KHOMALA!
ILHA DE MOÇAMBIQUE REIVINDICA RESTAURO CONTINUAMENTE PROTELADO!
WAMPHULA FAX – 13.07.2004
Por Vasco Fenita
Proclamada pela UNESCO em 1992 com o merecido e honroso título de Património da Humanidade, em cuja tabela classificativa figura em 250º posição, a mítica Ilha de Moçambique continua, entretanto, a exemplicar a imagem fiel e acabrunhante de um imponente barco encalhado (plagio a designação, com a devida vénia, da novela do mesmo nome do escritor Álvaro Belo Marques), e em iminência de um trágico e irreversível naufrágio. E, consequentemente, obstruído de perseguir o seu vocacionado destino histórico-turístico. A Ilha-Museu continua inelutàvelmente a assumir o retrato acabado de um abominável arremedo da cidade magnificente que outrora concitava a avidez infrene de turistas dos mais variados quadrantes do globo. A vetusta Ilha continua a configurar a pungente realidade das promessas demagógicas e dilatórias, vertidas em enxurradas, desde a 1ª Reunião Nacional de Museus e Antiguidades (efectuada em 1979), e que jazem na mais absoluta inércia. Muito embora sejam resgatadas, de quando em vez, com intenções paliativas como parecem sugerir as festividades em desusado espiral recentemente levadas a efeito.
Pois que, não obstantes o decurso de cerca de uma dúzia de anos sobre a distinção outorgada pela UNESCO, a Ilha de Moçambique permanece sem qualquer usufruto atinente, sem haver logrado algum benefício concreto que a resgatasse do penoso adernar em que esbraveja inglòriamente há já vários anos.
Facto que indicia uma manifesta ausência de sensibilidade de quem de direito.
Entretanto, ao longo dos anos, várias i n s t i t u i ç õ e s p a r c e i r a s (essencialmente, internacionais) têm perfilado na disponibilização de apoios tendentes a obstar a deprimente situação com que se tem debatido aquela preciosa jóia incrustrada em pleno Oceano Índico. Foram, oportunamente, formuladas
promessas, delineadas perspectivas, identificados projectos e, até mesmo, assegurados investimentos.
Aliás, já na altura da criação da Associação dos Amigos da Ilha de Moçambique, em 1982, a cuja presidência do Conselho Fiscal fui, então, catapultado, tive a oportunidade de constatar um sem número de incongruências em que muitos dos donativos drenados pelas comunidades internacionais para a agremiação, esvaíam misteriosamente, sem nunca aportarem ao legítimo destino.
Seria, pois, conveniente que os eventos de grande expressão sócio cultural e lúdico, a exemplo dos cariz do que se realizaram recentemente e que converteram a Cidade de Pedra e Cal no pólo fulcral das festividades comemorativas do 29º aniversário da Independência Nacional ao nível da província de Nampula, tivessem, de facto, o condão de despertarem a consciência, não apenas nacional, mas, também e sobretudo, internacional no sentido de se aglutinarem, com a devida celeridade (agora mais do que nunca), os meios necessários com vista a estancar-se concreta e definitivamente o elevado estado de degradação física que flagela aquela que, de 1818 a 1887, ostentou a privilegiada titularidade de primeira cidade capital moçambicana.
Com efeito, urge que os sinos atroam a rebate, num alerta para a importância do investimento e da preservação do reduto generoso e singular de génese histórico-cultural e de miscigenação étnica, que é a Ilha de Moçambique.
Decididamente. Vigorosamente. Obstinadamente.
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