LE MONDE DIPLOMATIQUE, edição portuguesa de 16 de Julho de 2004
A pretexto da «guerra conta o terrorismo» os Estados Unidos reforçaram a sua presença em África. Consciente da sua dependência em matérias-primas estratégicas, e preocupado em securizar os seus aprovisionamentos, Washington multiplica os acordos políticos e militares com a maioria dos paídes africanos. O exército, as companhias petrolíferas e as empresas americanas de consultoria no âmbito da segurança monopolizam esta aposta. Quanto à França, apesar de este activismo atingir territórios que já lhe pertenceram, parece permanecer passiva.
Uma investigação de PIERRE ABRAMOVICI
A 23 e 24 de Março de 2004, os chefes de Estado-Maior de oito paí-ses africanos (Chade, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Senegal, Argélia e Tunísia) participaram pela primeira vez numa discreta reunião organizada na sede do Comando Europeu do Exército Americano (US-EU-COM), em Estugarda. O encontro, apresentado como «sem precedentes» e cujos trabalhos foram mantidos secretos, teve como tema a «cooperação militar na luta global contra o terrorismo» e dizia respeito ao Sahel, zona tampão entre o Magrebe e a África Negra, entre as regiões petrolíferas do Norte e as do Golfo da Guiné.
Em poucos anos, o interesse político e militar dos Estados Unidos por África tem aumentado consideravelmente, como foi revelado pela visita do secretário de Estado Colin Powell ao Gabão e a Angola em Setembro de 2002 (uma hora em cada país, tempo para afirmar uma presença!), a viagem do presidente George W. Bush, em Julho de 2003, a cinco países (Senegal, Nigéria, Bots-wana, Uganda e África do Sul), e a digressão que o general Charles F. Wald, comandante adjunto do EUCOM, levou a cabo, duas semanas antes da reunião de Estugarda, em dez países (Gana, Argélia, Nigéria, Angola, África do Sul, Namíbia, Gabão, São Tomé e Príncipe, Níger e Tunísia).
Mais significativa ainda foi a participação indirecta de Washington, em Março de 2004, numa operação militar empreendida por quatro países do Sahel (Mali, Chade, Níger e Argélia) contra o Grupo Salafita para a Prédica e o Combate (GSPC), que se tornou conhecido no início de 2003 ao sequestrar trinta e dois turistas no Sara argelino. O «número 2» desta organização, Ammari Saífi, conhecido pelo nome de «Abder-razak Pára-quedisla», terá sido preso no Chade em Maio[1], encontrando-se o GSPC inscrito, tal como os Grupos Islamitas Armados (G1A), na lista norte-americana das organizações terroristas, suspeitas por Washington de manterem ligações com a Al-Qaeda. A referida operação foi uma estreia em África e confirmou a íntima colaboração dos Estados Unidos com a Argélia.
A partir de Janeiro de 2004, foram mobilizados pelo exército norte-americano meios consideráveis para apoiar a luta das tropas locais contra o GSPC. A ajuda foi organizada no quadro do programa de assistência militar Pan-Sahel Initiative (PSI), operacional desde Novembro de 2003, ao qual foram atribuídos 6,5 milhões de dólares para o ano de 2004. Este programa visa ajudar o Mali, o Chade, o Níger e a Mauritânia a combater «o contrabando, os criminosos internacionais e os movimentos terroristas».
Foram assim encaminhados para essa região de África 350 soldados e cerca de 250 toneladas de material diverso, graças a uma ponte aérea que durou duas semanas, a partir da base aérea de Rota, em Espanha. Após terem sido transportadas as tropas e o material, foram postos à disposição desses países meios aéreos de protecção, a partir das bases da Royal Air Force situadas em Mildenhall e Lakenheath, na Grã-Bre-tanha. A protecção da operação mobilizou também elementos do 32° Grupo de Operações Especiais, uma unidade ligada à CIA. Nas semanas que precederam a operação, haviam sido destacados elementos do 10° grupo das Forças Especiais, baseado em Estugarda, para supervisionar a preparação das tropas malianas.
«O P SI é um importante instrumento da guerra contra o terrorismo e já fez muito para reforçar as ligações numa zona que anteriormente em grande medida ignorávamos, em particular entre a Argélia e o Mali, o Níger e o Chade», explicou a 23 de Março o coronel Vic-tor Nelson, responsável deste programa perante o organismo da secretaria de Estado da Defesa encarregado das questões relativas à segurança internacional. «Temos dito, desde há muito tempo, que no caso de a pressão dificultar a acção dos terroristas no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque e noutros sítios, eles hão-de encontrar outras zonas onde operar; as regiões do Sahel e do Magrebe faiem parte dessas zonas»[2].
Em menos de nove meses, da visita do presidente Bush à conferência de Estugarda, foi nitidamente acelerada a mobilização militar norte-americana em África, após uma pausa no período subsequente ao fim da Guerra Fria. Washington tomou consciência da dependência em que se encontra das ma-térias-primas fornecidas pelo continente africano: manganésio (para a produção de aço), cobalto e cromo, indispensáveis para o fabrico de ligas (nomeadamente na aeronáutica), vanádio, ouro, antimónio, flúor, germânio... sem esquecer, obviamente, os diamantes industriais. O Zaire e a Zâmbia possuem 50 por cento das reservas mundiais de cobalto; 98 por cento das reservas mundiais de cromo encontram-se no Zimbabwe e na África do Sul; além disso, neste último país concentram-se 90 por cento das reservas de metais do grupo da platina (platina, paládio, ródio, ruténio, irídio e ósmio). E a sede de petróleo que os Estados Unidos têm no início deste novo milénio irá aumentar a importância de países como Angola ou a Nigéria.
Após o revés da intervenção de Bill Clinton na Somália, iniciada a 9 de Dezembro de 1992 e concluída a 31 de Março de 1994, o então presidente relançou a política africana de Washington. Esse renovado interesse manifestou-se com estrépito, de 15 a 18 de Março de 1999, quando os Estados Unidos foram os anfitriões do primeiro encontro entre os responsáveis de oito organizações regionais africanas, oitenta e três ministros de países africanos e os seus homólogos norte-americanos. Realizado em Washington, o objectivo desse encontro consistiu em «reforçar as parcerias entre os Estados Unidos e África» e «fomentar no século XXI mais desenvolvimento económico, trocas comerciais, investimentos, reformas políticas e um recíproco crescimento económico»[3]. O terrorismo foi então evocado, devido aos atentados de 1998 contra as embaixadas norte-americanas de Nairobi e Dar-es-Salam atribuídos à Al-Qaeda, mas da reunião resultou sobretudo a adopção do Growth and Op-portunity Act (AGOA), alargando o acesso dos produtos africanos ao mercado norte-americano.
Mais discreta foi a aplicação progressiva, a partir de meados da década de 1990, dum sistema muito coerente de assistência militar. Em 1996, Washington lançou a criação de uma Força de Resposta às Crises Africanas (ACRF). Pouco depois, esta foi substituída por uma estrutura chamada Iniciativa de Resposta às Crises Africanas (African Crisis Response Initiative, ACRI)[4]. A missão oficial da ACRI consistia numa preparação com vista à «manutenção da paz» e à «ajuda humanitária», sendo o material fornecido de tipo «não letal». Na realidade, a ACRI destinou-se a modernizar e adaptar às normas norte-americanas as forças armadas locais, nomeadamente perante a emergência do terrorismo em África. E visou também, naturalmente, evitar novos desastres como o da Somália.
Operações clandestinas
Apesar de a ACRI ter sido uma criação da secretaria de Estado norte-americana, quem coordenou os meios militares foi o US-EUCOM, em especial o recurso às Forças Especiais. Empresas privadas especializadas nesse sector, tais como a Logicon, do grupo North-rop-Grumman, ou a Military Profes-sionnal Resources Inc. (MPRI), forneceram apoio logístico (fornecimento de material ou de «pessoal civil especializado»). A MPRI é uma firma privada de consultoria no âmbito da segurança, dirigida, entre outros, por ex-oficiais americanos, e trabalha por conta de governos do mundo inteiro, incluindo no Iraque.
A ACRI alardeou objectivos humanitários, mas o seu coordenador dos programas de preparação era o coronel Nestor Pino-Marina, um antigo oficial que apresenta uma notável folha de serviços; exilado cubano, participou no desembarque falhado da Baía dos Porcos, em 1961; ex-membro das Forças Especiais, participou nas guerras do Vietname e do Laos; na era Reagan fez parte do Inter-American Defense Board, tendo integrado as operações clandestinas contra os sandinistas, ao lado dos Contras da Nicarágua, na década de 1990. Além disso, foi acusado de participar no tráfico de droga para financiar o envio de armas para a América Central...
O programa de treinos da ACRI foi concebido para desenvolver competências militares de base, reforçar formações de combate e aumentar as capacidades dos Estados-Maiores. Tudo isso, intitulado «mini-equipamento, máxima preparação», articulou-se em torno de seis «chaves»: estandardização, interopera-cionalidade, instrução dos instrutores, transparência, apoio, trabalho de equipa. Ficou até previsto alargar as normas de treino a programas levados a cabo por outros países, como a França, o Reino Unido ou a Bélgica, e cooperar com esses países.
De Julho de 1997 a Maio de 2000, a ACRI organizou a formação de batalhões (entre 800 e mil homens) no Senegal, Uganda, Malawi, Mali, Gana, Benim e Costa de Marfim; o Departamento de Estado forneceu a mais de 8 mil homens equipamentos ligeiros (geradores eléctricos, veículos, detectores de minas, material de visão nocturna) e sobretudo instrumentos de comunicação. Nesse programa foram investidos 30 milhões de dólares em 2001 e 2002, ao longo de dois anos.
A ACRI foi o prolongamento de uma série de programas pontuais de assistência militar ou civil prodigalizados pelos Estados Unidos desde o início da década de 1990 e geridos pela secretaria da Defesa. Foi o que aconteceu no Mali (ver caixa).
Em Julho de 2001, do mesmo modo, 400 soldados senegaleses seguiram uma formação, no contexto da ACRI, com vista à «guerra psicológica». Segundo o coronel Nestor Pino-Marina, «foram absorvidas as doutrinas em curso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)»[5]. Foram igualmente organizados seminários político-militares para 65 oficiais, com vista a «prepará-los para as operações de manutenção da paz». O exercício culminou na simulação informática duma situação de crise, graças a comunicações por satélite. O programa Janus, base do exercício, foi concebido pela empresa Logi-con. Tratou-se, mais uma vez, de desenvolver a integração e a operacionalidade com base nas normas em vigor no Pentágono e de instalar a longo prazo equipamentos norte-americanos.
Mas a ACRI é apenas um aspecto da crescente mobilização militar dos Estados Unidos em África. Criado em 1999, o Centro Africano de Estudos Estraté gicos (African Center for Strategic Stu-dies, ACSS) é um ramo da Universidade Nacional da Defesa, do Pentágono, instituição académica que ministra um ensino destinado a pessoal militar de «alto nível», mas também a «líderes» civis (responsáveis políticos ou associativos, dirigentes de empresas, ele.). Os programas tratam das relações entre civis e militares, da segurança nacional, da economia da defesa, etc. Em Maio de 2003, o Mali foi escolhido para acolher um seminário dedicado à luta contra o terrorismo nessa região do mundo, no qual participaram a Argélia, o Chade, o Mali, a Mauritânia, Marrocos, o Níger, a Nigéria e o Senegal, e em que a França e a Alemanha também estiveram representadas.
Depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos aumentaram os seus investimentos militares em África, cujos necessários pretextos foram buscar à «guerra contra o terrorismo». Como afirmou o presidente Bush na sua digressão africana de Julho de 2003, «não deixaremos os terroristas ameaçar os povos africanos nem utilizar a África como base para ameaçarem o mundo»[6].
44 países envolvidos
Foi assim que na Primavera de 2002 a administração Bush transformou («reorganizou», como se diz no Pentágono) a ACRI na ACOTA, ou seja, na African Contingency Operations Training As-sistance. Além da «manutenção da paz e ajuda humanitária», a ACOTA inclui agora o treino ofensivo, nomeadamente por unidades regulares de infantaria e pequenas unidades segundo o modelo das Forças Especiais, bem como a formação em ambiente «hostil», dispondo doravante as forças africanas de material ofensivo estandardizado (espingardas de assalto, metralhadoras, morteiros, etc.). Em Washington já não se fala de armas «não letais», como no tempo da ACRI, insistindo-se numa cooperação «ofensiva»: «As forças mobilizadas no quadro da ACRI nunca se viram numa situação em que a sua segurança tenha sido ameaçada, mas as que o forem no quadro da ACOTA, tendo em conta que vão ser encarregadas de restabelecer a ordem, deverão estar prontas para enfrentar o perigo»[7].
A ACOTA está ligada a centros de formação militar do Joint Combined Arms Training System (JCATS) classificados como «indispensáveis», por permitirem manter o nível de qualificação e preparação militar. O primeiro desses centros foi aberto em Abuja, na Nigéria, em 25 de Novembro de 2003. Os JCATS são geridos pela empresa MPRI e baseiam-se «na utilização de sofisticados programas informáticos de simulação de guerra, inspirados em condições que existem de facto nos campos de batalha. (...) A Nigéria e o Canadá são os dois únicos países que têm programas informáticos JCATS»[8]. Segundo o coronel Victor Nelson, antigo adido militar dos Estados Unidos na Nigéria e responsável da Pan-Sahel Initiative, «é um meio barato de garantirmos a formação de quadros. Mesmo os países com poucos recursos podem ter acesso aos JCATS. Trata-se de juntar pessoas durante uns quinze dias para praticarem exercícios de guerra, coisa que os militares americanos do século XXI já fazem»[9].
Além da ACOTA, 44 países africanos participam num programa específico destinado a oficiais, o International Military Educationa and Training Program (IMET), que em 2002 formou mais de 1500 oficiais. No respeitante aos sete principais países em causa (Botswana, Etiópia, Gana, Quénia, Nigéria, Senegal e África do Sul), o custo total do IMET passou dos 8 milhões de dólares em 2001 para 11 milhões em 2003. Por último, o programa African Regional Peacekeeping Program (ARP) inclui uma preparação relativa às tácticas ofensivas e à transferência de tecnologia militar. De 2001 a 2003, o ARP teve um financiamento avaliado em perto de 100 milhões de dólares.
A estratégia norte-americana em África pode resumir-se em dois pontos fulcrais. Por um lado, o acesso ilimitado aos mercados-chave, às fontes energéticas e outros recursos estratégicos; por outro lado, a securização militar das vias de comunicação, entre outras coisas para permitir o encaminhamento das matérias-primas para os Estados Unidos. «Aquilo que o povo americano reteve da Guerra do Golfo é que é muito mais fácil ir dar uns abanões às populações do Médio Oriente do que fazer sacrifícios para limitar a dependência da América relativamente ao petróleo importado», como já em Setembro de 1992 dizia James Schlesinger, antigo secretário de Estado da Energia do presidente Cárter, no XV Conselho Mundial da Energia.
O que interessa aos Estados Unidos é obviamente o petróleo africano[10]. A 5 de Setembro de 2002, Colin Powell deslocou-se de Joanesburgo, onde participou na Cimeira da Terra, a Luanda e Libreville, ou seja, a dois países (Angola e Gabão) que são produtores de petróleo. Todos os peritos consideram que nos próximos dez anos o continente africano se irá tornar para os Estados Unidos, depois do Médio Oriente, a segunda fonte de petróleo e talvez de gás natural. Pelo menos enquanto esperam que «as coisas acalmem»... No centro do pensamento militar norte-americano há pois duas vias estratégicas: a oeste, o oleoduto Chade-Camarões; a leste, o oleoduto Higleig-Porto Sudão. E fala-se do projecto dum oleoduto que visa ligar o Chade ao Sudão.
Em Julho de 2003, uma tentativa de golpe de Estado em São Tomé e Príncipe, Estado pequeno mas rico em reservas de petróleo e associado à Nigéria, provocou uma rápida intervenção de Washington naquele arquipélago. Menos de três meses depois, as empresas petrolíferas, essencialmente norte-americanas, propuseram mais de 500 milhões de dólares para explorar as águas profundas do Golfo da Guiné, que a Nigéria e São Tomé e Príncipe partilham. Ou seja, o dobro daquilo que os dois países esperavam obter.
Ao mesmo tempo, o exército norte-americano anunciou um programa de ajuda às pequenas forças de segurança locais, estando a ser encarado o estabelecimento duma base militar nessa zona, que o Congresso e a administração Bush declararam formalmente ser «de interesse vital» para os Estados Unidos. De resto, Washington, por intermédio do Departamento de Estado e do Departamento da Defesa, preparou muito bem o terreno; o general Carlton W. Fulford, comandante em chefe do EUCOM, deslocou-se a São Tomé em Outubro de 2002 para estudar a possibilidade de estabelecer um mandato regional na África Ocidental, estando a empresa MPRI a fazer a formação dos guarda-costeiros da Guiné e de Angola.
Concorrência com os antigos colonizadores
No continente negro, com os mais diversos pretextos, os Estados Unidos procuram obter parcerias com todos os países. Afirmando, por exemplo, que o exército sul-africano é incapaz de levar a cabo uma acção de envergadura, com o argumento de que 75 por cento dos seus efectivos estão afectados pela sida, e que Pretória necessitaria dum apoio maciço de Washington para reforçar os seus elementos debilitados. Deste modo, a África do Sul prepara--se para se integrar no programa ACOTA. Curiosamente, nem todos os soldados sul-africanos devem andar doentes, tendo em conta que milhares deles são utilizados no Iraque por empresas privadas como «supletivos civis».
Na realidade, a África do Sul interessa aos Estados Unidos devido à sua posição estratégica. Durante a Guerra Fria, Pretória abriu as suas bases às forças armadas norte-americanas, permitindo que Washington controlasse o Oceano Indico entre África e a base naval de Diego Garcia. Esse dispositivo revelou-se também uma peça essencial na luta contra os movimentos de libertação africanos, suspeitos de estarem enfeudados a Moscovo. De modo que em 2001, o embaixador dos Estados Unidos em Pretória, Cameron Hume, pôde afirmar que os sul-africanos e os norte-americanos «partilhavam um semelhante apego à democracia, à economia de mercado e à busca dum futuro melhor para todos»[11].
Naturalmente, o intervencionismo militar dos Estados Unidos em África vai-se estendendo às zonas de tradicional influência das antigas potências coloniais, como é o caso da França. Essa concorrência é óbvia em Djibuti, um dos países mais pobres do mundo, desértico e sem recursos. Um país em princípio sem interesse - a não ser pela sua posição estratégica. Com efeito, e simultaneamente, o Djibuti tem uma posição avançada na zona marítima por onde transita uma quarta parte da produção mundial de petróleo (sem falar da proximidade geográfica do oleoduto sudanês) e encontra-se situado na faixa estratégica Sahel-Corno de África, que Washington quer «securizar». A França ainda tem em Djibuti a sua principal base militar no estrangeiro, o Campo Lemoine; mas este país já se tornou uma base norte-americana permanente[12].
Comandante de um navio de guerra do EUCOM, o general Charles F. Wald passa muito tempo em África. Em Março passado, só numa semana esteve em onze países: Marrocos, Argélia, Nigéria, Angola, África do Sul, Namíbia, Gabão, São Tomé e Príncipe, Gana, Níger e Tunísia. Numa conferência de imprensa organizada em Washington para os jornalistas africanos, o general Wald, depois de ter sublinhado que os Estados Unidos e a França têm numerosos interesses comuns, comentou: «Há países francófonos que têm ligações antigas e históricas com a França (...). Os franceses poderão vir a ser implicados neste contexto»[13]. Foi uma maneira pouco elegante de dividir tarefas e consolidar a presença política de Washington em África.
· Jornalista. Autor de Un Rocher Bien Occupé, Seuil, Paris, 2001.
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[1] Anunciada pelo Chade a 18 de Maio, esta detenção só foi confirmada pela Alemanha, de fonte chadiana.
[2] Jim Fisher-Thompson, «A iniciativa Pan-Sa-hel fomenta a cooperação entre os países do Sane! e do Magrebe», Serviço de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Washington Files.
[3] «Reunião Ministerial Estados Unidos-África - Uma parceria para o século XXI», em www.usinfo.state.gov/regional/af/usafr/french mn/f rsked.htm.
[4] Ler Philippe Leymarie, «Washington à Ia re-cherche d'espaces vierges en Afrique», Lê
Monde, diplomatique, Março de 1998.
[5] Charles Cobb Jr., «Brigade Level Peacekeeping Exercise Begins», www.aflafrica.com, 10 de Julho de 2001.
[6] ''Serviço de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Washington Files, 16 de Julho de 2003.
[7] Jim Fisher-Thompson, «Os Estados Unidos ajudam a formar militares nigerianos», Washington Files, 3 de Dezembro de 2002.
[8] Jim Fisher-Thompson, op. cit.
[9] Programa de Informação Internacional, Departamento de Estado, Washington, 26 de Março de 2004.
[10] Ler Jean-Chrislophe Servant, «Ofensiva sobre o ouro negro africano», Lê Monde Diplomatique - edição portuguesa, Janeiro de 2003.
[11] Serviço de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Washington Files, 1 de Novembro de 2001.
[12] Ler Philiippe Leymarie, «Djibuti, entre superpotência e superpobreza», Lê Monde Diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2003.
[13] Serviço de Informação do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Washinton Files, 8 de Março de 2004.