Escritor nigeriano Wole Soyinka completa 70 anos
Wole Soynka, o primeiro africano a receber em 1986 o Prémio Nobel da literatura, completou 70 anos no dia 13 de Julho. Desde a sua juventude chamaram-lhe o "eterno rebelde"; ele próprio preferia classificar-se de "lutador pragmático". Mas por vezes chamava a si próprio "o ausente, porque nunca tinha tempo para a minha família, uma vez que andava sempre dum lado para o outro por causa dos meus compromissos internacionais. A minha mulher disse-me: tu não és um pai, és uma visita".
Este nigeriano, que é considerado um dos maiores escritores da África, sempre lutou contra a ditadura e o abuso do poder. O preço que pagou por isso foi elevado: perseguição, prisã e exílio. Ultimamente tem trabalhado nos EUA como professor de literatura comparada na Universidade de Emeroy em Atlanta. Mas agora quer voltar à pátria.
O regresso foi anunciado já há alguns meses. Quando veio à Alemanha, mais exactamente a Düsseldorf, para assistir à encenação de "O rei Baabu", uma peça de teatro da sua autoria, contou aos jornalistas que estava a encarar a hipótese de assumir na Nigéria um cargo político regional "para assim concretizar a sua visão duma sociedade melhor". Ele acha que não existe um muro entre os ideiais filosóficos e a acticvidade política. E a sua biografia é a prova disso: ele não foi só professor, jornalista e actor de teatro, mas também já teve um cargo político.
Wole Soynka é um home que intervém, que não se limita a assistir. Nas suas peças de teatro, romances, ensaios e livros de poesia ele tomou posição sobre a história e os problemas da sua pátria. Desde que recebeu o Nobel, considera-se como um moralista com ambições políticas. Corajosamente escreveu contra o fundamentalismo, a exploração, a superstição, o abuso do poder, intolerância, corrupção , o terrorismo e a ijustiça social.
Esse esforço e essa coragem foram internacionalmente reconhecidos: ele recebeu títulos de doutor honoris causa de dezenas de universidades.
Soyinka escreveu recentemente que a unidade dum país não pode continuar a ser vista como uma coisa intocável e não-negociável. Poderá manter-se tal posição frente ao que se passa na República democrática do Congo e talvez também em breve na Nigéria? "Sempre defendi essa posição, desde que os países africanos começaram a tornar-se independentes e desde que a Organização de Unidade africana foi fundada. O que não pode ser resolvido por palavras, acaba por ser resolvido pela espada".
Soyinka pertence ao velho povo dos Yoruba, no sul da Nigéria. Durante muito tempo o seu país foi sinónimo de caos e corrupção desenfreada e violência. Mas hoje em dia é um dos líderes que exigem uma profunda renovação do continente. E esse é um motivo de esperança para Soyinka. Por causa das suas posições acerca do conflito na região do Biafra, ele passou 22 meses na prisão.
DEUTSCH WELLE - 03.09.2004