Em Moçambique, está a ser rodeada de forte controvérsia a exoneração do director do Gabinete de Imprensa da única universidade pública do País. O facto deve-se à decisão de afastar Eduardo Namburete, apenas algumas semanas depois deste ter publicamente anunciado que iria chefiar o Gabinete Eleitoral da Renamo, o maior partido da oposição.
Para a presidente da Liga dos Direitos Humanos, trata-se de um atentado à liberdade de associação e opção que não deve ser tolerado.
Eleutério Fenita tem os pormenores a partir de Maputo:
Fenita: Eduardo Namuburete surpreendou o país ao confirmar o anúncio do maior partido da oposição segundo o qual ele seria o homem forte do seu Gabinete Eleitoral tendo em vista o pleito de 1 e 2 de Dezembro deste ano.
Uma supresa que se deveu fundamentalmente ao facto de se tratar de uma figura afecta a um círculo académico, neste caso até aqui conotado de forma directa ou indirecta com o partido no poder; e agravada quando poucos dias
depois um pequeno grupo de outros académicos ligados à mesma instituição de ensino superior, manifestou publicamente a sua ligação à Renamo.
Volvidas algumas semanas, eis que surgem notícias, agora dando conta da exoneração de Eduardo Namburete do cargo de director do Gabinete de Imprensa da Universidade Eduardo Mondlane. O visado, que se mantem, entretanto, como director da Faculdade de Ciências de Comunicações, confirmou o facto à BBC, mas declinou tecer quaisquer comentários em torno do mesmo.
Quem não hesitou em fazer alguns comentários, indicando recear que a decisão esteja relacionada com pressões de cariz politico, foi a presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota:
Mabota: A destituição do Dr Namburete vem confirmar mais uma vez aquilo que os partidos vêm dizendo e mostrar ao mundo que em Moçambique se voçê não
pertencer ao partido no poder, voçê não pode assumir qualquer cargo, que eles não te aceitam, voçê não pode ter emprego, não pode ter direito a emprego - tudo o que está plasmado na Constituição.
Fenita: A presidente da Liga dos Direitos Humanos refere-se ainda à leitura dando conta de que a decisão teria possivelmente sido motivada por uma alegada incompatibilidade entre as funções profissionais e as novas responsabilidades partidárias de Eduardo Namburete.
Mabota: Os cargos de Estado não devem ser partidarizados. Devem ser tecnicizados.
Fenita: Muito embora não tenhamos conseguido obter a reacção do partido no poder, sabe-se que a Frelimo rejeita total e absolutamente quaisquer sugestões de que tenha exercido pressões em relação a este ou a qualquer outro caso.
[BBC - Serviço de Língua Portuguesa 04h30 TMG 2 Setembro de 2004]