A campanha eleitoral para as eleições legislativas e presidenciais de 01 e 02 de Dezembro em Moçambique ainda não terminou, mas a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) já não tem dúvidas sobre o desfecho do escrutínio. | |
Para a confissão, que conta com cerca de 70 mil membros em Moçambique, o sucessor do actual presidente, Joaquim Chissano, será Armando Emílio Guebuza, ambos da FRELIMO, partido no poder, e ambos "consagrados" hoje numa reunião que o chefe de Estado manteve com mais de mil jovens da IURD. O tom de inevitabilidade da eleição do candidato da FRELIMO foi dado por um elemento da IURD, de nome Guerra, que na apresentação da igreja prometeu que a colaboração com o Estado moçambicano irá "continuar com o sucessor de Vossa Excelência, Armando Emílio Guebuza". Avalizado com a presença do líder espiritual da IURD em Moçambique, o bispo brasileiro Aparecido Reis Júnior, e tendo como pano de fundo o slogan "Vota FRELIMO, juntos construiremos a economia do país", o encontro de Chissano com os jovens cristãos foi dos mais produtivos que o ainda presidente tem vindo a manter com vários sectores da sociedade, em apoio da candidatura de Armando Guebuza. "Estou convencido que os jovens da IURD vão votar no candidato certo e que o candidato certo é Armando Emílio Guebuza", afirmou Chissano, perante uma grande ovação dos presentes. Mas ainda as palmas não se tinham extinguido e já o presidente de Moçambique fazia uma ressalva: "Eu não vos pergunto em que quem votarão, porque o voto é secreto. Mas para mim não é secreto", disse, enquanto tirava o casaco, revelando uma camisa amarela com o retrato do candidato da FRELIMO estampado no peito. Chissano voltou depois as costas para a plateia, exibindo uma fotografia ainda maior de Guebuza na parte de trás da sua camisa enquanto a sala explodia em aplausos que se estenderam aos líderes da IURD, sentados numa tribuna. Os jovens da IURD esperaram cerca de duas horas pela chegada de Joaquim Chissano ao centro de convenções que tem o seu nome, em Maputo, e que foi oferecido pelos chineses ao governo moçambicano, mas a demora presidencial não afectou a atenção com que o ouviram durante mais de uma hora e meia. Riram-se e deram sinais de apoio quando Chissano fazia referências aos principais adversários, a RENAMO e o seu líder, Afonso Dhlakama, embora quase sempre de forma velada - "Há para aí um partido...". "Toda a gente vai ter um celular nos próximos três meses", ironizou o chefe de Estado, voltando a incendiar a sala, com a comparação com "um partido" que promete mudar os hábitos nos próximos meses. E escutaram em silêncio a descrição que o presidente moçambicano fez da Igreja Católica no tempo colonial. "Sou católico, mas nada me impede de indicar o lado mau: a minha religião foi utilizada para fins políticos de um regime ditatorial de Salazar e Caetano, que utilizaram a religião para tornar o indígena mais submisso", acusou. A IURD é das igrejas que mais tem crescido em Moçambique, depois da abertura do regime para as actividades religiosas no país, mas a sua força nem sempre é vista com bons olhos. Já este ano, a autarquia de Maputo, de maioria FRELIMO, chumbou um projecto para a construção de um templo da IURD numa zona nobre da cidade, autorizado pela anterior vereação, igualmente da FRELIMO. Mas o caso não terá provocado ressentimentos: à saída da reunião de hoje, Chissano levou como recordação um batuque, um dos símbolos da FRELIMO, e uma bengala. "Fazemos votos para que Vossa Excelência continue a dedicar-se aos problemas de Moçambique. A luta continua", desejou Guerra, pela IURD. |
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 24.11.2004