DEMOS - Dezembro 2003
CONFIDENCIAL
Coluna de João CRAVEIRINHA
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DOSSIER 10
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos DOSSIERS CONFIDENCIAIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora aonde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●