Por Lourenço Covane
Certamente que nos recordamos dos anos da fome da década 80. Marcada pelo calor intenso, época de seca, misériaepidemias. Quem se esqueceu de mexe-mexe e paludismo?
Faltava quase de tudo. Vigorava o abastecimento (as compras eram feitas uma vez por mês com quotas reguladas pelo número do agregado familiar escrito na caderneta). Éramos cooperativistas. Recordo-me muito bem destes anos. O país vivia uma época difícil. Difícil para todos. E aí nasceu o candongueiro, no Holling da baixa. Oportunistas que diziam desenrascar a vida. Outros candogueiros dignaram-se a desviar o abastecimento destinado às cooperativas de consumo para a população. Recordo de um empresário da praça que desviou batatas do abastecimento às cooperativas. A ele foi imposta uma sentença de chamboco em plena praça pública. O campo de 1º de Maio foi o local escolhido para o chamboqueamento. Multidões de pessoas fizeram-se presentes, mas infelizmente não aconteceu. Não sei porquê.
Outro empresário teve sorte diferente. Desviou camarão e foi fuzilado. O país assim mantinha ordem e respeito para com os mais desfavorecidos. Não faltava emprego, tínhamos o campo para trabalhar a machamba. Não faltavam vagas nas escolas também os estudantes em tempo de férias faziam actividades
nas fábricas, machambas e limpezas públicas. Foram anos de sacrifício em que a alimentação básica era o Repolho – se não fosse eu! Hortaliça com óptimas fontes de vitamina A e C.
Era o SALVADOR da época. O País tem a obrigação de reconhecer esta hortaliça. Que seja um símbolo!
Passadas mais de duas décadas o país vive outra realidade.
Somos violentados pelos acontecimentos políticos e sociais. Falta de emprego, moradia, saúde, educação, crescente custo de vida exclusão social. Cada dia a violência está “violentando” os lares.
Perdemos referências institucionais como a política, a religião a justiça. Está faltando Deus, e sobrando Padres e Bispos milionários.
Somos excluído das flores amarelas. Esta vida cansa, sim, cansa e até metem nojo estes sistemas económicos, sociais, políticos e religiosos.
Hoje roubam-se biliões de meticais nos bancos e abusa-se nas cadeias. É fácil encontrar nas cadeias celulares, dinheiro e até televisores portáteis, mas impossível encontrar quem os colocou lá dentro. Não existe ainda rasteador de corruptos.
Para estes problemas, somente a moralização da polícia com dignidade e condições de vida (saúde, salários e segurança) pode mudar o quadro.
Como eu desejava que Moçambique fosse diferente!
Aquilo que já foi!
Por Guêzi
Ainda me lembro de como era bom o tempo que passou...
Do tempo em que todos os putos iam a pé (em malta) para a escola, sem medo de serem assaltados por um gajo qualquer, completemente drogado que os vai roubar para comprar outra dose da mesma porcaria que sustenta os luxos dos donos dos ditos centros comerciais (Shopings), que, no fundo, são a prova
real de que o país está a crescer.
É verdade amigos, ainda me lembro do tempo em que os putos faziam carrinhos de ferro (1000 vezes mais bonitos que esses americanizados que são feitos numa fábrica como há muitas na Coreia por crianças, que não tiveram tempo para serem crianças).
Lembro-me do tempo em que putos não tinham óculos (a não ser que tivessem mesmo problemas sérios de origem genética), nem caras de senhor, nem princípios de adultez. Não havia computadores, nem hamburguers, não havia televisão (excepto a daquele vizinho do fundo da rua), nem videogames, não havia
sonhos com o ser miliniario, havia sim um enorme prazer em ser criança e o sonho era o dia de aniversário que demorava séculos a chegar; havia sim a curiosidade inocente e típica das crianças
(a fase dos porquês) agora as perguntas são outras, são Quanto é que custa isto?; e havia sobretudo um nevoeiro intenso de amor, carinho, respeito, dedicação, paciência, que cobria quase na totalidade os putos daquele tempo que passou...
Do tempo em que a FRELIMO (a verdadeira) ensinava-nos a ser honestos, a termos orgulho no nosso país, a respeitarmos da mesma maneira o ministro e o homem do lixo, do tempo em que Bandla*
As ideias reflectidas nesta secção não são necessariamente partilhadas pelo Movimento Artigo 74.
Durante o século XVII surgiram povoamentos comerciais islâmicos na costa oriental moçambicana. Os três povoamentos mais importantes situavam-se entre a Ilha de Moçambique e Quelimane: SANCUL – na baía de Mokando, a Sul da Ilha de Moçambique, SANGAGE – entre o rio Metomode e Angoche - no estuário e QUITANHONH, na península Matibane, a Norte da Ilha.
Contudo, o Sultanado de Angoche foi o estabelecimento mais importante e de maior preponderância na região.
A história de Angoche divide-se em três etapas: 1-Domínio nativo, 2-Domínio muçulmano(chegada, fixação, e até a conquista de Angoche em 1861 pelos portugueses) e 3- Domínio português feito pela conquista, ocupação, pacificação e fixação. Com a conquista portuguesa do Vale do Zambeze e a expulsão dos Swahili para o norte de Moçambique, os Sheicados e Sultanados encontravam-se teoricamente subordinados aos portugueses, mas, na prática, esta subordinação existia se não houvesse interferência nos seus interesses e autonómias.
Na altura, os portugueses não possuíam recursos humanos, financeiros e militares para dominarem a região, procurando incorporar os Swahili na governação da “terra firme”– Política de Sobrevivência.O poder político nos povoamentos Swahili e o predomínio do tráfico de escravos no norte de Moçambique pesaram como vantagem para manipular os portugueses e os macuas, atráves da necessidade de
escravos pelos franceses que, em troca, ofereciam armas.
Angoche fundou-se no século XV, pouco antes da chegada dos portugueses, e atingiu o seu apogeu entre os séculos XVIII e XIX, derivado ao tráfico de escravos que perdurou na região até 1910. A resistência quebrou-se quando os portugueses decidiram lançar campanhas de ocupação, a partir de 1885.
Guia Bibliográfico para o Estudante de História de Moçambique
Amélia Neves de Souto
Pedaço de Moçambique...
a FRELIMO não nos deixava passar fome (comíamos peixe que se farta mas comíamos todos), do tempo em que a Frelimo não se vendia a qualquer preço ao capital multinacional selvagem, que faz com que alguns dos camaradas daquela altura, que diziam junto com o papá Samora “abaixo a corrupção” sejam
agora autênticos catedráticos na arte do desfalcamento dos cofres públicos (aquele sítio onde guardam o taco dos nossos impostos para depois dividirem), aqueles que nos ensinaram a dividir o pouco que tinhamos com o vizinho, agora dão lições de egoísmo, aqueles, que nos ensinavam que as crianças são flores que nunca murcham agora deixam morrer crianças em Nampula.
Saudades do tempo que passou, do tempo em que se ouvia Chico António no xirico a cantar Mercadonga; agora que já temos cd`s temos que suportar abomináveis criaturas a cantar (grasnar) poesias lindíssimas (mexe esse mambo) sobre temas profundos (Africa loverman is in the house), que nos tocam a alma (baby
boom). Enfim... talento é o que não falta. (É preciso repor o falecido macaco João já que há muita gente que leva jeito para a macacada).
Saudades de ver a cidade limpa (antes de se tornar a capital mundial do chichi na rua ), de ver o jardim Dona Berta com a relva verde e carregado de beijos de mulata cor de rosa (para ver agora, só mesmo latas de cerveja vazias, um ou outro vómito de um bêbado, ou um bocado de sangue que ficou no chão depois do último assalto).
E acima de tudo, tenho saudades daqueles que já cá não estão (somente em corpo físico, porque o ideal vou levá-lo comigo até onde a vida me permitir). Aqueles homens (de verdade ) que quem os mandou matar não mais os vai calar.
CARDOSO AINDA VIVE UM BOCADO EM CADA UM DE NÓS, MOÇAMBICANOS
A LUTA CONTINUA......
In Movimento Art74 - 21.05.2004