O governo guineense aprovou uma nova lista para as chefias militares da Guiné-Bissau, tendo por base a proposta apresentada pelos jovens oficiais que se sublevaram a 06 deste mês, mas os nomes só serão divulgados pelo presidente da República.
Em declarações à Agência Lusa, o porta-voz do governo, Filomeno Lobo de Pina, indicou hoje que o executivo já entregou a lista ao chefe de Estado guineense, Henrique Rosa, que, na qualidade de comandante supremo das Forças Armadas e tal como prevê a Constituição, a aprovará ou não.
Lobo de Pina indicou que cabe agora ao presidente da República anunciar a composição das novas chefias militares.
Questionado pela Lusa sobre se o novo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) será o mesmo proposto pelos revoltosos, que a 12 deste mês propuseram o até então Inspector-Geral das FA, major-general Tagmé Na Wai, o porta-voz do governo nada adiantou.
No entanto, sublinhou que, ao contrário do que tem sido veiculado pela comunicação social nos últimos dias, o governo "nada tem" contra aquele alto oficial das Forças Armadas guineenses.
Fonte militar contactada pela Lusa indicou, por outro lado, que a lista apresentada pelos militares revoltosos serviu "de base" aos nomes aprovados pelo executivo de Carlos Gomes Júnior, sublinhando que alguns dos nomes vão manter-se.
Na lista apresentada pelos militares a 12 deste mês, seis dias após o início do conflito, foram propostos, além de Tagmé Na Wai, o nome do coronel Biagué Nanti, ligado à Guarda-Fiscal das Alfândegas, para o cargo de vice-CEMGFA, que era ocupado pelo tenente-general Emílio Costa.
Para chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) foi proposto o brigadeiro-general Armando Gomes, ex-adjunto do anterior CEME, Watna Na Lai, que teria como vice o major Lássana Mansali.
Para a Armada (CEMA) foi proposto pelos revoltosos o nome do capitão-de-mar-e-guerra José Américo Bubo Na Tchuto, ex-comandante do Corpo de Fuzileiros, que seria secundado pelo capitão-de-fragata José Tavares, um dos oficiais mais antigos da Marinha. Bubo Na Tchuto substituiria o comodoro Quirino Spencer.
Para a chefia da Força Aérea (CEMFA), que era liderada pelo general Melcíades Gomes Fernandes ("Manuel Mina"), os revoltosos escolheram o brigadeiro António Gomes, ex-vice-CEMFA e o primeiro piloto formado na Guiné-Bissau, que teria como vice o major-piloto Braima Papa Camará.
Por outro lado, num comunicado da reunião de sexta-feira do Conselho de Ministros, o governo guineense confirma ter aprovado e enviado ao chefe de Estado uma proposta para a constituição das novas chefias militares, devendo Henrique Rosa proceder "às necessárias formalidades de nomeação".
No documento, o governo indica ainda que foi criada uma Comissão de Reestruturação e Reforma nas Forças Armadas que será presidida pelo próprio ministro da Defesa, Daniel Gomes.
O governo, por fim, agradece a "rápida e oportuna intervenção de solidariedade" das comunidades Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e de Países de Língua Portuguesa (CPLP), bem como ao representante do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau, o coronel moçambicano João Bernardo Honwana.
Fonte da Presidência da República, contactada hoje pela Lusa, nada adiantou sobre quando o chefe de Estado tomará qualquer decisão.
Henrique Rosa parte domingo à tarde para a Costa do Marfim, onde efectuará uma visita de trabalho de dois dias, na companhia do ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Soares Sambu, líder da Comissão Negocial do governo que tem, desde o início da sublevação, discutido com os revoltosos.
LUSA - 23.10.2004