Relacionado com o tema anterior , respigamos da Folha 8 - Angola, desta semana:
O secretário para a informação do MPLA, Kwata Kanawa foi surpreendido, no mais recente debate realizado em Benguela, onde o tema principal deveria ser o ponto de vista dos “camaradas” sobre a aprovação da nova constituição e a realização das próximas eleições gerais.
Entretanto, o enrodilhado que envolve todo este processo, levou a que, num de repente, alguns militantes optassem para questionar o homem da informação sobre a visão do partido no poder em relação ao racismo, que está a tomar foruns alarmantes, também, naquela província.
O político ainda bem tentou segurar o leme, na cidade portuária do Lobito, mas a indignação da maioria era tanta, que tudo transbordou, quando chegou a hora da multiplicação dos exemplos, no sistema bancário públicos e privados, nomeadamente BPC, BCI, BAI, TOTTA e AÇORES e BFA, onde “se nota uma clara tendência racial das suas direcções, na admissão do seu quadro de pessoal”, denunciou na altura, o militante, Miguel Júlio, interrogando-se ainda; “será isso mera coincidência ou uma política, para mais tarde atirar a maioria contra a minoria, camarada secretário?”.
Outro militante mais ousado, fugindo os trocadilhos, perguntou se valeria a “pena tanto sacrifício nesta fase para o crescimento do partido e dos votos para garantir a sua manutenção no poder, para depois serem aqueles que sempre estão em cima do muro a vir beneficiar dos benefícios?” Instado a esclarecer melhor o seu ponto de vista, Pedro José apontou o exemplo bancário na província: “Desde Benguela, Lobito ou Catumbela, quando entramos num banco comercial, vimos maioritariamente, a ocupar os cargos e funções os camaradas mais claros, como se houvesse uma política clara de dizer que uns não servem, por ser a maioria”.
É neste quadro que os militantes apelam a uma séria investigação da direcção do MPLA, “para que a paz seja uma realidade no coração de cada angolano, que não se pode sentir discriminado, por ser mais escuro ou ainda só servir como suporte político do partido, mas depois das vitórias ser esquecido e atirado para a rua do desemprego. O que se passa em muitas empresas em Benguela é uma pouca vergonha e não satisfaz o projecto da reconciliação nacional e da paz”, concluiu.
E foi ainda dentro deste quadro que uma militante da OMA, com a experiência de mulher, mãe e esposa, aconselhou a direcção do seu partido a tudo fazer, para evitar, que “muitos dos nossos camaradas não depositem, nas urnas votos nulos, beneficiando a oposição, para castigar o partido, que pouco tem feito pelos seus verdadeiros membros. E os camaradas não podem pensar que as maratonas e as camisolas com a cara do camarada presidente vai resolver tudo ou é suficiente, para em dois dias se esquecer o sofrimento e discriminação de muitos anos”.
Kwata Kanawa, que é um dos membros do bureau político, responsável pelo acompanhamento da província de Benguela, com elevação e maturidade política foi anotando as preocupações dos seus camaradas de partido, prometendo levar todas em conta, com a direcção em Luanda.
Na sua opinião esta é uma questão muito sensível e não pode ser tomada pela emoção, mas sim pela ponderação, por esta razão acredita, que apesar de ser do domínio do MPLA local, o seu tratamento deverá engajar todas as partes envolvidas, enquanto angolanos com direitos iguais a luz da constituição em vigor.
Madalena Jamba, considera que o quadro de Benguela é muito diferente do que hoje se passa em Luanda, “onde parece já existir uma política de quotas, para negros, mestiços e brancos nas empresas de ponta nacional e estrangeiras, mas aqui, aká, é demais. É só uns mesmo, que se dizem do MPLA, mas não aparecem nas reuniões de células, nem nas actividades, para não se misturarem connosco e não pegaram a catinga, como nos gozam”.
E não deixou de apontar o dedo a uma flagrante coincidência de todos “os gerentes dos bancos em Benguela a excepção da agência do BAI, na Baía Farta, mas cujo gerente já é falecido, serem mestiços, muitos dos quais com dupla nacionalidade e transferindo 90% do salário, para Portugal”.
E, na sua alocução, chegou a afirmar haver economistas angolanos desprezados, em detrimento, “por exemplo, camaradas da gerente do BFA, que até nem é formada e ter uma capacidade por aí além ser portuguesa e tudo fazer para afastar, aqueles que têm competência. Mas ela hoje, que antes desembarcou com o marido, que veio trabalhar numa empresa de construção civil, hoje com a ajuda do banco têm um império invejável. Quer dizer o estrangeiro puxa e ajuda os da sua cor, tornando-os cada vez mais fortes, mesmo com o nosso dinheiro”.
E quando o rumo se aproximava do perigoso, a capacidade e experiência do político do MPLA, aconselhou a todos a um melhor controlo das emoções e uma análise mais fria das várias situações, para muitas vezes não se confundir o importante com o acessório. “Isso não quer dizer que não vamos levar em conta as opiniões dos nossos militantes, para que lá onde podermos rectificar o fazermos”.