TRIBUNA Dia 5 Dezembro 2003
Coluna de João CRAVEIRINHA
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ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO - A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique.■■■