Na «Voz do Brasil»
Deputado brasileiro culpa herança portuguesa
2004-06-08 05:09:23
São Paulo - Francisco Turra, deputado da Câmara Federal de Brasília, eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, culpou a «herança lusitana pelas distorções na administração pública, que prioriza interesses políticos e coloca pessoas despreparadas em cargos de confiança». As declarações, proferidas no programa radiofónico «Voz do Brasil» no passado dia 1 de Junho, causarem indignação no seio da comunidade portuguesa e luso-descendente em todo o Brasil.
O advogado Paulo Porto Fernandes, radicado na capital paulista, dirigiu uma carta ao parlamentar lamentando o ocorrido. «Gostaria de lamentar que o senhor possa ter uma visão tão restrita e vestida de preconceito ao fazer tal afirmação. A comunidade portuguesa e os seus descendentes, que herdaram a dignidade, a honra e o respeito de seus ancestrais portugueses (onde me incluo, pois sou filho de português e actuo na comunidade prestando assessoria aos carentes), sente-se profundamente ofendida mediante tal afirmação. Está na hora de, nós brasileiros, fazermos uma 'mea culpa' e assumirmos de uma vez por todas nossos erros ao invés de culpar os outros, afinal de contas já se passaram séculos e a desculpa continua a mesma», escreve o jurista.
O Jornal Digital tentou contactar Francisco Turra em Brasília sem sucesso. A informação foi de que o deputado encontrava-se em trabalho numa das Comissões que integra.
EM
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«Lamentável distorção» diz Francisco Turra
Deputado brasileiro esclarece polémica sobre «herança lusitana»
2004-06-10 09:16:53
Brasília - O deputado federal Francisco Turra eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, em contacto com a delegação do Jornal Digital no Brasil, disse que o locutor do programa radiofónico «Voz do Brasil», no último dia 1 de Junho, distorceu as suas palavras contidas num discurso proferido no dia 31 de Maio na Câmara dos Deputados.
«Inicialmente declaro meu incondicional apreço ao povo lusitano, especialmente àqueles que adoptaram este nosso Brasil como sua terra. Nossa cultura nacional é repleta de aspectos originários dos colonizadores portugueses e isto é motivo de orgulho, pois somos herdeiros, isto sim, de uma das mais grandiosas e inovadoras civilizações que se tem registro no mundo. Portugal foi pioneiro em muitas frentes: o primeiro Estado Nacional da era moderna; o principal desbravador dos mares e descobridor de novas terras; e inovador na organização de uma administração pública de maior grau de complexidade», afirmou o parlamentar.
«Foi apenas sobre este último aspecto citado que fiz referência em meu discurso. Afirmei que na formação de sua monarquia, nos séculos XIV e XV, a então modesta extensão territorial portuguesa fez com que a definição de títulos de nobreza estivesse vinculada à ocupação de cargos públicos hereditários, e não pela concessão de terras, como predominou posteriormente na França, Inglaterra e Espanha, que se mantiveram por mais tempo enraizadas no modelo medieval. É claro, na sua posição pioneira, os portugueses não tinham um exemplo a seguir, sendo obrigados a desenvolver suas próprias experiências ante a uma administração pública, cuja complexidade crescia na mesma rapidez da expansão do Império. Evidentemente, o risco de erro dos pioneiros é sempre maior. Na verdade, uma das melhores qualidades da humanidade talvez seja exactamente a de aprender com os próprios equívocos», esclareceu.
«Minha crítica foi centrada no fato de que o Brasil está há menos de duas décadas de completar dois séculos como país independente e ainda não modernizou os conceitos mais básicos de administração pública. Minha crítica naquela oportunidade foi dirigida a nossa ética de gestão, o que nada tem a ver com Portugal, uma Nação que actualmente está caminhando rapidamente para padrões de bem-estar sócio-económico equivalentes aos mais ricos países europeus. O que me causa indignação é que o modelo brasileiro de administração estatal ainda insiste em fechar os olhos para as suas próprias verdades. A meu ver, as questões a serem resolvidas são de cunho ético. E isto, evidentemente, nada tem a ver com o grandioso legado da civilização portuguesa. Culpar a cultura portuguesa pelos nossos próprios equívocos seria imperdoável e, tenha certeza, tal procedimento jamais faria parte de minha conduta política», acrescentou Francisco Turra.
O deputado conclui a sua missiva pedindo desculpa por este lamentável mal-entendido e coloca-se à disposição de todos os componentes da comunidade lusa no Brasil para os esclarecimentos que forem necessários.
E. M.
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