DIALOGANDO
Por JOÃO CRAVEIRINHA
email: [email protected]
Às quartas e sextas – feiras desde Dezembro 2000
28 MAIO 1922 / 2004
POETA JOSÉ CRAVEIRINHA
(A Poesia é a essencialidade da escrita: in JOSÉ CRAVEIRINHA)
Meu pai JOÃO (sénior) – hoje é o aniversário de teu irmão ZÉ ! Vou reler excertos do poema que já conheces de cor e salteado melhor do que eu. Sim do poema que teu irmão escreveu quando estava preso
pela Pide, em 68, em Lourenço Marques: - …
…REFLEXÕES NO DIA DOS MEUS ANOS
Faço anos. /
Quantos já não interessa…/
…no meu bairro da Munhuana /
no preciso dia do meu aniversário /
lá com certeza o dia amanheceu…(in JOSÉ CRAVEIRINHA - 1968)
Pois é meu pai João (sénior) … quem diria ter chegado aonde chegou o teu irmão caçula, o tiZé? Agora, quase que vos vejo a recordarem a vossa infância. Quase que vejo quando o Pai grande (meu avô) – o chefe de polícia – algarvio e judeu poeta, José João Fernandes, vosso Pai, a querer punir o cascabulho ou trinta diabos, teu irmão Zézinho irrequieto e tu meu Pai João, a te colocares no meio, pedindo ao vosso Pai para não bater no teu irmão. Quase que vos vejo já sem o vosso Pai, português algarvio (falecido), e a residirem com vosso pai pequeno ou tio, guarda-fiscal, o António João Fernandes, já Craveirinha e também algarvio. Residiam na mesma rua do Poeta Rui de Noronha, mais velho que vocês.
Lembras – te? O local encontrava-se situado nas proximidades da actual av. Acordos de Lusaka com a Av. Marien Ngouabi. É verdade, não muito antigamente eram as Avenidas Craveiro Lopes e a Av. Caldas Xavier.
Hoje quase que vos vejo, meu Pai, tu a dares explicações de língua portuguesa a teu irmão José, com os livros de vosso Pai tão familiares, desde que ele vos recolhera após a morte de vossa mãe (minha avó), Carlota Mangachane Mafumo de Michafutene e tu o João (Mapilene), com sete anos e o José (Sontinho), com cinco.
Autores portugueses como Guerra Junqueiro, João de Deus, Ramalho Ortigão, Alexandre Herculano, Camilo, Eça e outros, eram lidos em voz alta pelo vosso Pai e, vocês atentos.
Sei meu Pai João, que até fazias versos em latim e sabias grego, inglês, francês e alemão e sabias desenhar e foste sempre de verdade, irmão de teu irmão, Zézé.
Sei também que não foste estudar Medicina com uma bolsa de estudo para a Universidade de Coimbra (em 1938 estudante e 1945 funcionário público), para não deixares desamparado teu irmão Zé.
Tua média no Liceu 5 de Outubro era sempre de 19 / 20 valores. Alí... onde está hoje o Instituto Comercial, defronte da Pastelaria Cristal...claro que te recordas.
Até, mais tarde, quando transferido em Abril de 1943 por motivos de serviço (Fazenda – Finanças), foste para o norte, Nampula e Ilha (Muhipiti), cuidaste de teu irmão e família. É por isso que sinto meu Pai, que cuidarás de teu irmão, meu tio Zé, Poeta Maior da família e de Moçambique e da afro – Lusofonia. Sei que cuidarás de teu irmão com a mesma preocupação de sempre. Preocupação que, para com ele tiveste, até fechar os teus olhos cinza – verdes, mulatos. Sei que nessa dimensão transcendental, onde se encontram, orientarás teu irmão mais novo, o Zé, no reencontro de vossos Pais, Carlota e José João e a outra vossa mãe, a enfermeira parteira Maria do Carmo, portuguesa de Lisboa vossa madrasta nome que ela detestava pois para ela eram filhos. Vocês eram o sangue do José João dela e não os filhos da preta como jocosamente, diziam, na sociedade colonial dos anos 1920 / 30 quando ela orgulhosamente passeava de mão dada com os mulatinhos, vocês, um de cada lado e – retorquia agastada:...”O SANGUE DE MEU JOSÉ JOÃO É MEU SANGUE”...
É papá João…como o tempo passa…e onde anda o teu irmão?
Queria lhe parabenizá-lo no dia de hoje… Ah, aí está o nosso Poeta.
Sabes papá tiZézé…sei que não gostas que te dêem os parabéns… já te conheço não insisto…mas tenho curiosidade em saber do teu encontro com o VATE LUIZ DE CAMÕES…eheh heheh…de que sorrio? Ele, o velho Camões não te cobrou nada? Nem uma percentagem? De quê? Então os 55 mil dólares ou 10 milhões de escudos antigos, do PRÉMIO, que recebeste com o nome dele em 1991? Já nem te lembras? Não te zangues estou a brincar…herdei de vocês a ironia nas coisas sérias. Ok…vou me embora. A vossa malta vos chama para festejar. Até à próxima e parabéns… (FIM)