O presidente da República, Joaquim Chissano iniciou ontem um périplo pelo país para se despedir do povo uma vez que vai definitivamente largar o poder daqui a cerca de dois meses, quando se realizarem as terceiras eleições gerais no país.
De acordo com o programa oficial divulgado, Joaquim Chissano deverá passar apenas 24 horas em cada província numa movimentação que o levará a visitar sucessivamente Cabo Delgado até Maputo-Cidade. Atendendo o longíquo período que permaneceu como presidente da República, desde 1986, parece legítimo que o PR se curve perante este povo que há cerca de 30 anos vem sendo “pastado” pela Frelimo, partido ainda dominado por Chissano.
Se durante este tempo todo que o chefe de Estado permaneceu no poder , tornou-se “carismático” ou famoso como se propala por aí, não se percebe por que motivos o país numa situação de fragilidade
em quase todos os sentidos (económico, social e político) seja forçado a parar com tolerâncias de ponto para acompanhar a despedida de alguém que nem sequer foi capaz de convencer sobre as razões
que o levam a abandonar o poder.
É sabido que legalmente poderia concorrer para mais um mandato presidencial, mas não o fará mesmo tendo a consciência que o partido que dirige vai “derrapando” em termos de imagem perante um povo inquieto com cenários tristes que marcam o quotidiano dos moçambicanos condenados nesta época “Chissanista”, a viver sem segurança e a pactuar com um regime corrupto, e que provavelmente
terá nestes derradeiros anos beneficiado uma punhado de (Cont. da pág. 2)indivíduos acorrentados
à Frelimo. Esperamos que este périplo não sirva de pretexto para relançar a campanha do “arriscado” candidato do partido do “tambor e da maçaroca”, Armando Guebuza que aos poucos vai assumindo ilegalmente as funções de chefe de Estado sem que para tal tenha passado por um processo de votação
como mandam as regras de um verdadeiro Estado democrático.
Se há que realmente premiar Joaquim Chissano por seu desempenho nestes 18 anos em que se manteve na liderança do país, não seria exagero afirmar que soube com muita “pinta” dividir os moçambicanos de acordo com as suas conveniências políticas e colocar os interesses do partido Frelimo acima do povo moçambicano. São vários exemplos que ilustram essas tendências de Joaquim Chissano que gabando-se de ter governado um país democrático nem sequer foi capaz de mexer uma única palha no seu executivo perante os sucessivos escândalos que abalaram o país nestes últimos anos e, para citar
alguns aponta-se o massacre de Montepuez, assassinato do jornalista Carlos Cardoso, do antigo PCA do Banco Austral, Siba Siba Macuácuà e de vários outros moçambicanos anónimos, para não falar dos desfalques bancários que terão contribuido para deixar o país na banca rota. O presidente da República vai se despedindo sim senhor como um bom “Maria” que de forma impecável soube implementar a sua
política que se tornou famosa neste Moçambique onde «o cabrito come onde está amarrado ». Que os “cabritos amarrados” à Frelimo engordem cada vez mais na época reformista do presidente que se prepara para arrumar as malas e voltar a casa.
Mesmo com os pecados que carrega aos ombros, diga-se de passagem que Joaquim Chissano teve algum mérito por aceitar sentar-se à mesma mesa com os chamados “bandidos armados” e assinar o Acordo Geral de Paz que pós fim à guerra civil de 16 anos opondo o Governo moçambicano e a Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO, que hoje representa a maior e principal força da Oposição
política em Moçambique.
JOSÉ CHITULA
IMPARCIAL - 28.09.2004