Olhando de frente
Charles Baptista
Sérgio Vieira, deputado da Assembleia da República pela bancada da FRELIMO, círculo de Tete, acaba de ser “humilhado” ao desconseguir ser escolhido para mais um mandato para ter a possibilidade de continuar a insultar e escarnecer a Oposição a partir do Parlamento. Dentro dos próximos cinco anos, já não poderá insultar ou lançar piadas a partir da Assembleia da República. Sérgio Vieira esqueceu-se que deveria dedicar mais tempo ao GPZ e não andar a levantar tumultos e confusões porque Moçambique pertence ao seu povo e não a um partido ou a um punhado de iluminarias.
Os seus camaradas preteriram-no por não terem visto nenhuma relevância nos seus préstimos como
parlamentar. Havíamos ficado deveras satisfeitos quando Sérgio Vieira anunciou que renunciaria ao seu
mandato para se dedicar mais ao desenvolvimento do Vale do Zambeze. Foi um mero exercício de propaganda, continuou no Maputo a curtir as noites de luzes, a refrescar-se da brisa marítima das barreiras da Costa do Sol, onde se alojam, preguiçosamente, os novos ricos-elites político-económicas, um paraíso.
O povo não gostou e agora exige contas, negando-lhe mais um mandato.
A não eleição de alguns dinossauros pelas bases dos seus partidos era previsível, caso se abrisse uma
oportunidade para os militantes expressarem as suas frustrações em relação as políticas falhadas. Os políticos perdem muito tempo em Maputo, a passear, a consumir whiskies envelhecidos, longe do povo que dizem representar. Muitos dos “representantes do povo” são desconhecidos mesmo nos bairros onde
moram, não conhecem a realidade dos seus círculos eleitorais. O povo não deve continuar a ser burlado
por indivíduos que só querem resolver os seus problemas estomacais.
Sérgio Vieira perdeu uma oportunidade de continuar a demonstrar que ainda podia fazer melhor. Agora,
todos sabem que Sérgio Vieira foi chumbado pelos seus camaradas por terem nele perdido confiança.
Sérgio Vieira sempre se julgou ser o depositário da verdade última. Esqueceu-se que a humildade tem
sido o forte dos intelectuais, quis ser um vendaval.
Doravante, tudo que disser como vontade do povo será objecto de desconfiança. Uma voz arrogante e
soberba acaba de sair do nobre ringue parlamentar e nos próximos cinco anos não enxovalhará os “bandidos”.
A não-eleição de Sérgio Vieira e de outros políticos de visibilidade reconhecida, nomeadamente, Leonardo Simão, Castigo Langa, Aurélio Zilhão, Orlando Candua e dos demais nomes sonantes, é um sério aviso de que não basta saber falar bem nos fóruns internacionais, manter uma coluna nos jornais e proclamar bandidos a uns como forma de tentar justificar a incompetência de alguns governantes. O povo quer mudanças sérias, profundas. Para alcançar a sua felicidade, o povo está pronto a descartar-se de políticos e governantes mentirosos. Numa eleição livre e transparente, muitos dos actuais parlamentares, de ambas as bancadas, perderiam os seus lugares.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 30.09.2004