Marta Vitorino |
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Eusébio brindou o seu pequeno amigo com uma bola e uma camisola do Benfica |
Passavam poucos minutos das seis da tarde quando Eusébio desembarcou no Hospital D. Estefânia. Foi recebido pela presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, Maria Alice Mabote e por Jorge Luís, o pai da criança,e de imediato conduzido para junto do seu maior fã. “Estás bom?”, perguntou a Samuel já no interior do Serviço de Cirurgia Pediátrica. O miúdo não respondeu porque estava “embriagado” pelos flashes dos fotógrafos. “Ele só quer ser fotografado”, ironizou Eusébio para quebrar o gelo. É que Samuel parecia estar num outro planeta. Por isso quando um jornalista arriscou uma pergunta – “Gostas muito de Eusébio?” – a resposta foi um rotundo “não”.
Mas isso foi apenas no princípio. Com o passar do tempo a criança começou a ficar mais descontraída, mais ambientada, soltou a língua e contou a admiração pelo antigo craque do Benfica.”Quero ser jogador do Benfica”, confessou. Equipamento não será problema já que Eusébio fez questão de brindar o seu novo amigo com uma bola e uma camisola. “Ao Samuel do teu amigo Eusébio”, podia ler-se na dedicatória assinada pela antiga glória do Benfica.
Mal sentiu o calor do couro a queimar-lhe as mãos, Samuel começou a fazer habilidades. Com as mãos e não com os pés o que levou Eusébio a comentar: “Mas isso é basquete. Futebol é com os pés”.Deve ter-se arrependido, a criança levou à letra os conselhos, começou a ensaiar remates.”Ao vê-lo assim a brincar com a bola nem parece que está doente”, sublinhou Eusébio. É verdade. A cada dia que passa Samuel parece mais confiante. E se tudo correr bem deverá deixar o hospital ainda esta semana depois de ter efectuado uma “bateria de análises e exames”. Mas enquanto isso não acontece vai continuar a ir para a ‘escolinha’ do Hospital e a brincar com os seus numerosos amigos.
CORAÇÃO DIVIDIDO
Jorge Luís, o pai de Samuel, é um homem dividido. Por um lado, diz-se eternamente agradecido pelo facto de o seu filho Samuel estar a ser tratado em Portugal. “Não sei como pagar a esta gente toda que nos está a ajudar”, desabafou ao CM. Por outro, não se esquece que a outra parte da sua família – a mulher e a filha de seis anos, permanecem no Chimoio.”Há muito tempo que não as vejo. Sabe, antes de vir para Portugal tive de passar uma temporada em Maputo a acompanhar as operações de Samuel” , acrescenta.
Agora as saudades apertaram mais ainda. “Em apenas dois dias, ele emagreceu muito”, disse Maria Alice Mabote , presidene da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. “Quando Samuel sair do hospital devem ir até à Figeira da Foz para descomprimir”, acrescenta. Bem merece.
CORREIO DA MANHÃ - 16.11.2004 |