“CONFRONTAÇÃO” COM A PGR AO RUBRO
«Muitos sabem, neste país, que o jornalista Carlos Cardoso estava a investigar, antes de ter sido assassinado, esse enorme buraco de 127 milhões de dólares no BCM e não a fraude de 1996, a de 134 biliões de meticais, pois que esta já estava investigada, acusada e remetida ao tribunal desde Abril de 1999», denúncia de Nini Satar, em comunicado de imprensa expedido, ontem a partir da “BO”, onde se encontra detido na sequência dos casos “Carlos Cardoso” e “BCM”.
Segundo Nini, os tais 127 milhões foram o prejuízo financeiro do BCM no exercício de 1999 e que Carlos Cardoso, no seu trabalho jornalístico, teria iniciado uma investigação 20 dias antes de ter sido alvejado
a tiro nos princípios de Novembro de 2000 por atiradores, liderados por Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), delinquente por tendência, actualmente a bater-se, nos tribunais canadianos, por um estatuto de refugiado depois de se evadir, pela segunda vez da “BO”, cadeia de Máxima Segurança,
em Maputo.
Resposta à letra
No referido documento - uma resposta a letra do recente comunicado de imprensa da Procuradoria Geral da República - Nini Satar acusa o PGR, Joaquim Madeira, de nada fazer para investigar as denúncias de desaparecimento de mais de 400 milhões de dólares no sistema bancário moçambicano em apenas 10 anos(1990 a 2000).
A tese do alegado desaparecimento de 400 milhões de dólares americanos, no sistema bancário, no país, foi desenvolvida pelo pesquisador britânico, Joseph Hanlon, em 2001, que, na altura, apontou
os Bancos Austral e Banco Comercial de Moçambique como tendo sido epicentro dos referidos desfalques, rombos esses que eram «impossível» de ocorrer sem o conhecimento dos administradores,
avançou.
«Perante este cenário de prejuízos irreparáveis na banca comercial, escritos e descritos por Joseph Hanlon no decorrer do ano 2001, que acções foram desencadeadas pelo Dr. Joaquim Madeira? Nenhumas, absolutamente nenhumas!!! O Dr. Madeira tem assistido impávido e sereno ao eco da sua
badalada afirmação: “Ando a investigar e em Moçambique ninguém está acima da lei”(sic)!!!», acusou Nini.
No seu comunicado, o jovem das quantias “irrisórias” questiona Madeira porque é que não houve responsabilização criminal dos administradores dos referidos bancos e porque razão o PGR «não investigou as razões da transferência do Sistema Informatizado do Banco Austral para a Malásia».
«Dos 400 milhões de dólares de prejuízos ao longo da década de 1990 a 2000, 40 milhões de USD por ano!!, 3 milhões e trezentos mil dólares mês!!!, o que fez a PGR, o que o PGR, o que fez o Dr. Joaquim
Madeira, para ao menos trazer estes factos a processos crime para ao menos serem investigados e saber-se dos seus autores?», questionou.
Outra inquietação de Nini «Sobre a fraude dos “134 biliões” é preciso denunciar que o Dr. Joaquim Madeira, o PGR deste país, cometeu o grave erro(terá sido erro??!!) de indigitar e nomear para tão
complexo caso, uma procuradora recentemente graduada, recém saída da Faculdade, sem nenhuma experiência em casos de tal envergadura, e que na prática, acabou por levar a julgamento caixas e
tesoureiros do BCM da Sommerschield, pessoas que na realidade se veio a confirmar nada saberem da fraude, como se veio a verificar pelo veredicto(...) em detrimento de ter levado a julgamento altas patentes do BCM, os seus administradores e directores.
Afinal quem responde pela gestão dos dinheiros públicos?
Quem são os verdadeiros responsáveis pelo caminho que levam os dinheiros dos clientes de um banco? Quem é o responsável criminal?», lêse numa das passagens do seu extenso comunicado resposta a Joaquim Madeira.
Mentira descarada
No seu comunicado, o mais novo dos irmãos Satar, presos na “BO”, considera que a PGR «mente descaradamente» quando reafirmou, no seu comunicado recente, que tanto Nini como os outros co-arguidos, durante a instrução preparatória dos processos “Carlos Cardoso” e BCM” nunca se referiram ao possível envolvimento de outras figuras nos referidos crimes.
«No “caso Cardoso”, desde o mês de Outubro do passado ano de 2001, ou seja 13 meses antes do início das sessões do julgamento, comuniquei e colaborei com dados muito concretos ao investigador principal Dr. António Frangoullis, o real envolvimento de Nyimpine Chissano no assassinato de Carlos Cardoso», sustenta, tendo realçado que também o foragido “Anibalzinho” dirigiu, por escrito, uma missiva confidencial ao PGR solicitando ser ouvido, alertando, na altura, que «os verdadeiros autores morais da morte do jornalista se encontravam em liberdade».
Recorda ainda Nini que «quando o mencionado investigador( Frangoullis) estava no encalço do verdadeiro mandante do assassinato do jornalista, Nyimpine Chissano, é impedido por ordens superiores de ter acesso às instalações da “BO” e de director da PIC da cidade de Maputo é mandato para a África
do Sul para estudar e cursar inglês», tendo regressado sem concluir os referidos estudos e posteriormente colocado na reserva.
Já lá para o fim do seu comunicado, Nini Satar acredita que as alegadas chamadas telefónicas de solidariedade que a Procuradoria Geral da República afirma ter recebido, no seu esforço de combate à criminalidade, só podem ter sido feitas pelos «verdadeiros intocáveis e ininputáveis deste país» porque
a Sociedade Civil, essa, está à espera de ver solucionados casos como o acidente ferroviário de Tenga(que fez perto de duas centenas de vítimas), o assassinado do Siba-Siba Macuácua( ex-PCA do Banco Austral, assassinato numa altura que estava a concluir o relatório sobre a situação real dos maiores
credores daquela instituição), “Polana Shopping Center”, entre outros.
Nini critica que Joaquim Madeira, na qualidade de PGR, tenha ido ao aeroporto de Mavalane, receber Robert Gabriel Mugabe, na sua recente visita ao nosso país, um presidente descrito por ele como «o maior ditador vivo do continente africano».
DA REDACÇÃO - IMPARCIAL - 20.10.2004