ÁFRICA - A desilusão dos africanos em relação ao "Eldorado" europeu,
em artigo da Agência católica congolesa DIA
Roma (Agência Fides)- No Ocidente fala-se muito da questão dos
imigrantes dos países mais pobres. O imigrado é visto muitas vezes
como um problema de ordem pública e social e coloca-se em segundo
plano sua contribuição para a economia dos países acolhedores. Menos
ainda se fala das aspirações dos imigrantes e das motivações que
levam milhões de seres humanos a procurar uma vida melhor em "uma
terra prometida", que normalmente não se revela tal.
O que dizer, depois, da informação sobre as terras de origem dos
imigrados? Parece que não existe uma especial atenção da grande mídia
sobre este ponto, especialmente em relação à África, tão perto da
rica Europa e tão distante das mentes e dos corações dos cidadãos do
Velho Continente.
Assim, parece oportuno retomar um artigo publicado pela Agência
católica congolesa DIA, que descreve as perspectivas de quem da
África parte ou pretende partir para a Europa. Um artigo que trata
finalmente do lado humano, muitas vezes esquecido, da emigração e da
qual emerge a desilusão dos africanos em relação ao "Eldorado
europeu".
"Para os imigrantes que tentam entrar ilegalmente na Europa, o Velho
Continente representa um Eldorado. Entre aqueles que procuram
dissuadir os potenciais emigrantes, está Pe. Jacques Bakwem, jesuíta,
que morou quatro anos na França por motivos de estudo. Pe. Bakwem
dirige agora um centro de acolhimento para meninos de rua em
Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo (RDC), e
segundo a DIA, "ele desencoraja a emigração na França porque viu o
sofrimento dos imigrantes congoleses".
No artigo, recorda-se que muitos africanos na Europa são explorados
por patrões sem escrúpulos, ou entram no circuito da prostituição e
do tráfico de drogas. Quem quer emigrar clandestinamente, deve
enfrentar uma perigosa viagem, para a qual se paga um valor muito
alto, através dos países da África do norte, para depois desafiar a
viagem em "balsas" no mar Mediterrâneo.
A decisão de deixar o próprio país e iniciar uma nova vida em outro
lugar põe dilacerantes questões no interior das famílias. A DIA
relata o caso de uma jovem radióloga do hospital de Kinshasa, que
diante de um salário de somente 20 dólares por mês, tinha a intenção
de emigrar. O marido, que trabalha em uma empresa pública, não quer,
porém, deixar o país. Prefere lutar para reconstruir a República
Democrática do Congo, arrasada após cinco anos de guerra, a sofrer em
um país estrangeiro.
Não será o caso, talvez, de ajudar pessoas como esta a melhorar as
condições de vida do próprio país, ao invés de criar barreiras e
muros que servirão, aos poucos, para acabar com a imigração
clandestina? (L.M.) (Agência Fides 5/7/2004)