SEMANÁRIO ANGOLENSE
O carácter totalitário do MPLA reflectido no 27 de Maio de 1977
Nito Alves
Neste momento não há um balanço feito e ninguém vai fazer, certamente, este balanço nos próximos tempos, por dificuldades obvias, mas todos estamos de acordo que os desaparecidos em Angola se contam aos milhares.
José Eduardo dos Santos, Henrique Félix Carreira, João Luís Neto, Ludi Kissassunda, Henrique de Carvalho Santos Onámbue, Simiáo Adão Manuel, Cristiano André, destacam-se entre os responsáveis pela morte de mais de 80 mil angolanos no 27 de Maio de 1977. O Tribunal Penal internacional tem a queixa dos sobreviventes dos tristemente célebres acontecimentos de há 27 anos.
O jornalista Reginaldo Silva, um dos sobreviventes do acontecimentos afirmou em Luanda que o 27 de Maio de 1977 foi o culminar dos desentendimentos no seio do MpLA, e as mortes de milhares de pessoas
justificam a existência naquela altura de uma estratégia política bem delineada da eliminação do adversário.
Havia várias alas, pelo menos duas principais, que na altura se degladeavam no seio do MPLA e que não conseguiram chegar a um entendimento, porque a essência totalitária do MPLA não permitia que esse entendimento fosse possível, não havia diálogo e tudo se resolvia na base da ruptura, esclareceu Reginaldo Silva que ficou preso no dia 28 de Maio de 1977, tendo tido a possibilidade de testemunhar alguns
acontecimentos do 27 de Maio.
Independentemente de qualquer juízo de valor que se faça sobre os acontecimentos do 27 de Maio, Reginaldo Silva questiona as razões para a tão grande repressão das pessoas. Neste momento não há um balanço ainda feito e ninguém vai fazer, certamente, este balanço nos próximos tempos, por dificuldades obvias, mas todos estamos de acordo que os desaparecidos em Angola se contam aos milhares, enfatiza o profissional da imprensa, para quem o processo constitui incómodo para o partido no
poder, que com tantos desaparecidos e famílias a reclamarem pelos seus entes queridos, para fazeres funerais condignos o MPLA não vai conseguir arquivar.
Mais adiante Reginaldo Silva critica o facto de não ter havido o julgamento dos envolvidos no chamado golpe de estado e ter se registado execuções extra-judiciais. Não lhes foi dado o direito a defesa, porque
na altura não havia este tipo de direito em Angola. Era um regime totalitário que não permitia qualquer tipo de direito, acrescentou.
Fundação 27 de Maio participa os governos angolano e Cubano ao Tribunal Internacional por abusos aos direitos humanos
A fundação 27 de Maio, que integra sobreviventes do massacre de mais de 80 mil angolanos, propõe-se levar às barras do Tribunal Penal Internacional, os governos de Angola e de Cuba pela sua implicação no
morticínio de triste memória, registado em 1977. Por ocasião da passagem do aniversário daquele acontecimento, a Fundação 27 de Maio convocou uma conferência de imprensa em Luanda, para entre outras questões, falar queixa apresentada ao Tribunal Internacional contra os que a organização
considera responsáveis dos tristes acontecimentos que resultaram no desaparecimento de milhares de cidadãos. A Fundação 27 de Maio exige do governo a realização de um debate nacional, um enterro condigno das vítimas de 27 de Maio de 1977.
Os sobreviventes culpam o actual Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, enquanto chefe da comissão de inquérito pelo seu silêncio que ditou a morte de cerca de 80 mil pessoas. Os responsáveis da Fundação 27 acusam José Eduardo dos Santos de emissão negligente e
propositada, que no seu entender, explica dois hipotéticos cenários, da não existência de fraccionistas no seio do MPLA e a de que todos os membros do comité central e do governo eram fraccionistas.
Segundo Silva Mateus da enorme lista de culpados do 27 de Maio Silva Mateus, destacam-se Henrique Félix Carreira, ministro de defesa, João Luís Neto, chefe de estado Maior da FAPLA, Ludi Kissassunda, director da
DISA «Segurança de Estado», Henrique de Carvalho Santos Onámbue, Simiáo Adão Manuel , Cristiano André, actual presidente do tribunal supremo e outros tantos .
Por ocasião da passagem do 27º aniversário dos tristemente célebres acontecimentos, o líder da Fundação 27 de Maio, acusa Eduardo dos Santos de estar por de trás a continuação da incógnita sobre o assunto,
porquanto até hoje não se tem conhecimento da existência do relatório ou conclusão de tal processo de inquérito, e nem se sabe se existiu ou não.
Num outro desenvolvimento, o MPLA fez sair uma nota de imprensa, por ocasião de 27 de Maio de 2004, onde sublinha que vai continuar a fazer tudo que estiver ao seu alcance para que se criem as condições para a vida dos angolanos. Na nota o MPLA salienta que, ultrapassados os impedimentos da guerra, e no momento em que o povo tem dado provas da sua capacidade de perdoar, tolerar e de se reconciliar, vai continuar a trabalhar para que as consequências de tantos anos não se constituam em entraves e dificuldades para se criar as condições para o melhoramento da vida dos angolanos.
Entretanto a Amnistia Internacional fez saber no dia 25 de Maio do ano em curso, no seu relatório anual, que o governo angolano, continua a violar os direitos humanos, muito embora aquela organização
internacional tenha reconhecido haver algumas melhorias. No centro das críticas e preocupações da Amnistia Internacional estão os crescentes relatos de torturas, execuções extras-judiciais, ausência de julgamento e também a situação em Cabinda. Aquela organização diz ainda no seu documento que, foram os poucos criminosos levados aos tribunais, para serem devidamente julgados. A ONG internacional salienta no seu relatório que as ameaças contra alguns jornalistas e defensores dos direitos humanos estiveram em grande no nosso país, mas que acabaram por ser absolvidos em julgamentos.
As violações contra os partidários da UNITA, por agentes ligados ao estado angolano, mereceram destaque do relatório anual da Amnistia Internacional.