Olá Anita
Há dias, quando jantámos juntos, perguntavas se eu queria voltar a 1975. Na tua opinião uma vitória da RENAMO-UE nas próximas eleições provocaria, no país, uma convulsão como aquela a que assistimos em 1975.
Respondi-te que não. Um novo 1975, mas com a RENAMO no poder, seria um desastre a que não
gostaria de assistir.
Perguntaste, então porquês continuo a criticar o que me parece mal na actuação do Governo e, nesta
fase pré-eleitoral, no comportamento da Comissão Nacional de Eleições.
Tentei explicar-te na altura e volto a tentar agora:
Para começar queria-te dizer que nunca fui partidário da ideia de que os fins justificam os meios. Acho que não, não justificam de maneira nenhuma.
Por muito que queira atingir um objectivo ou impedir que alguma coisa aconteça não estou disposto a
abdicar dos meus princípios para o conseguir. Não vou desatar a elogiar o que está errado só porque
estamos em vésperas de eleições. Não vou aplaudir corruptos de um lado só porque os outros são,
eventualmente piores.
Sou capaz de aplaudir pessoas em quem nem sequer votei, como é o caso do Dr. Comiche Comiche, porque tem mostrado ser merecedor de elogios.
Agora falsear a minha opinião para favorecer este ou aquele, ou para prejudicar a qualquer outro, isso
não faço.
E depois, Anita Anita, como te disse na altura, eu não quero voltar a esse 1975 de que falámos, mas também não quero continuar desta forma em que estamos em 2004. Este reino de corrupção, crime impune, tráfico de drogas sem nomes de dono.
E o partido que lançou a palavra de ordem A Força da Mudança parece interessado em tudo menos
em mudanças. Ainda hoje li declarações do seu candidato presidencial a dizer que votar no partido
dele é votar na continuidade. Ainda não ouvi nenhuma declaração a dizer que esse candidato não concorda seja com o que for que o seu partido tem feito até agora e quer fazer diferente, para melhor.
Lamento dizer-te, Anita, mas, pelo que tenho visto e ouvido, nestas eleições não tenho candidato. E tenho grandes dúvidas que, até Dezembro, alguma coisa mude no sentido de me entusiasmar por qualquer um dos concorrentes.
Lá terei que esperar mais cinco anos, se para isso tiver vida e saúde, a ver se surge no nosso horizonte
político alguém, ou algum grupo, capaz de me levar a acreditar que merecem o meu voto.
Percebeste agora?
Um beijo do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 28.10.2004