Com nove mil verbetes, a obra, assinada por Nei Lopes, compositor e escritor, integrante do mundo do samba e militante da causa negra, é um trabalho inédito e pioneiro. Ela reúne, em um único volume, uma gigantesca massa de informações ligadas à saga dos afro-descendentes nas Américas e em outras partes do mundo. Com isso, além de elevar a auto-estima da população negra, a obra aparece como referência fundamental entre os modernos estudos sobre o continuum africano na diáspora.
Sambista de sucesso, militante da causa afro-descendente e intelectual com senso prático, Nei Lopes há muito tempo percebeu a carência de uma bibliografia popular brasileira sobre assuntos africanos. Sem vinculação acadêmica, mas autor de 14 livros publicados (mais 2 já no prelo), há cerca de 10 anos ele decidiu produzir uma obra de cunho enciclopédico que reunisse, em um único volume e em forma de dicionário, informações multidisciplinares sobre o universo das culturas africanas, afro-americanas e afro-brasileiras. O resultado dessa inquietação e de longos anos de trabalho é a "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana", lançada pela Selo Negro Edições. São nove mil verbetes, abordando assuntos dos mais diversos a partir do ponto de vista brasileiro — de biografias a vestuário; de fatos históricos e contemporâneos a acidentes geográficos, flora e fauna; de festas e divertimentos a profissões e atividades.
Inédita e pioneira pelo conteúdo e pela metodologia de pesquisa, de forte compromisso com o registro fiel e exato das informações coletadas, a obra tem a alma de Nei Lopes. Sempre criativo em suas realizações, ele vem enriquecendo o panorama da cultura nacional com a sua singular capacidade de elaborar e interpretar a dimensão mais densa e profunda da africanidade no país.
Um dos grandes objetivos da Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, segundo o autor, é popularizar conhecimentos antes restritos a especialistas, num momento em que ocorrem no Brasil reformas de currículos escolares, em uma perspectiva mais afrocentrada. Nesse sentido, a obra vai muito além dos estereótipos freqüentemente associados ao negro brasileiro — cuja participação na formação da cultura nacional é recorrentemente restrita às áreas do folclore, da música, da dança e da culinária. De acordo com Elisa Larkin Nascimento, pesquisadora e co-fundadora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, "a Enciclopédia é um compêndio de informações complexas, aprofundadas e não divorciadas de seu contexto mais amplo, a matriz cultural do mundo africano".
Outro alvo importante é a auto-estima do negro. Para o autor, a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana sinaliza um passo decisivo na reflexão para construção de uma auto-estima positiva na emocionalidade do leitor afro-brasileiro. "São referências onde o leitor negro se localiza e se estrutura para construir a tão buscada e quase nunca atingida auto-estima", diz. Nei Lopes lembra que nas publicações disponíveis, o negro parece só ter interesse etnográfico. "Nessas obras, raramente figuram heróis, sábios, grandes homens. Para essas publicações, em geral, o vocábulo ‘negro’ define, no Brasil, mais uma categoria social, já que os ‘grandes homens’, quando afro-descendentes, são apenas ‘nascidos em lar humilde’ e quase nunca efetivamente ‘negros’".
A paixão e o engajamento nas questões da negritude, independentemente de vínculos acadêmicos, fez com que Nei Lopes, estudioso e pesquisador nato, mergulhasse em um minucioso e rigoroso processo de pesquisa para produzir verbetes curtos e resumidos. A ótica desenvolvida dedica bastante ênfase às biografias de anônimos que fizeram ou fazem parte da história africana, como revolucionários, líderes religiosos e educadores. No que diz respeito à religião de origem africana, o autor procura fechar um círculo de informações no tripé Brasil-Cuba-África.
Entre os diversos verbetes, o leitor saberá, por exemplo, quem foi Diane Abbot (1953). Parlamentar inglesa em Londres, filha de pais jamaicanos, ela tornou-se a primeira mulher negra eleita como membro do Parlamento Britânico em 1987. Destacou-se na defesa anti-racista dos imigrantes pobres e das minorias étnicas. No campo da religião, Nei procura, por exemplo, desconstruir a satanização do vodu haitiano, mostrando-o apenas como uma religião sincrética, de forte participação na História daquele importante país — matriz, no século XIX, a libertação negra nas Américas.
Resumindo, como diz Emanoel Araújo, artista plástico e organizador do livro "A Mão Afro-brasileira", um dos apresentadores da obra: Nei Lopes, com talento sensível e legítimo, "tem na alma o sentido do tempo, a busca da permanência, a continuidade da vida como ela é."
O autor
Nascido na zona suburbana carioca em maio de 1942, Nei Lopes bacharelou-se pela antiga Faculdade Nacional de Direito da atual UFRJ aos 24 anos de idade. No início dos anos de 1970, abandonando a advocacia, encetou carreira artística, tornando-se primeiro publicitário e depois compositor profissional de música popular. Na década seguinte, destacou-se também por sua militância pelos direitos civis do povo negro, publicando a partir de 1981 alguns livros pioneiros, como "Bantos, Malês e Identidade Negra", "O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical", "Sambeabá" e "Novo Dicionário Banto do Brasil", além de artigos e ensaios no exterior e coletâneas de contos e poemas, sempre evidenciando sua condição de brasileiro afro-descendente. Na música popular, é autor consagrado em parcerias e interpretações de grandes nomes de suas obras, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Martinho da Vila, entre outros.
Livro: Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana
Autor: Nei Lopes
Editora: Selo Negro Edições
Preço: R$ 129,00
Páginas: 720 pag. (17 x 24 cm)
Mais informações com Ana Paula Alencar – Lu Fernandes Escritório de Comunicação – 11-3814-4600