Paris, 12 Nov (Lusa) - A administração da Radio France Internationale (RFI) negou hoje a intenção de suprimir a emissão em língua portuguesa para África, contrariando informações e documentos internos.
"Não existe nenhum projecto de suprimir a emissão portuguesa [para África] e não sabemos de onde têm saído essas ideias", assegurou fonte oficial à agência Lusa.
Segundo a mesma fonte, "esta não é nem uma pista de reflexão e a informação é totalmente infundada".
No entanto, um documento interno cujo conteúdo foi facultado hoje à Lusa indica que "as emissões que estiverem abaixo de um nível crítico de difusão e de horas de produção não se justificam".
A orientação da RFI é apostar nas emissões em francês, inglês, árabe, chinês e espanhol, deixando em situação incerta as restantes línguas, como o polaco, o turco, o romeno ou o alemão, que transmitem cerca de duas horas diariamente.
No texto lê-se que "as línguas que se justificarem mantêm-se na Internet", algo que fará pouco sentido para o público da emissão portuguesa, com poucos meios e residente em regiões pouco desenvolvidas tecnologicamente.
Este projecto deverá será apresentado na próxima semana ao conselho de administração, composto pelos ministérios da Comunicação, Finanças e Negócios Estrangeiros, senadores, deputados e algumas personalidades do sector.
De acordo com a versão da administração, em curso está uma reforma global que será notada principalmente na organização do trabalho, adoptando um modelo mais próximo da inglesa BBC, com uma estrutura mais geográfica e menos linguística, como hoje acontece.
A polémica demissão do director da redacção, Alain Ménargues - afastado após ter declarado que Israel é um "Estado racista" - veio atrasar o processo e poderá alterar a sua orientação.
De acordo com fontes internas, Ménargues terá chegado a afirmar que, finda a guerra em Angola, as emissões de português não se justificariam, enquanto o presidente da estação, Antoine Schwarz, reconheceu que a língua portuguesa "não é prioritária".
Schwarz manifestou publicamente no início de Outubro, durante a apresentação da nova grelha de programação, a intenção de reforçar a presença em algumas áreas geográficas.
A estratégia será consolidar a audiência na África francófona, com a possibilidade de integrar espaços com línguas locais, enquanto os outros idiomas falados em África, como o inglês e o português, não são considerados prioritários.
Por outro lado, é desejado um novo impulso da língua árabe e da filial RMC-Médio Oriente, para fazer face à concorrência de algumas novas rádios árabes e também da norte-americana Sawa.
O presidente da RFI adiantou ainda que a China será "um mercado a seguir" e quer desenvolver as emissões na Europa, onde a RFI está presente em algumas capitais, devendo começar a emitir em Bruxelas.
Na redacção de Português para África trabalham uma dezena de jornalistas e colaboram correspondentes em vários países que contribuem para a emissão, de duas horas diárias, centrada na actualidade da África lusófona e internacional.
A RFI, rádio estatal francesa que emite para o estrangeiro, afirma ter 40 milhões de auditores, dos quais 24 milhões em África, 12 milhões no Próximo e Médio Oriente, dois milhões na Europa e um milhão na Ásia e Oceânia.
BM.
http://www.rfi.fr/fichiers/Langues/rfi_portugais_afrique_main.asp