Manuel Carlos Freire
O Governo deixou cair a intenção de pagar só aos ex-combatentes mais carenciados os benefícios financeiros a que todos aqueles veteranos de guerra têm direito.
"Não vamos limitar o universo" desses beneficiários, que se estimam em cerca de 500 mil, garantiu ontem ao DN o ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, à margem das cerimónias do Dia do Combatente realizadas no Mosteiro da Batalha e a que presidiu. "Todos têm direito a receber e vão continuar a receber", frisou, as verbas que lhes foram atribuídas, por unanimidade, pelos partidos com assento parlamentar.
Escusando-se a explicar a mudança de posição face ao que defendia o seu antecessor, Luís Amado, de apoiar apenas o milhar de antigos combatentes verdadeiramente carenciados, Nuno Severiano Teixeira sublinhou que "existe uma dívida de reconhecimento do Estado para com os ex-combatentes" e "é uma posição de princípio" cumpri-la. Mas "temos de encontrar mecanismos, no quadro do Estado, para traduzir do ponto de vista material esse reconhecimento", que o Ministério da Defesa só por si não tem condições para respeitar, referiu o governante.
A declaração do ministro acaba com o braço-de-ferro mantido há meses com a oposição de direita, que se dizia disponível para apoiar o Executivo na definição de outras fontes de financiamento do sistema mas não abdicava do princípio de beneficiar todos os ex-combatentes.
"Estamos a estudar, do ponto de vista jurídico e dos mecanismos financeiros, as alternativas possíveis", salientou ainda Severiano Teixeira, sem entrar em pormenores. Admitiu, contudo, que a venda de património militar será uma das vias para satisfazer aqueles compromissos. Quanto à contagem do tempo de serviço militar para efeitos de reforma, mais importante para os ex-combatentes do que os benefícios financeiros, o ministro disse que a matéria não está a ser equacionada nesta fase.
Comemorações na Batalha
O presidente da Liga dos Combatentes e anfitrião das cerimónias do Dia do Combatente, general Chito Rodrigues, fez um apelo à união das várias associações de veteranos, perante o objectivo maior de "lutar pela solução dos problemas de todos os combatentes".
O orador convidado das cerimónias que este ano assinalaram o 89.º aniversário da batalha de La Lys, general Ramalho Eanes, abordou as questões do pacifismo e da guerra. Depois de "recordar como a ideologia mais pacifista - o anarquismo - é a que mais violência social provocou", o ex-Presidente da República expressou o seu "pesar pelo facto de os exércitos terem deixado de ser, em grande parte, o que eram: escolas republicanas de igualitária e meritória socialização, em que a todos os mancebos capazes, física e intelectualmente, pertencia servir".
DIÁRIO DE NOTÍCIAS - 15.04.2007
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