Amigo Alfredo
Como estão a tua esposa e os teus filhos?
Nós, aqui em casa, estamos bem.
Escrevo-te hoje porque talvez me possas ajudar a compreender isto que está a acontecer entre a Comunidade Europeia e a nossa Comissão Nacional de Eleições.
Costuma-se dizer que “quem não deve não teme teme” e eu estou de acordo com isso. Então fica
difícil perceber o que é que a CNE teme. Ou mesmo se, porque teme, isso quer dizer que deve. Ou que
se prepara para dever.
Se toda a gente diz que não temos nada para esconder, por que razão a CNE não abre as suas portas e permite a mais completa observação?
É o mesmo que dizer: “Em minha casa não há nenhum ladrão. Podem entrare ver. . Só não podem
espreitar debaixo da cama cama”.
Isto quando todos sabemos que, em anteriores ocasiões, foi precisamente debaixo da cama que se disse que o ladrão estava escondido.
Aparecem com aquelas parlapatices ridículas a respeito da lei quando é claro que a lei não proíbe nada daquilo que a Comunidade Europeia pede.
Pelo contrário, mesmo que a lei colocasse alguns entraves, o lógico seria dizer que, apesar disso, abrimos as nossas portas para provar que tudo vai decorrer com limpeza. Agora esta atitude é muito estranha. Muitíssimo estranha.
E depois é preciso também vermos outra coisa.
A gente está a falar da CNE, mas, na prática, devemos é falar do Partido FRELIMO, porque nas votações sobre este assunto, os membros da CNE, que são da FRELIMO, votaram contra os pedidos da Comunidade Europeia enquanto os outros, que são da RENAMO, votavam a favor de aceitar os pedidos da Comunidade Europeia.
É, portanto, a FRELIMO que não quer o controlo dos observadores nas zonas sensíveis dos apuramentos de votos. As zonas em que se movimentam pessoas como o tristemente famoso senhor Albuquer que, da
Beira, praticava uma fraude a favor da FRELIMO quando foi apanhado com a boca na botija. E, até hoje, continua impune.
Tudo isto, amigo Alfredo Alfredo, se vem juntar àquela golpada que a FRELIMO deu para conseguir
nomear o rev. Arão Litsuri para presidente da CNE. E tudo isto só nos pode alertar para que se prepara alguma coisa muito pouco clara.
Eu não embarco, normalmente, na gritaria da RENAMO, a torto e a direito, de que vai haver fraude. Mas, se a CNE não permitir a observação eleitoral em todos os momentos do processo, eu sinto-me, à partida, com razões concretas para suspeitar do que possa vir a acontecer.
Esperemos que o bom senso prevaleça e deixe de haver razões para estas suspeitas.
Um abraço para ti, meu caro amigo, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 21.10.2004