ACUSA CHEFE DA CAMPANHA ELEITORAL DA “PERDIZ”
O Director do Gabinete Eleitoral da Renamo-União Eleitoral, Eduardo Namburete insurgiu-se contra o trabalho que nos últimos tempos tem sido desenvolvido pela televisão pública moçambicana que no
seu entender privilegia apenas o candidato do partido no poder.
Namburete sustenta que, a TVM que é controlada pelo Estado, trata «uns como filhos e outros como enteados», numa clara alusão a descriminação a que estão sendo alvo os candidatos da Oposição naquele órgão de comunicação público.
Nesta parte final da entrevista que concedeu ao IMPARCIAL, o chefe de campanha da “perdiz” considera que o candidato do partido no poder Armando Guebuza, é pouco conhecido e tem um passado não dignificante, sendo por isso que não constitui grande ameaça a Afonso Dhlakama nas eleições que se avizinham.
P: De certeza acompanhou a sondagem recentemente divulgada pelo ISPU, qual é o comentário que faz?
R: Olha é um pouco difícil comentar o trabalho dos outros, particularmente quando se trata de pesquisas de opinião ou sondagem, como quisermos chamar, porque as pesquisas valem o que valem, depende muito dos objectivos que foram traçados; para esta pesquisa em particular, não tenho muita informação
que possa dar subsídios ao meu comentário ou análise; a única coisa que sei são os números que o ISPU
apresentou, mas para fazer uma análise bem formulada, é preciso conhecer em que circunstâncias o estudo foi feito, quem são as pessoas que foram fazer a pesquisa, qual é a formação dessas pessoas que
dirigiram esta pesquisa, como é que escolheram os locais onde foram feitas as pesquisas, e como é que as pessoas que respondiam ao inquérito eram escolhidas e tudo isso, para podermos chegar então à conclusão de se, de facto, este estudo é fiável ou não é fiável.
Penso que são informações necessárias para se fazer um julgamento, uma análise profunda sobre o estudo. Mas olhando muito por alto, fazendo uma análise comparativa, um estudo dessa natureza que
poderíamos considerar de estudo de tendência a longo prazo; olhando o percurso dos últimos processos eleitorais, tenho muitas dificuldades em considerar este estudo como sério; é um estudo que mostra resultados completamente deslocados de tudo o que tem sido pesquisa que se faz neste país, portanto esse deve ser o primeiro estudo desde que começou o processo eleitoral e que trás números dessa natureza, mas para uma análise científica eu precisaria de ter mais informações sobre este estudo do
ISPU.
P:O que a Renamo pensa do recenseamento eleitoral noestrangeiro?
R: Olha, nós temos sido acusados de sermos maus interpretadores da lei, em outras palavras, tentam nos chamar de ignorantes. Nós fomos os primeiros a alertar aos órgãos eleitorais, quando foi do recenseamento dentro do país.
Chamámos a atenção que os passos que estavam a ser dados, não iriam produzir os efeitos desejados; disseram-nos que não eramos competentes para dar aquele tipo de conselhos, e o resultado foi o que foi visto. Agora com o recenseamento no estrangeiro, nós alertámos, também, aos órgãos eleitorais para que as coisas fossem feitas dentro dos passos que são necessários para se chegar à conclusão se existem ou não condições para que esse processo fosse levado avante; os órgãos eleitorais recusaram o
nosso comentário e avançou-se para o terreno. Chegados ao terreno, perceberam que não havia condições de se fazer o recenseamento no exterior nos moldes em que queriam; como se não bastasse,
expandiram o raio de acção das embaixadas nesses locais, que a nosso ver é uma transgressão da soberania desses países onde o processo está a ser desenvolvido.
Moçambique tem soberania dentro do quintal da embaixada ou do consulado, mas o que está a acontecer hoje, é que os órgãos eleitorais, estão a fazer o recenseamento fora dos quintais das embaixadas contrariando inclusive a própria lei eleitoral que diz que o recenseamento no exterior deve ocorrer nas embaixadas, quer dizer que é naquelas 4 linhas que cercam as embaixadas. Há poucos dias,
o porta-voz da CNE, apareceu a dizer que as pessoas da Renamo têm dificuldades de interpretar as leis, porque a jurisdição de uma embaixada é como se fosse a jurisdição do Tribunal de Sofala, ele fez esta comparação dizendo que a jurisdição do Tribunal de Sofala é de toda a província de Sofala, o que quer dizer que a jurisdição da Embaixada de Moçambique em Joanesburgo, seria de toda a cidade de Joanesburgo.
Está errado. Nós temos aqui no país várias embaixadas, como é o caso da Embaixada dos EUA ou da Noruega. Eles não tem jurisdição de outro lado da estrada das embaixadas, a jurisdição deles é só nas
4 linhas onde eles funcionam.
Mas o nosso jurista, o porta-voz da CNE diz que nós é que somos malucos, que somos ignorantes e que eles é que sabem, por isso é que estão a fazer o recenseamento fora das embaixadas contrariando tudo o que são leis, quer a nossa lei eleitoral e eu acho também o espírito de soberania de outros países. Os números que estamos a receber estão a provar claramente que o recenseamento no exterior está
sendo um fracasso. Estimava-se o número de 300 mil, mas por aquilo que estamos a ouvir se calhar nem metade desse número se vai recensear no exterior.
A minha avaliação desse processo é que mais uma vez a teimosia dos órgãos eleitorais está sendo posta a nú.
Acesso desigualaos órgãos de informação
P: Nas condições em que está o país, acha que haverá possibilidade de realização de eleições livres e justas?
R: Até agora não temos grandes problemas nas eleições. Algo tem acontecido que é o problema do acesso desigual aos órgãos de comunicação do Estado. Isto por si já coloca uma desvantagem para os
partidos da Oposição. O que nós sabemos e nos apercebemos é que a televisão pública principalmente, ela privilegia apenas o candidato do partido no poder, os outros da Oposição têm muito pouco espaço nos órgãos públicos.
Isto para uma democracia é muito mau. É preciso que as pessoas entrem no jogo em pé de igualdade; neste caso o Estado trata uns como filhos e outros como enteados. Estou a falar concretamente da nossa
televisão pública(TVM) em termos do processo em si, de votação e essas coisas todas, se não ocorrerem de novo os episódios que aconteceram durante o recenseamento: espancamentos, as ameaças, as prisões arbitrárias, os incendiamentos das casas dos nossos delegados nas províncias
e nos distritos, nós acreditamos que até agora existem condições para as eleições se realizarem de forma livre e justa porque a actual lei, permite algum nível de controlo do processo eleitoral, mas teremos de esperar para ver se de facto este clima e estas questões que foram levantadas poderão ser ultrapassadas ou não.
Registo de Dhlakama
P: Para quando á que está previsto o registo da Renamo- UE e do seu candidato?
R: Tenho dito às pessoas que me questionam sobre este aspecto que os prazos não estão esgotados, estamos dentro dos prazos e até à proxima semana o nosso candidato vai apresentar a sua candidatura e também dentro dos prazos previstos na lei vamos apresentar as listas dos nossos deputados candidatos à Assembleia da República.
A convicção é de ganhar
P: Qual é a convicção que o candidato da Renamo tem, considerando que desta vez vai concorrer com uma outra figura da Frelimo, já não é Joaquim Chissano. Acredita que Afonso Dhlakama e a Renamo-UE estão em condições de ganhar estas eleições?
R: A minha convicção é de que, se já com o líder carismático como era o presidente Chissano, líder famoso ou conhecido pelas massas pela sua qualidade de ser presidente da República durante muito tempo, desde 1986, a diferença entre o candidato da Renamo era mínima de tal modo que em algumas vezes foi preciso recorrer à fraude, caso específico de 1999; não seria muita ingenuidade nossa se afirmássemos que o candidato do partido desta vez é uma pessoa muito pouco conhecida, uma pessoa com um passado não muito dignificante; respeitam-lo, não vamos dormir e dizer que ele não tem chances, mas temos convicção de que vamos ganhar.
A campanha do candidato da Renamo-União Eleitoral é um movimento do povo, é um movimento da juventude é um movimento de todos os moçambicanos que há muito tempo choram por uma mudança; e parece ter chegado o momento de pisarmos a terra prometida; o povo já sofreu bastante e esta é a alternativa e este é o momento para mudarmos Moçambique.
JOSÉ CHITULA - IMPARCIAL - 24.09.2004