No Zimbábué
A crise política, económica e social que afecta o Zimbabwe, está a levar a população à prática de actos de desespero, procurando refúgio em seitas religiosas e no suicídio, alerta uma reportagem quarta-feira
divulgada no “site” da BBCNews.
Segundo dados recolhidos pelo jornalista Michael Hartnack, que assina o texto, 90 por cento dos 11,8 milhões de habitantes do país vivem com menos de um dólar por dia, enquanto os economistas apontam para uma inflação de 600 por cento e uma taxa de desemprego na ordem dos 200 por cento. Números divulgados recentemente referem que mais de dois milhões de habitantes emigraram para a África do
Sul, nomeadamente pessoas com habilitações literárias e da classe média. Por seu turno, o Conselho Nacional para o Bem-Estar das Crianças estima que pelo menos cinco mil crianças vivem nas ruas de
Harare, capital do Zimbabué, enquanto a prostituição floresce com as mulheres a venderem o corpo por 14 cêntimos de um dólar, o preço do depósito de uma garrafa de refrigerante.
Em desespero, muitas pessoas estão a refugiar-se nas seitas religiosas como a Vapostori (Apóstolos), uma seita que mistura o cristianismo com a veneração dos antepassados.
A organização Samaritanos de Harare referiu, por seu lado, que muitas pessoas, incapazes de lidar com a situação de miséria em que vivem, optam por se suicidar.
«Nas áreas rurais as mulheres enforcam-se ou imolam-se juntamente com os filhos depois de se regarem com parafina», disse um consultor da Samaritanos de Harare, acrescentando que nas cidades é mais comum as pessoas matarem-se com veneno.
A situação no Zimbabwe agravou-se a partir de 2000, com a entrada em vigor da polémica lei de reforma agrária que levou o governo a confiscar as propriedades agrícolas aos agricultores brancos para as redistribuir por antigos combatentes da independência e membros do partido no poder.
O controverso programa, aliado à falta de chuvas, destruiu a produção agrícola do país afectando drasticamente a economia.
Actualmente, o Zimbabué carece de alimentos, combustíveis e de uma moeda forte.
Segundo as Nações Unidas, este ano o país só vai produzir metade dos alimentos que precisa.
IN LUSA -IMPARCIAL - 01.10.2004