Candidato da SWAPO é favorito
A Namíbia inicia, hoje, dois dias de eleições para substituir o Presidente Sam Nujoma, um líder carismático que conduziu o difícil processo de independência e conseguiu um dos maiores desenvolvimentos económicos da África Austral, nos últimos anos.
Nujoma, de 75 anos, deixará a Presidência da República em Março de 2005, quando terminar o seu mandato, mas continuará até 2007 a presidir à Organização dos Povos do Sudoeste Africano (SWAPO), que travou um difícil combate com o Governo de «apartheid» da África do Sul até obter a independência em 1990.
Apesar de algumas declarações polémicas de Nujoma, ao longo dos anos, os analistas políticos olham hoje para ele como um patriota respeitável que, sem qualquer preparação académica ou política, conseguiu conduzir o seu país à independência, implantar um regime democrático e retirar-se no devido tempo.
O candidato à Presidência da República da SWAPO nestas eleições é o actual ministro da Terra, Hifikepunye Pohamba, 69 anos, que os analistas pensam que assegurará a continuidade das políticas de Nujoma.
Pohamba é um dos dirigentes que combateu ao lado de Nujoma durante a luta armada contra a África do Sul, que começou em 1966 e terminou com os acordos de paz assinados em 1988 e que levaram à independência, dois anos depois.
Durante a luta armada, a SWAPO, que treinou os seus primeiros guerrilheiros no Egipto, juntou-se nas instâncias internacionais aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas (MPLA e UNITA, em Angola, Frelimo em Moçambique, PAIGC em Cabo Verde e Guiné-Bissau, FRETILIM, em Timor-Leste) agindo todos, muitas vezes, como uma frente diplomática.
Contudo, a independência de Angola viria pontualmente a culminar em críticas, quer da UNITA quer do MPLA, à Namíbia, conforme os interesses de momento, devido a conflitos fronteiriços.
As eleições presidenciais que hoje se iniciam são as terceiras desde que o país se tornou independente. Concorrem nove partidos e sete candidatos mas, devido à supremacia do partido no Poder e à fragmentação da oposição, prevê-se a vitória da SWAPO.
Paralelamente, decorrem também eleições para a escolha de deputados mas a campanha eleitoral foi muito apática. Mesmo os cartazes apelando ao voto neste ou naquele candidato eram raros.
Uma fonte diplomática comentou:
«Os candidatos percorrem o país mas não se trata de uma campanha de mobilização do eleitorado nem de ideias. Não há debate».
A grande incógnita do escrutínio é o nível de afluência às urnas (76 por cento em 1994 e 61 por cento cinco anos depois).
Em 1999, o partido de Sam Nujoma conseguiu 55 dos 72 deputados eleitos para a Assembleia Nacional, sendo seis outros parlamentares designados pelo Chefe de Estado.
Graças a uma emenda da Constituição, que apenas autorizava dois mandatos seguidos, o Presidente foi reeleito uma terceira vez com 75 por cento dos votos.
Devido à perda de influência da Aliança Democrática Turnhalle da Namíbia (DTA), que passou de 21 para sete deputados em 1999, o jovem partido Congresso dos Democratas (COD), de Ben Ulenga, fundado há cinco anos, pode posicionar-se como a principal força da oposição.
Foram recenseados 977.742 eleitores que poderão exprimir a sua vontade em 1.168 assembleias de voto das 7h00 às 21h00 (das 5h00 às 19h00 hora de Lisboa).
Cerca de 114 observadores internacionais, em especial da União Africana (UA) e do Foro Parlamentar da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC) vigiarão o desenrolar das eleições por todo o país.
A primeira vez que os europeus contactaram a Namíbia, aconteceu em 1484, quando Diogo Cão chegou à Costa dos Esqueletos, um local que se tornaria lendário por causa do elevado número de naufrágios ali registados, devido a um sistema particular de correntes marítimas.
Nos finais do séc.XIX, quando as potências europeias dividiram ente si a África, o território namibiano passou a ser um protectorado alemão. Mas, em 1908, foram descobertas jazidas de diamantes e o território passou a ser cobiçado
mundialmente, e muito especialmente pela África do Sul.
Em 1915, durante a I Guerra Mundial, as tropas sul-africanas expulsaram da Namíbia as forças alemãs e a Sociedade das Nações deu a Pretória um mandato para governar aquele território, salvaguardando os direitos dos negros.
Contudo, quando a Sociedade das Nações foi extinta e substituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a África do Sul recusou reconhecer esta última e começou a aplicar no território a sua política de apartheid.
A ocupação pela África do Sul foi considerada ilegal em 1971 pelo Tribunal Internacional de Justiça mas a decisão não teve resultados práticos, levando os nacionalistas da SWAPO a
desencadear uma luta de guerrilha que só terminou quando o país se tornou independente.
Nujoma esteve em Lisboa, em Março de 1989, para pedir o apoio português para uma transição pacífica para a independência.
Apesar de desértico e com uma precipitação anual de apenas 50 milímetros, o país dispõe de uma grande riqueza mineral, com as maiores jazidas de urânio do mundo, e grandes reservas de cobre, estanho, chumbo, zinco e vanádio, para além de uma grande abundância de recursos piscícolas.
A Namíbia tem 1,82 milhões de habitantes e uma superfície de 824 mil quilómetros quadrados - o mesmo que a França e a Espanha juntas - mas mais de 21 por cento dos seus cidadãos estão infectados com o HIV.
EXPRESSO - 13.11.2004