Maputo, 23 Mai Lusa - A anedota corre pelas caixas de mensagens nos telemóveis da capital moçambicana, Maputo, precisamente duas semanas após o mesmo sistema ter divulgado uma notícia que não surpreendeu ninguém.
"Qual é o verbo para fugir sem deixar rasto?", pergunta- se na mensagem, que também dá a resposta: "Anibalizar".
Duas semanas depois de Aníbal dos Santos Júnior, conhecido pelo nome de guerra de Anibalzinho, ter saído tranquilamente da cadeia de alta segurança da Machava, Maputo, as mensagens que as pessoas enviam a partir dos seus telemóveis espelham o estado de descrédito e frustração que atingiu o sistema judicial em Moçambique.
Pela segunda vez, o cérebro do homicídio do jornalista moçambicano Carlos Cardoso, evadiu-se da mesma cadeia e, tal como em 2002, as autoridades parecem não fazer a mínima ideia do paradeiro de Anibalzinho e acusam-se mutuamente.
A fuga do cidadão português Aníbal dos Santos Júnior, condenado a 28 anos de prisão pela morte de Carlos Cardoso, não teve a acção espectacular das grandes evasões que o cinema consagrou, mas foi um manual de gestão de coincidências ou, como as próprias autoridades admitem, de conivências.
Dias antes da fuga, foram retirados da cadeia os cães- polícias que complementam a segurança, sob o argumento de exames veterinários.
No dia da fuga, 09 de Maio, o operador do sistema de vigilância audiovisual abandonou o seu posto durante algumas horas, depois de ter sido informado de uma indisposição de sua mulher.
Na mesma tarde, um inspector prisional atrasou o regresso às celas dos presos após o "recreio", aparentemente a pedido do próprio Anibalzinho, que não voltou a ser visto.
Além destes dois funcionários, encontra-se igualmente detido o sentinela de uma guarita por onde a polícia acredita que o preso fugiu, mas investigações jornalísticas apontam para outras versões da fuga.
Segundo o semanário Savana, Anibalzinho saiu da cadeia dentro de um automóvel propriedade de um oficial de serviço naquele estabelecimento, mas com uma matrícula relativa a um veículo do Ministério do Interior.
O mesmo jornal adianta que a matrícula se refere a um carro habitualmente conduzido por um assessor daquele Ministério e que foi advogado de Nympine Chissano, o filho do presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, citado por alguns dos réus como o mandante da morte do jornalista Carlos Cardoso.
Já os semanários Zambeze e Domingo acrescentam que a fuga foi denunciada alguns dias antes da sua concretização por Nini, outro dos condenados pela morte do jornalista, em informações que prestou a Isabel Rupia, directora do Gabinete Anti-Corrupção da Procuradoria-Geral da Republica de Moçambique (PGR).
A fuga de Anibalzinho abriu uma guerra entre a PGR e a Polícia da República de Moçambique (PRM) quando Isabel Rupia, que soube da evasão antes do comando policial, requisitou agentes da PRM directamente a uma esquadra de Maputo.
Os comandos policiais manifestaram publicamente o seu desagrado por não terem sido consultados pela magistrada da PGR e as duas instituições não escondem a desconfiança que sentem mutuamente pelos respectivos responsáveis.
Duas semanas depois, o único regresso à cadeia foi o dos cães-polícias. As investigações ainda não deram resultados e Anibalzinho continua em parte incerta, provavelmente na posse do seu legítimo passaporte português que lhe abre as portas do Mundo.
Para já, pertence-lhe o único sucesso em todo este caso, razão por que as pessoas continuam a reenviar para outros telemóveis a anedota que associa o seu nome a uma fuga sem deixar rasto.
LAS.
Lusa