"Irá ser um capítulo lamentável na história da imigração canadense se, ao condenado assassino(Aníbal António dos Santos Júnior) do maior defensor dos direitos humanos e liberdades de imprensa(Carlos Cardoso), for concedido o estatuto de asilado no Canadá por ter usado os regulamentos de imigração liberais e humanos de que tanto nos orgulhamos", carta de cidadãos canadianos comprometidos com a verdade enviada ao Conselho de Imigração para Refugiados, solicitando que a audiência do caso do Anibalzinho seja aberta ao público para "in loco" acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.
(Maputo) O jornal canadiano, «The Star», baseado na cidade de Toronto, num artigo assinado pelos jornalistas Michelle Shephard e Nicholas Keung, trás as últimas sobre o famigerado mecânico do Alto-Maé, Aníbal António dos Santos Júnior, vulgarmente conhecido por Anibalzinho ou simplesmente o mecânico do Alto-Maé. De acordo com o «The Star», o Moçambicano condenado, líder de esquadrão de morte, fugiu para Toronto. Neste país, Anibalzinho pediu o estatuto de refugiado, tendo assim disparado a polémica entre os dois países, nomeadmente, Cananá e Moçambique.
Segundo a publicação canadiana, Aníbal dos Santos foi condenado como líder do esquadrão da morte que assassinou o jornalista Carlos Cardoso a 22 de Novembro de 2000 e foi sentenciado a 28 anos de prisão maior. Depois de escapar da prisão dita de alta segurança, onde cumpria a sua sentença em Maputo, Moçambique, Dos Santos viajou para o Canadá em Maio último, acrescentando que foi ele detido no Aeroporto Internacional Pearson e imediatamente levado sob custódia policial.
Os agentes canadianos nunca afirmaram que Dos Santos se encontra detido, mas o seu antigo advogado, confirmou numa entrevista ao «The Star» que, ele de 33 anos de idade, solicitou o pedido de asilo, baseando-se em que, foi erradamente condenado em Moçambique, frisa o «The Star».
Na semana passada, Anibalzinho compareceu numa audiência de detidos à procura de fiança, processo a que tem que se submeter de trinta em trinta dias, enquanto estiver detido na cadeia de máxima Segurança Lindsay, Ontário.
Este pedido de asilo do Anibalzinho revoltou um grupo de canadianos, muitos com ligações e interesses em Moçambique, através da Ajuda Humanitária, que agora lutam para trazer o caso de Dos Santos ao Público.
Os casos de cidadãos que pedem asilos no Canadá, são quase atendidos em privado, alegadamente para proteger os direitos dos solicitantes, mas os pedidos para uma audição aberta, foram concedidos em raras ocasiões, sob alegações de que, caso a audiência seja tornanda pública, a evidência iria pôr em causa a justeza do caso.
Numa carta dirigida ao Conselho de Imigração para Refugiados, solicitando para o caso dos Santos ser aberto, 37 requerentes canadianos escreveram a petição: "irá ser um capítulo lamentável na história da imigração canadense se, ao condenado assassino do maior defensor dos direitos humanos e liberdades de imprensa(Carlos Cardoso), for concedido o estatuto de asilado no Canadá por ter usado os regulamentos de imigração liberais e humanos de que tanto nos orgulhamos".
"A questão é todos nós apoiarmos o processo de refugiados que vêem ao Canadá. E esta situação desvaloriza este orgulho", disse um dos 37 requerentes, Greg Keast, um engenheiro do Toronto que passou 7 anos de voluntariado em Moçambique, acrescentando que "ele é um assassino condenado, num julgamento aberto" e todo o custo tenta tirar vantagem do nossos sistema judicial que é liberal.
Keast considerou os julgamento de 2002 onde dos Santos e 5 outros homens foram condenados na morte do jornalista Carlos Cardoso, como sendo "o julgamento moçambicano do século", frisando que a sua história é seguida de perto lá.
Disseratando sobre o papel do mecânico do Anto-Maé, o «The Star», diz que a sua fuga para o Canadá não é a primeira. Uma vez, o homem, mais conhecido em Moçambique como "Anibalzinho", consegue sair da cadeia, alimentando suspeitas de ligações ao alto poder neste caso.
No dia 1 de Setembro 2002, dois meses antes do seu julgamento do CASO CARDOSO, dos Santos conseguiu fugir, mas foi mais tarde perseguido e apanhado na África do Sul. Condenado à revelia, ele foi recambiado para cumprir a sua pena, pensa da qual, Anibalznho está presentemente a recorrer da sentença proferida pelo Juíz Augusto Paulino.
O «The Star», cita o jornalista anglo-lusófono, Paul Fauvet, co-autor da polémica biografia de Carlos Cardoso, como tendo dito que "as pessoas aqui estão muito zangadas. Zangadas porque pela segunda vez ele foi deixado fugir. Nós queremos saber como é que ele chegou ao Canadá. Quem é
que está ajudá-lo e como é que ele conseguiu o passaporte" .
Sobre a morte do Jornalista Cardoso, o «The Star» observa que há muitas questões sem resposta a este respeito. Algumas destas questões, estão dirigidas aos poderes mais elevados em Moçambique. Quando Cardoso foi morto, ele estava a investigar o desfalque de 14 milhões de dólares americanos no Banco Comercial de Moçambique, provando ligações com o Partido Frelimo no Poder.
E mais, enfatiza o jornal canadiano que, em Junho passado, num julgamento de sete horas que foi transmitido ao vivo em Moçambique, sete pessoas foram condenadas no esquema da fraude bancária. Mas ainda há suspeitas pendentes sobre o possível envolvimento de Nyimpine Chissano, filho do Presidente da República, Joaquim Chissano, acrescentando que em ambos esquemas de fraude bancária e no assassinato do Carlos Cardoso a investigação continua, e que Dos Santos, pode ser uma testemunha chave, implicando o filho do Presidente.
Munyonzwe Hamalengwa, um advogado da Emigração que por duas vezes representou Anibalzinho nas audições de detenção este verão, confirmou que "o seu antigo cliente solicitou um pedido de asilo no Canadá, baseado em que ele, estaria a enfrentar uma perseguição pelo Governo moçambicano. É um mistério. Como é que alguém consegue
escapar numa prisão de máxima segurança por duas vezes; e de qualquer maneira, consegue deixar o país com o passaporte válido, sem ser questionado por quaisquer autoridades", e em jeito de desabafo, "você não escapa de uma prisão dessas assim".
O Advogado Hamalengwa disse que Dos Santos tinha passaportes válidos de Moçambique e Portugal quando foi capturado em Pearson em Maio passado, mas não é conhecido se ele tem ou não a dupla nacionalidade.
Hamalengwa chamou Anibalzinho de um soldado de baixo nível no complôt do assasinato, acrescentando que fazendo-o regresssar a Moçambique iria pôr a sua vida em perigo, escrve a publicação «The Star».
Não há nenhum Acordo Oficial de Extradição assinado entre Canadá e Moçambique, mas António Rodrigues, Primeiro Secretário da Embaixada moçambicana em Washington, é citado no jornal como tendo dito semana passada que o seu Governo submeteu um pedido para a extradição de Dos Santos através de canais canadianos apropriados.
Anibalznho não respondeu a um pedido para uma entrevista em custódia.
Por outro lado, a viúva de Carlos Cardoso, a advogada Nina Berg, é citada a dizer ser uma triste ironia que Dos Santos esteja a solicitar o asilo no Canadá, depois de ela e o seu marido terem dedicado tanto das suas carreiras as solicitações dos refugiados em Moçambique.
"Para mim, e para a família, a coisa mais importante é que ele cumpra a sua pena por aquilo que ele fez. Eu penso que não há nenhuma dúvida que ele fez parte do assassinato... ele organizou o esquadrão que matou Carlos Carlos ", disse Nina Berg numa entrevista telefónica a partir de Moçambique.
De acordo com a viúva do jornalista Carlos Cardoso, "irá surpreender-me se o Canadá lhe conceder o estatuto de asilado. Se eles o fizerem, eu penso que será absolutamente chocante. Ele foi sentenciado pelo pior tipo de assassinato, sendo contratado para matar alguém".
Nina Berg descreveu Carlos Cardoso como um homem incansável e combatente em defesa dos pobres, e a sua morte, deixou um espaço vazio no jornalismo investigativo em Moçambique. (Tradução não oficial)
VERTICAL - 29.09.2004
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