e o Conselho de Estado. Ambas repartem, entre si, as outras instâncias dos poderes central, regional e, até, nalguns casos, local. E mais: estão infiltradas nos partidos e em vários sectores da sociedade portuguesa. Entre estes avulta, pela sua importância de influência na formação da opinião pública, a imprensa e as televisões. Quer nos jornais, quer nas estações de televisão, assiste-se a uma disputa pela supremacia. Não faltam capitais para financiar as operações. Maçonaria e Opus Dei dispõem de enormes recursos financeiros. Igualmente, estão ligadas umbilicalmente à banca e ao mundo dos negócios.
Deste modo, está consagrada a paridade entre a Maçonaria e a Opus Dei.
Só que… Atenção! Falar das maçonarias (inclusa a Opus Dei) ou, sobretudo, criticá-las, é o maior tabu com que nos defrontamos em Portugal. Fácil intuir o porquê…
Assim, as coisas se vão mantendo a contento e com proveitos das duas partes: Maçonaria e Opus Dei. Por enquanto, na mais santa das harmonias… segundo as aparências e as presumíveis bênçãos do “Grande Arquitecto do Universo”… Ao mesmo tempo que lixado e mal pago continua o Zé-Povinho!
Brasilino Godinho
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