Publicado em Moçambique no jornal Correio da Manhã na terça 21 .09.04
Coluna TRIBUNA por João Craveirinha
E na Quarta 22 Setembro 04… no vertical - vt
Coluna DIALOGANDO
por João CRAVEIRINHA
1ª Parte
JOSÉ CRAVEIRINHA – POEMAS DA PRISÃO
ACHEGA A FÁTIMA MENDONÇA(1/2)
Redde Caesari Quae Sunt Caesaris Et Quae Sunt Dei DEO (Mateus, XXII, 21)
AD… REM (À coisa – Ao assunto em causa responder com precisão)
Caro pai pequeno tiZé Poeta da família de desportistas, escribas e pintores.
Antes de mais desculpa-me e aos leitores também pelos latinismos “carregados” no texto de hoje. Mas a César o que é de César e a Deus o que Lhe pertence.
Pois é, depois de um hiato eis – me de novo a Dialogar contigo meu tio-pai pequeno – baba medógo. O assunto em epígrafe tem a ver com alguns dados inseridos no teu / nosso livro que sabes muito bem o quanto não poderia ficar silencioso pois por várias vezes falamos desse assunto e te dei AD… REM sobre o “outro lado” dos eventos em relação ao teu “exílio” fugaz na Suazilândia. Já sei que não tens paciência em ouvir rodeios ou floreados na linguagem mas perdoa, aprendi contigo.
Sem crise. Se faz favor, ouve então o que escrevi em achega ao trabalho exaustivo da nossa incansável Fátima. Vou então directo ao assunto – Ad…Rem –, página 11, L. 8 do livro Poemas da Prisão: - …”Tu não fazes ideia das coisas que eu tive de aceitar que logicamente a malta descarregou sobre mim por eu estar ausente”…É uma mensagem a ti atribuída e dirigida ao Luís Bernardo Honwana referente ao período de Dezembro 1964 a Janeiro 1965.
De facto o falecido poeta Rui Nogar, herói de nosso tempo e único fugitivo da Cadeia Central da PIDE, confirmou este dado ao cronista desta coluna. Apesar destes elementos o teu advogado e amigo me confidenciaria que “o seu tio estava cheio de medo” (1996). Mais adiante no livro dos Poemas da Prisão –, (L. 19) existem várias incorrecções: …” sobre a possibilidade de Marcelino dos Santos ter estado preparado para o ir retirar da Suazilândia, num avião Dakota, revelação que, parece tê-lo impressionado pela frequência com que nas cartas a ela se refere”… (Eu sei que no fundo nunca acreditaste nisso). Só quem não faz a mínima ideia de como a FRELIMO funcionava poderia ingenuamente acreditar. Nunca a direcção de uma organização de guerrilha autorizaria a um dos seus chefes, secretário-geral ou de relações exteriores –, e muito menos a um não operacional militar como Marcelino dos Santos –, a expor-se a ser capturado numa zona de alto risco em missão de resgate a um elemento fosse ele quem fosse. Segundo afirmações ao autor deste texto, de dirigentes da luta entre eles o Dr. Eduardo Mondlane, Julho 1967, “Lussaca”, Zâmbia –, a FRELIMO, estudava a hipótese de um avião fretado ir à Suazilândia via Tanzânia (1964/65), através do apoio da A.I. – Amnistia Internacional (Londres), e no maior anonimato possível. O nome sonante, do Poeta José Craveirinha, na Literatura Internacional sensibilizara a A.I. (O avião [depois de Tanzânia, Zâmbia], teria de atravessar a Rodésia e a África do Sul aliados de Portugal). Na Suazilândia, não só resgatariam José Craveirinha como refugiado, mas também o resto dos exilados entre os quais, Armando Guebuza e Aurélio Manave. Era esse o plano. Mas a impaciência e precipitação de José Craveirinha fez o plano do avião ser abandonado. Os seus camaradas que ficaram, enfrentando inúmeras dificuldades lograram chegar a Tanzânia, via terrestre. José Craveirinha (JC) eventualmente não teria chance em viajar por terra. Seria detectado e capturado. Além de mestiço era por demais conhecido pelas Polícias políticas da África do Sul e Rodésia, colaboradoras, da PIDE portuguesa, na “santa aliança” da hegemonia euro – branca em África. Para alcançar a Zâmbia, J.C., teria sempre de atravessar a África do Sul e a Rodésia terras de “apartheides” –, um mulato no meio de negros daria nas vistas.
Além de José Craveirinha, um ou outro elemento “regressou” sendo presos à chegada a Moçambique. Eram tempos sem visão política da linha dura da Segurança interna colonial portuguesa. (CONTINUA na próxima semana 29 Set.) …Interrupção nesta sexta – feira 24 Set. – devido ao Tema do DIALOGANDO – A Propósito de Chai e o 25 de Setembro 1964 ou… Onda de Ressentimento Colonial?
2ª parte…
Publicado no Jornal Correio da Manhã, Cm, 28 .09.04 terça
Jornal vertical 29 Setembro 04 quarta, censura o texto e não o publica por pressões externas alegando repetição do Cm apesar de o Vt haver feito na semana anterior e não ser a primeira vez… publicar ex aequo …
Cm 28 .09.04 terça
TRIBUNA
por João CRAVEIRINHA
[email protected]
POEMAS DA PRISÃO – JOSÉ CRAVEIRINHA
ACHEGA A FÁTIMA MENDONÇA (2/2)
Redde Caesari Quae Sunt Caesaris
Et Quae Sunt Dei DEO (Mateus, XXII, 21)
AD REM (À coisa – Ao assunto em causa responder com precisão)
Caro baba medógo – pai pequeno tiZé poeta da família de desportistas, escribas e pintores…
…Continuando da edição anterior da minha coluna…para terminar ouve então por favor o que escrevi em achega ao trabalho exaustivo da nossa incansável Fátima na arrumação de teus poemas.
Vou então directo ao assunto – Ad Rem –, Mais adiante no livro Poemas da Prisão – L. 23 (segundo compilação de Fátima Mendonça) –, (José Craveirinha) …”Tendo regressado da Suazilândia por pressão de João Craveirinha (sénior), seu irmão, e sido imediatamente detido depois de o Eng. Homero Branco, director do jornal A Voz de Moçambique, de que Craveirinha era colaborador, ter acreditado nas garantias da PIDE de que o poeta não seria preso se regressasse, [segundo informação do Dr. Adrião Rodrigues] ” (seu advogado) …. Vamos por partes: - Nunca, jamais, o irmão mais velho do poeta – JOÃO CRAVEIRINHA – ou qualquer outro membro familiar o pressionaria para se entregar – não se tratava de um simples regresso mas de pactuar com a PIDE…O irmão JOÃO, funcionário superior da Fazenda (Finanças) e especialista em Contribuição e Impostos, RECEBE da Suazilândia, UM TELEGRAMA DESESPERADO do irmão poeta – JOSÉ … para este contactar o governo colonial pois queria voltar – estava num beco sem saída, cansado e arrependido do passo que dera. Obviamente a PIDE interceptou o telegrama antes de chegar às mãos do irmão. Mais uma vez, João Craveirinha, vai em socorro do irmão e “cede à sua pressão” (do irmão José). Com o telegrama deste contacta as autoridades portuguesas do Governo-geral e é encaminhado à PIDE que promete mundos e fundos – é essa a função de qualquer Polícia para capturar dissidentes. A PIDE destaca o seu agente Valy Mamede (misto maometano) e viatura Volkswagen acompanhando a comitiva familiar para “o trazer de volta” a seu pedido (Janeiro / Fevereiro 1965). José Craveirinha não era uma criança para ser pressionado, aliás, se houve pressão foi da parte da esposa Maria (Grande Mãe Coragem), para o marido não se entregar, não “regressar”. Segundo confidências tio – sobrinho …na realidade para além da …” paz de cadáver”…não lhe satisfazer sendo ele “um homem de movimento”… a desmotivação começa com… “a desorganização que encontrou no seio dos “fugitivos” e a falta mínima de condições (!?) na Suazilândia –”. Outra razão seria por ter a cabeça a “prémio” pela PIDE e a preocupação pelos filhos e mulher que deixara desamparados. Muita pressão junta. O Comissário inglês da Polícia em Mbabane (Suazilândia), não lhe promete segurança mas alerta para a possibilidade de rapto por três fulanos vindos da África do Sul – dois (brancos) portugueses e um chinês num Volkswagen. De facto uma situação “rocambolesca” desde o princípio. Quem o transporta para a Suazilândia (Dezembro 1964), é o agente da PIDE – Floreano (mestiço), acompanhando até à fronteira da Namaacha e recolhendo-o após a travessia do poeta debaixo do arame farpado num sítio previamente estudado. Anos mais tarde soube-se que a PIDE tinha tudo planeado. Da Suazilândia com saudades da família o poeta regressa de novo a Lourenço Marques com o auxílio de Floreano. No mesmo dia regressa à Suazilândia (fim do ano 1964). Por descoordenação das forças de segurança da PIDE e da Polícia Militar, alertada com “ordem para matar”, José Craveirinha escapa abraçado à sua pasta (negra), contendo poemas. Entra na Suazilândia pela 2ª segunda vez. O plano era para o abater na fronteira da Namaacha com a Suazilândia. Em Junho/Julho 1972, estes relatos seriam confirmados na vila Algarve, sede da PIDE – DGS, pelo inspector Álvaro da Costa Fernandes, responsável da contra subversão “terrorista” em Moçambique. Era director – geral António Vaz mais tarde reformado em Oeiras – Portugal.
Segundo ainda a PIDE com a prisão e condenação do poeta José Craveirinha em 1965, a linha dura portuguesa civil e militar tinha de facto… “transformado erradamente, o poeta em vítima e herói”…(citação). Aspecto que a PIDE corrigiria no “regresso” de Quénia, do sobrinho João, em Junho de 1972. Debaixo de residência fixa por um mês na casa dos pais no Bairro da Coop, sem prisão ou julgamento seria “reabilitado” na sociedade colonial. Mas isso é outra história. (FIM)