Os dirigentes africanos devem tomar precauções colectivas contra as intenções do G8 sob pena de verem a União Africana (UA) dividida na sequência da recente cimeira deste último, na semana passada, em Sea Island, no estado americano da Geórgia.
Esta advertência foi lançada, esta semana, na capital etíope, por Njunga Mulikita, um perito africano em desenvolvimento internacional baseado em Addis-Abeba.
Céptico sobre as intenções do G8 relativamente a África, Mulikita disse que a presença dos presidentes do Ghana, Senegal, África do Sul, Nigéria, Argélia e do Uganda naquela cimeira poderia dar a impressão de que os seus países estavam mais empenhados na Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD)
que o resto dos membros da UA.
"Será que assistimos a uma divisão da União Africana em dois campos? Há um grupo de elite de dirigentes que são brindados pelo G8 enquanto os seus pares são ignorados", interrogou-se Mulikita. "Será que uma tal divisão, verdadeira ou ilusória, poderia comprometer a coesão política da UA?", continuou.
Numa entrevista à PANA, em Addis Abeba, Mulikia sublinhou que, apesar de todos os sorrisos e elogios diplomáticos feitos por dirigentes do G8 a seus homólogos africanos, esta cimeira não assumiu um compromisso concreto para apoiar África na execução da NEPAD.
Indicou que os dirigentes do G8 se mostraram mais preocupados com a promoção das reformas de democratização no Médio Oriente.
Ao comentar a próxima cimeira da UA prevista para 6 a 8 de Julho, em Addis-Abeba (Etiópia), Mulikita sublinhou que os países africanos deveriam concentrar as suas energias na realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM).
"O alcance dos ODM tem de ser considerado como um ponto de referência essencial que mede o empenho para a implementação da NEPAD", disse.
De acordo ainda com o perito, "visto que a predecessora da UA, a Organização de Unidade Africana (OUA), cumpriu a sua missão de descolonização, doravante é imperioso que a UA coloque a implementação dos ODM no centro da sua agenda".
Segundo Mulikita, na implementação dos ODM é de importância estratégica que todos os Estados membros da UA adiram ao Mecanismo de Revisão pelos Pares (MARP), que é "um dos pilares da NEPAD".
Acrescentou que a escolarização acrescida das meninas, o alargamento do acesso à água potável das camadas mais desfavorecidas da sociedade africana, a luta contra o paludismo e a progressão do VIH/Sida "necessitam de reajustes fundamentais dos poderes nos países africanos".
Mulikita estima que os países africanos estão a ser dirigidos de maneira centralizada e que todos os poderes estão concentrados entre as mãos da burocracia localizada nas capitais.
Indicou, por conseguinte, que a implementação dos ODM iria necessitar da descentralização efectiva do poder de decisão a nível das comunidades que estão na vanguarda da implementação dum desenvolvimento sustentável.
"Tem de se aplicar o processo de descentralização no quadro duma boa governação como o prevê o MARP. A boa governação vai permitir que os recursos que teriam sido consagrados a actividades improdutivas como a compra de armas ou projectos de prestígio pessoal, sejam investidos na implementação dos ODM", sublinhou. Mulikita pediu aos dirigentes africanos que aceitassem a perspectiva sinistra de que apesar dos discursos elogiosos dos dirigentes dos países mais ricos do mundo sobre a luta contra a pobreza em África, a maioria dos financiamentos internacionais "vão ser destinados às guerras no Médio Oriente e no
Afganistão".
Afirmou que "se a UA conseguir provar ao mundo que todos os seus membros aderiram ao MARP e pretendem deixar este órgão trabalhar seriamente, a organização continental, deste modo, poderá, por sua vez, exercer uma pressão sobre os países insdustrializados para que cumpram as suas promessas
de apoiar uma bem sucedida implementação da NEPAD".