Por Afonso Almeida Brandão
Duas graves crises demográficas do Mundo dos nossos dias, simultâneas mas de sentido oposto, poderão vir a afectar seriamente o futuro do Planeta Terra. Nos países desenvolvidos, o problema é a quebra das taxas de natalidade que diminui drasticamente o número de jovens em relação a idosos e ameaça reduzir ainda mais as populações (a previsão para Portugal é de que em 2045 poderá não ter mais do que 14,2 milhões de habitantes). Nos países subdesenvolvidos, de que damos os exemplos de Moçambique e de Angola, o problema é o inverso: a população cada vez aumenta mais, e de uma forma descontrolada.
Apesar destes três casos serem problemáticos, a situação dos países desenvolvidos poderá trazer alguns benefícios a longo prazo. De facto, a crise reside nos rácios entre população activa e não activa, mas o declínio da população poderá não ser um problema tão grave a longo prazo quando tivermos em conta os avanços na automatização.
Em contrapartida, uma enorme população pode criar problemas gravíssimos. Globalmente considerado, o Planeta está cada vez mais sobrelotado: hoje já há mais de 7 mil milhões de humanos a viver na Terra. Mas em breve seremos ainda mais: algumas previsões apontam para uma população mundial de 9 mil milhões em 2045, outras prevêem números ainda mais altos.
Esta não é uma questão nova. Thomas Robert Malthus foi, no final do Séc. XVIII, o primeiro economista a analisar as crises demográficas que assolavam sobretudo e periodicamente a Europa, chegando à conclusão de que o crescimento populacional era um processo exponencial que não estava dependente dos índices de produção agrícola. Ou seja: mesmo escasseando a comida, a população continuaria a aumentar até esse crescimento ser travado por meio de doenças ou por meio da fome quando finalmente a produção de comida não chegasse para alimentar toda a população.
Existem duas formas genéricas de olhar para as conclusões de Malthus. Há aqueles que consideram que o importante é aumentar a produção, dessa forma evitando a “armadilha demográfica”, e há aqueles que consideram que é importante limitar o aumento descontrolado da população.
Durante a revolução industrial do século XIX e a Revolução Verde dos anos 70 do Séc. XX, propagou-se a ideia de que o Malthusianismo era uma teoria ultrapassada. De facto, o enorme aumento de produção de comida permitiu alimentar mais bocas do que nunca. Só que, agora, o problema poderá não estar apenas na escassez de comida em si.
A IRONIA DO DESENVOLVIMENTO
Nas últimas duas décadas, milhões de pessoas saíram da miséria nos países em via de desenvolvimento. Hoje, mais pessoas têm acesso a condições de vida aproximadas das da classe média ocidental. Infelizmente, não existe a garantia de que os recursos disponíveis sejam suficientes para manter estas condições de vida, pelo menos para tantos milhares de milhões.
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