O candidato presidencial da RENAMO, Afonso Dhlakama, ameaçou hoje assumir o poder nas províncias que lhe derem a vitória eleitoral, no caso de as eleições de 1 e 2 de Dezembro em Moçambique não decorrerem em ambiente democrático. | |
"A FRELIMO nunca ganhou as eleições, eles roubaram em 1994, roubaram em 1999. Ou a democracia chega ou cada um governa onde ganhou", disse Dhlakama, em entrevista telefónica à agência Lusa, da província de Sofala, onde se encontra em campanha para as eleições gerais de 01 e 02 de Dezembro. "Não é o que nós queremos. O Dhlakama não quer a divisão do país, queremos governar todo Moçambique, que isso fique claro. Mas não estamos dispostos a deixar os comunistas governar quando não ganharam, e, se eles roubam, então cada um governa onde ganhou", adiantou Dhlakama, quando instado a precisar a sua anterior declaração. O líder da RENAMO, pela terceira vez candidato às presidenciais em Moçambique, insistiu na inexistência de condições para a realização de "eleições justas e transparentes no país", do que deu como exemplo a recusa da Comissão Nacional de Eleições de permitir o acesso dos observadores eleitorais a todas as fases do processo. "A FRELIMO quer a União Europeia sentada nos "lobbiesÈ dos hotéis para depois carimbar a fraude", acusou, acrescentando: "Isto é uma fraude, fraude não significa só meter a mão na urna dos votos, significa também viciar o processo". "Qual é o medo que eles têm? É deixar que as pessoas vejam tudo", defendeu. Dhlakama afirmou que o seu partido tudo fará para evitar a eclosão de uma guerra no país mas não afastou o cenário do regresso de um conflito como o que, durante 16 anos, vitimou cerca de um milhão de moçambicanos. "As pessoas, a comunidade internacional, não podem viver uma vida de luxo pensando que jamais haverá guerra em Moçambique. Poderá haver a guerra, não a guerra do Dhlakama ou a guerra da RENAMO, mas a guerra do povo. Do meu lado, farei tudo o que tiver que fazer para evitar a guerra", declarou. "Se a FRELIMO volta a fazer o que fez em 1975, então haverá guerra. As pessoas não podem falar que não vai haver guerra enquanto não criarem condições favoráveis à paz", insistiu o líder da RENAMO. Afonso Dhlakama contestou fortemente as negociações em curso entre Portugal e Moçambique para a reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa ao Estado moçambicano, questionando o momento em que se realizam. "Condeno essas negociações entre o governo português e o governo moçambicano porque são negociações sem fundamento. Quando estamos em plena campanha eleitoral, não entendo por que houve tanto tempo (para resolver a situação) e ninguém se preocupou e agora há todo este interesse", disse. "Apelo para que se parem as negociações. Após as eleições, o vencedor irá elaborar a agenda das negociações", insistiu, afirmando que "o governo português não pode ser penalizado porque tem direito" ao pagamento da dívida. Afonso Dhlakama colocou a reforma do Estado moçambicano no centro das preocupações do seu governo, no caso de vencer as eleições, defendendo a "despartidarização do funcionalismo público" e de altos cargos do Estado. "O procurador-geral da República e o presidente do Tribunal Administrativo não podem ser nomeados por confiança política", afirmou, ressalvando que a RENAMO não quer desmantelar o Estado moçambicano, mas "transformá-lo num Estado de Direito". As reformas na justiça, na agricultura e o combate à corrupção e ao crime organizado foram outras das prioridades do seu governo destacados por Dhlakama. "Mataram o (jornalista) Cardoso, mataram o (gestor bancário) Siba Siba, libertaram o (assassino de Cardoso) Anibalzinho. É o crime organizado pelo governo", acusou. As 51 anos, Dhlakama enfrenta a terceira corrida presidencial, depois de ter liderado a guerrilha da RENAMO contra o governo da FRELIMO. A possibilidade de uma terceira derrota não o fará abandonar a política mas deixa para a RENAMO uma decisão sobre a sua continuidade na liderança partidária. "Sou jovem, trabalhei para a paz, para a democracia, para o desenvolvimento económico. Será que continuarei como líder? É uma questão interna da RENAMO", afirmou. "Mas lembro que o presidente brasileiro Lula perdeu por três vezes e hoje é um presidente reconhecido internacionalmente como alguém que cumpre as expectativas do povo brasileiro", acrescentou Afonso Dhlakama. |
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 26.11.2004