ZOL Eleições Mussa – Quinta – feira, 21 Out.2004
MOÇAMBIQUE – ELEIÇÕES 2004
Crónica de João CRAVEIRINHA
…”A distinção entre Passado, Presente e Futuro é apenas uma ilusão, por muito persistente que seja”…afirmou o cientista Albert EINSTEIN, 1955
Um meu compadre desta “Terra Nostra” moçambicana disse-me: …”Tudo leva a crer que o Guebuza não tem lugar reservado ao Sérgio e ao Óscar. Na campanha eleitoral que decorre em Moçambique não se discutem ideias, todos dizem a mesma coisa: combate à corrupção, pelo desenvolvimento, blá-blá-blá. A malta urbana nem quer saber de nada, viraram as costas para os candidatos. É preocupante vermos uma classe média totalmente alheia aos processos políticos. Com a tua sensibilidade, espero uma análise a esta insensibilidade”....
Mas que dizer?
E ainda recente, também, o editorial do jornal Cm nº 1934 comentava ironicamente …” infelizmente, só nos saem aves: sai o galo e o mais provável é um pato ou perdiz que se segue”…
Bem, xipatuana (pato), perdiz, galinhola...e a maçaroca para alimentar esse aviário político todo sem esquecermos o pilão para moer o milho e fazer a sadja, inga-iua, shima, ugali, etc…e tudo ao som da batucada. No fim mesmo com tanta ave sai mais uma churrasqueira hallal ou takeaway que é o nosso forte, do moçambicano, e, bem regado (apesar de ser haramo para um dos candidatos). De facto muitos devem ser os que se perfilaram para os subsídios para as campanhas eleitorais…nada a obstar…mas pelo menos que com essa verba comprem umas vitaminas ou raízes frescas de Panax Ginseng, coreano, para fortalecer o cérebro e o organismo nestas campanhas a ver se com mais dinamismo surgem ideias, criatividade, apesar de a oriente nada de novo. Tudo já foi reciclado e revirado e desgastado e esbanjado pelos últimos 18 Anos do mesmo Poder (1986 / 2004), criando hábitos de luxo na miséria. 18 Anos correspondem a cerca de 4 mandatos e meio. Ou não será? (Da Independência a Outubro 1986 foi outro o Poder).
Well, ao termos noção disto tudo não será de admirar uma enorme abstenção punitiva da emergente classe média e das populações urbanas/suburbanas (mais que as do campo), manifestando assim o seu descontentamento e indiferença pela futura gestão do destino de Moçambique. Até parece que o escritor português José SARAMAGO é bruxo antevendo estas eleições moçambicanas no seu recente livro “Ensaio Sobre a Lucidez “ (2004) em que…
“Numa manhã de votação que parecia como todas as outras, na capital de um país imaginário, os funcionários de uma das secções eleitorais se deparam com uma situação insólita, que mais tarde, durante as apurações (apuramento), se confirmaria de maneira espantosa. Aquele não seria um pleito como tantos outros, com a tradicional divisão dos votos entre os partidos "da direita", "do centro" e "da esquerda"; o que se verifica é uma opção radical pelo voto em branco. Usando o símbolo máximo da democracia – o voto –, os eleitores parecem questionar profundamente o sistema de sucessão governamental em seu país”. (http://www.leituralivre.com.br/index.asp?conteudo=livro&cod=418)
Pois é. E o mais grave é o facto de já por si de início, se verificarem campanhas sem energia, anódinas, como se tudo já estivesse decidido de antemão e presumivelmente decisão vinda de fora de Moçambique –, E.U.A e U.E, a confirmar-se pela falta de interesse, demonstrada até agora pelos próprios protagonistas – os candidatos – como se de um calendário forçado a cumprir se tratasse, conformando-se todos com as regras do jogo e com as sobras das migalhas após as eleições como prémio. Os ditames da Democracia a martelo e escopo made in Western World (Mundo Ocidental) ou como diria Saramago… “A palavra democracia não descreve correctamente a realidade actual. O verdadeiro nome é plutocracia, que significa governo dos ricos”…
Nesta campanha eleitoral de vários estilos ou sem style’s, tudo indica que estamos perante uma aldeia política não global e ainda bem, mas reduzi-la ao nível de um aviário? Não acredito!? Para já temos uma perdiz que não é perdiz talvez seja mais um falcão disfarçado de perdiz ou ainda pior de corvo (dji-guavava) de mau agoiro pré-anunciando violência nestas eleições. A bipolarização do cenário político moçambicano criou efeitos redutores nas opções dos eleitores. Toca o disco e vira e torna a tocar. Esperemos que esta apatia se dilua e não se concretizem as enormes nuvens da abstenção no dia, não do juízo final, como muitos preconizam mas no dia da votação nas urnas. De todos os modos há um candidato que já ganhou! Mas não digo! [Também não é o Fim]
JC.