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Na hora do balanço, a “perdiz” chamou a imprensa, na última sexta-feira, ante-penúltimo dia da campanha eleitoral, para assegurar que o seu trabalho de caça ao voto foi excelente, apesar dos vários obstáculos que foi obrigada a transpor. «Removemos todos os obstáculos interpostos, incluindo os que a TVM-EP nos colocava», disse Fernando Mazanga, porta-voz da Renamo- UE. Segundo Mazanga, na campanha eleitoral terminada ontem, os partidos políticos de Oposição em Moçambique com o Partido/Estado (Frelimo), que além do já crónico uso abusivo dos meios circulantes do Estado aplicou todos os recursos humanos do Estado na sua campanha eleitoral. «Funcionários públicos foram obrigados a aderirem compulsivamente a campanha dos camaradas», o que constitui uma violação do artigo 77 da Constituição da República, que consagra as liberdades dos cidadãos de se filiarem a um partido, acusou. «Serventes, funcionários simples, chefes de sector, directores a todos os escalões, administradores distritais, governadores, vice-ministros, ministros, etc., foram obrigados a deixarem os seus locais de trabalho para promoverem a campanha eleitoral do partido Estado, paralisando, desta forma, o funcionamento da função pública», indicou. «A Polícia da República de Moçambique, contra a vontade dos seus componentes, era levada a conduzir um secretário-geral de um partido como se presidente da República se tratasse», salientou Mazanga. «Avenidas e ruas são encerradas quando o candidato do partido no poder se encontra nas proximidades», disse Mazanga, que questionou depois se «será medo que ele tem, insegurança ou “show off” de quem tanto sonhou e ambicionou ser tratado com tanto protocolo e honras de chefe de Estado ou será que tem medo da reacção das vítimas da chicotada, operação produção entre outras medidas duras tomadas no seu reinado como ministro do Interior». Chissano atacado O presidente da República, Joaquim Chissano, também não foi poupado por Mazanga: «Assistimos aquele que devia ser o pai de todos os moçambicanos, aquele que devia julgar em última instância, a usar abusivamente a sua qualidade de Chefe de Estado para fazer campanha do seu partido». «O cúmulo da imoralidade da campanha do Chefe de Estado deu-se a 18 de Novembro de 2004, quando em plena quarta-feira, horário normal de expediente, obrigou serventes, enfermeiros, médicos e outros agentes de saúde nos hospitais Central de Maputo, Mavalane, Infulene e outros postos de saúde para abandonarem os seus locais de trabalho e irem fazer campanha», acusou Mazanga. «Os doentes ficaram sem tratamento, o senhor Chissano, usando a sua capa de PR forçou o pessoal médico para fazer campanha», sustentou. «Foi penoso ver figuras como Alvertino Barreto, usar camisetes do partido no poder, no lugar de usar a sua bata de médico profissional que todos admiramos e respeitamos, misturar a política com a profissão», uma situação que deixa em pânico os seus pacientes que, por ventura, não comunguem os mesmos ideais políticos, avançou Mazanga, para além de que muitas «mamãs tiveram que suportar dores do parto sem assistência do pessoal médico». «O chefe de Estado paralisou o negócio dos agentes informais, esses que são cobrados altas taxas no exercício da sua actividade, esses que são arrancadas a suas mercadorias, esses que são extorquidas as suas poupanças na fronteira; dando lhes dar trégua no âmbito da campanha eleitoral», sustentou. Mazanga acusa ainda o dito partido/estado de ter orientado as Alfândegas para isentar os informais no pagamento das taxas aduaneiras, numa manobra eleitoralista que visa enganar para se pensar que a vida será sempre assim, «mas o plano é caçar o seu voto e de seguida aperta-los até tirarem tudo o que terão amealhado neste período». «Quem ainda se engana com essas manobras? À primeira, caímos todos. Na segunda, cai quem quer. Na terceira, cai quem é burro, diz o adágio popular», avançou. Casos por esclarecer Na opinião de Mazanga e o seu partido, Chissano, ao invés de fazer campanha a favor de quem o acusa de ter dirigido um governo de deixa andar, devia se envolver, a fundo, no esclarecimento de vários enigmas, entre eles os casos Carlos Cardoso e Siba Siba Macuácua. «Ainda paira no ar a dúvida sobre os verdadeiros mandantes do crime», nomeadamente no caso Carlos Cardoso, no qual um dos envolvidos no crime, Aníbal dos santos Júnior, «sai da cadeia quando e como quer, passando pela sua guarda de elite com a facilidade de como passa a faca na manteiga». «O povo quer saber porque é que Anibalzinho continua no Canadá, perante o silêncio cúmplice das autoridades moçambicanas», exigiu o porta-voz da “perdiz”. CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 29.11.2004