A TVM, “ nossa televisão” - por vezes - exibiu na sua emissão de ontem um documentário que mexe com a consciência dos moçambicanos que conviveram com o regime frelimista instalado imediatamente a seguir à Independência. Era um documentário sobre Adolf Hitler e o seu nazismo, entrecortado de entrevistas com seus opositores.
Foi uma rara oportunidade de muitos, lembrarem- se dos métodos nazistas, com outro rótulo, que durante anos foram aplicados em Moçambique. Dos jovens em fila a saudarem o presidente mesmo que isso fosse contra a sua consciência. Também havia o risco de serem penalizados nas escolas. Foi uma rara oportunidade de voltarmos a saber que Goebels, Himler e outros membros da liderança nazi tiveram sósias em Moçambique. Sósias no modo de agir. Quem não se lembra de quem frequentava as redacções da comunicação social para determinar a linha editorial. Quem determinava o que era politicamente correcto para ser tornado público. Quem não se lembra do propagandista ideológico da versão doméstica do nazismo. Quem não se lembra de quem fez de Niassa o Auchwitz moçambicano. Quem não se lembra dos fuzilamentos em praça pública. Dos chamboqueamentos perante aplausos forçados. Nada diferente do que acontecia na Alemanha de Hitler. A diferença só no cenário. Mas o mesmo custo humano. E há quem diga o Auchwitz doméstico foi um “ projecto cheio de humanismo”. O que equivale dizer que pode ser reeditado se os sósias domésticos de Hitler e seus pares alcançarem o poder. Por mais estranho que pareça os Himlers , Goebeles domésticos estão, de novo, muito empenhados na política. Mas ainda bem que a TVM exibiu o referido documentário. Para que não apaguemos das consciências o tempo que passou. E pode voltar.
ANGUANA - IMPARCIAL - 24.11.2004
CELSO M