O presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama, é o único candidato às presidenciais de Dezembro em Moçambique a concorrer três vezes ao cargo, desde as primeiras eleições multipartidárias, em 1994.
Dhlakama apresenta-se pela terceira vez como candidato à Ponta Vermelha, residência oficial do chefe do Estado moçambicano, depois de ter sido derrotado em 1994 e 1999, pelo Presidente da República cessante, Joaquim Chissano, que renunciou à disputa de um terceiro mandato.
O líder da oposição moçambicana nasceu a 01 de Janeiro de 1953, no distrito de Chibabava, província de Sofala, centro do país, e é da etnia Ndau, uma das mais importantes daquela região do país.
Dhlakama é o mais velho de sete filhos do régulo Macacho Dhlakama, de Magunde, Sofala, onde iniciou os estudos primários numa missão católica, prosseguindo-os, depois, no Instituto Industrial e Comercial da Beira, entre 1967 e 1970.
Em 1971, foi forçado a interromper o curso de Hidráulica para servir no exército português, juntando-se em 1974 à FRELIMO, que conduziu o país à independência, em 1975.
Durante o governo de transição, que preparou a emancipação política de Moçambique, Dhlakama chefiou a logística do futuro exército moçambicano e foi também responsável pelos abastecimentos à guerrilha que lutava pela independência do Zimbabué (antiga Rodésia).
Dhlakama abandonou a FRELIMO em 1977, alegando falta de democracia interna no partido, e refugiou-se na Rodésia, onde se juntou ao Movimento Nacional de Resistência (MNR), hoje Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), dirigida por André Matsangaíssa.
Em 1979, Afonso Dhlakama assumiu a presidência do MNR, na sequência da morte de André Matsangaíssa, num confronto com as tropas governamentais e a sua liderança marcou a generalização territorial do conflito armado em Moçambique, que antes se restringia ao centro do país, onde se situava a base étnica dos líderes da rebelião.
É também durante a sua liderança que se regista a fase mais sangrenta da insurreição, com massacres, destruição de infra- estruturas sociais e económicas, sempre negados pela RENAMO que as atribuía à propaganda governamental.
Esta fase coincide com os primeiros sinais de vontade para negociar um acordo político para pôr termo ao conflito armado, o que culmina com a assinatura do Acordo de Paz de Roma, em 1992, entre a FRELIMO e a RENAMO.
O advento da paz marca também o primeiro passo para a transformação da RENAMO em partido político e para a participação nas presidenciais e legislativas de 1994, com Dhlakama derrotado nas urnas por Joaquim Chissano.
Após dois desaires na corrida à Presidência não é, contudo, previsível que Dhlakama abdique da política activa, em caso de nova derrota, pois, como costuma dizer "ainda é jovem".
De resto, Afonso Dhlakama insiste que nunca perdeu nenhuma eleição, antes alegando que foi "roubado", numa alusão às acusações de fraude nos dois escrutínios gerais até agora realizados no país.
O modo irredutível como defendeu a expulsão do antigo número dois da RENAMO, Raul Domingos, e a persistência em manter homens armados nas antigas bases da guerrilha são-lhe apontados pelos adversários como sintomas de inadaptação do ex-chefe guerrilheiro.
As suas intervenções, nem sempre eficazes do ponto de vista de actualidade política, são compensadas com tiradas que começam a ser lugares comuns, como: "o país está doente", "sou o pai da democracia moçambicana" e a "FRELIMO está cansada".
Católico, estudou Ciências Políticas por correspondência de 1985-1991 pela Universidade da África do Sul (UNISA), sem estar, no entanto, oficialmente inscrito.
Dhlkama é casado com Rosália Dhlakama é pai de cinco filhos.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS – 15.11.2004