Em Moçambique trava-se uma batalha de vida ou morte. Como sempre, o mundo observador optará por ignorar o que se passa no terreno a bem dos interesses económicos que ligam os magnates da plutocracia internacional aos detentores do poder politico em Moçambique. Estamos perante um quadro sombrio que apenas os que não querem ver não vêem. As eleições de 1 e 2 passados foram fraudulentas desde o início. O fenómeno do abstencionismo que caracterizou estas eleições foi minuciosamente desenhado pelos quadros seniores do STAE ligados ao partido governamental. A deliberada entrega de cartões eleitorais sem números a eleitores analfabetos nas zonas de maior influência da RENAMO e o uso de esferográficas com tinta que desaparece meses depois nos cartões de eleitores, ilustram o maquiavelismo patente nas pessoas que titulam a missão de trabalhar a bem da harmonia do povo moçambicano, pois milhares de pessoas viram-se impossibilitados de exercer o seu direito de voto.
Mas mais do que o simples afastar de um povo do processo que lhe diz respeito, está a concepção do famoso software. Desconfiando deste, a RENAMO UE sempre se opôs à sua aplicação na contagem de votos. Usando da ditadura de voto da maioria na CNE, Arão Litsure e seus apaniguados naqueles serviços foram em frente com o seu projecto, cientes dos resultados que dele se tirariam. Contudo, como a oposição sempre esteve atenta, exigiu em tempo útil que lhe fossem fornecidos os mapas dos resumos dos mapas das Assembleias de voto. Esta petição tinha razão de ser se se tiver em conta que aqueles documentos não só permitem aos partidos políticos saber onde é que se situam as Assembleias de Voto de modo a ter previamente a ideia de com quantos "fiscais" deve contar para cada assembleia e como posicioná-los de modo a exercerem a sua função fiscalizadora. Para além disso, os resumos dos mapas permitem ver os códigos dos cadernos e os números dos eleitores neles constantes.
Ciente do perigo que a disponibilização desses documentos acarretaria para as hostes do poder em Moçambique, a maioria na CNE fincou o pé. Não os disponibilizou nem aos partidos e muito menos aos observadores. O director do STAE foi peremptório publicamente. Afirmou que aqueles mapas de resumo tratavam-se de documentos "classificados", remetendo os demais para a ideia de que o número de eleitores em Moçambique é um segredo do Estado, como se alguma vez o tivesse sido em qualquer parte do mundo.
É que a vitória de Guebuza e da Frelimo nestas eleições estava desenhada a partir desses documentos e do software então instalado nos momentos derradeiros do pleito e não por via do voto popular como muitos julgariam. Pois, na verdade, para exemplificar o que acima se afirma (e que o mundo observador procura ignorar neste emaranhado eleitoral), basta constatar que os eleitores inscritos, para a província de Gaza, segundo dados em nosso poder, é de 609.214 até ao recenseamento eleitoral de 2004. Esses eleitores estão distribuídos por 992 Assembleias de voto, o mesmo que dizer que Gaza teria apenas 992 editais.
Contudo, a impressão da primeira contagem oficial na província de Gaza indica um universo eleitoral de 711,373 eleitores distribuídos por 1230 Assembleias, isto é, Gaza passou de noite para dia a contar com mais 238 Assembleias de Voto que só o senhor Carrasco e o Senhor Rev. Litsure é que conhecem a sua localização. Os editais dessas 238 Assembleias não estão disponíveis nem aos partidos e muito menos aos observadores. Por outras palavras, esses editais não existem fisicamente. Existem sim previamente incorporados no soflware. Se tivermos em conta que cada Assembleia de Voto comporta um universo de 1000 eleitores, estaríamos perante 238,000 votos previamente introduzidos no sistema computorizado em Gaza. Qualquer tentativa de visualização nas salas destinadas aos observadores e fiscais dos partidos políticos, na tentativa de confrontar esses editais com os editais saídos das mesas (em poder dos observadores ou fiscais dos partidos) redunda sempre em fracasso, na medida em que a ninguém é permitido fazer o print da relação dos editais de onde resultam nos votos atribuídos a cada concorrente. Apenas se demonstram que fulano de tal teve 883 votos, mas não se demonstra pela mesma medida os números dos editais a que se refere esse valor e suas respectivas mesas. Esta situação estende-se por todo o país e na presença de observadores.
Na província de Sofala estão inscritos nos cadernos (até ao recenseamento eleitoral de 2004) 802.149 eleitores distribuídos por 1039 Assembleias de voto. O print do resumo da contagem para as presidenciais até 10 de Dezembro apresenta 866.902 eleitores distribuídos por 1108 Assembleias de Voto, isto é, com 69 editais a mais que somente Carrasco e Litsure sabem em que Assembleia de Voto foram tirados. E se tivermos em conta que 69 editais podem comportar cada um um universo de 1000 eleitores teríamos em Sofala 69,000 votos inexistentes em benefício de Guebuza e da Frelimo naquele círculo eleitoral. De recordar que tanto para Gaza como para Sofala, e em consequência da pressão da oposição na CNE, Carrasco e Litsure publicariam nas páginas 9 a 19 do jornal NOTICIAS de 4 de Novembro último dados correctos, isto é 992 Assembleias de Voto para Gaza e 1039 para Sofala. Mas como a intenção era apenas distrair os distraídos, não se dignaram aqueles senhores a tornar público o número de eleitores inscritos em cada (Assembleia, pois isso faria com que qualquer indivíduo avisado estivesse em poder de dados completos. Contudo, ambos acabariam por fazer um grande favor para os analistas posteriores, pois perante este novo quadro deverão saber explicar a existência de editais a mais do que tornaram público. Não só aos partidos políticos, mas também aos distraídos observadores e ao Conselho Constitucional de Moçambique.
O caso de Nampula é outro caso gritante. No NOTÍCIAS acima referido a CNE afirma que em Nampula existem 2285 Assembleias de Voto que, naturalmente, correspondem a 2285 editais. Curiosamente, denotando não estar a par do jogo (e tudo indica que não está mesmo), o presidente da Comissão Provincial de Eleições de Nampula, senhor Estevão Rupeia, endereça a 9 do corrente mês uma carta a CNE pedindo esclarecimento pelo facto de nos Mapas de Apuramento Provincial relativos aos dias 07 e 08 de Dezembro de 2004 constar que o total de editais é de 2485 e não 2282. Segundo ainda Rupeia, esta divergência afectava negativamente no cálculo percentual do número de editais processados, pelo que pede que se tome medidas com vista a esclarecer ocaso.
A permanecer a confusão, indevidamente alguém (naturalmente Guebuza e a Frelimo) poderá meter na algibeira 203.000 votos inexistentes, mas apenas expressos em editais falsos. Nas restantes províncias o fenómeno repete-se. Duzentos e tal votos indevidos aqui, outros 69.000 acolá vai-se construindo a vitória de um partido e seu candidato.
Um outro fenómeno não menos preocupante, e que pode pôr em terra toda a valentia de Carrasco, Litsure e a Frelimo, é a possível requalificação dos votos de Dlakama e da RENAMO-UE indevidamente considerados nulos nas mesas de votação. Estamos a falar de milhares de votos deliberadamente anulados pelos presidentes de algumas mesas de forma maquiavélica, recorrendo-se a tinta da almofada em todo o país. Trata-se de uma situação que pode ser ultrapassada se os observadores, o Conselho Constitucional e os senhores Litsure e Carrasco despertarem da sua hibernação moral. Para isso bastará pegar em 5 (cinco) votos anulados (pela via de almofada) de Dhlakama ou RENAMO-UE duma mesma Assembleia de Votos e fazê-los um exame dactiloscópico, para se ver se a impressão digital que anula esses votos é, de quem tinha a missão de desdobrar os votos e anunciar o nome do contemplado. Igualmente, passar a pente fino os editais com uma única assinatura que beneficiam a Frelimo e Guebuza, sabido que é que a maioria dos editais comportam no mínimo cinco assinaturas de diferentes pessoas que compõem a Assembleia de Voto.
Assim, facilmente se verá se Dhlakama é louco ao imaginar-se presidente eleito ou não. Facilmente se verá se os votos que lhe restam não serão suficientes para proclamá-lo presidente da República, ultrapassada que estaria também, em todo o país, a questão dos editais fantasmas que aludimos acima
Queremos que os vencedores provem convincentemente a sua vitória e não vá o Rev. Litsure proclamar o que não é verdade para o bem da sua alma cá na terra. O mundo observador que desperte para esta realidade e denuncie aqueles que tentam a todo o custo manipular a vontade popular. Curiosamente, a equipa chefiada por Brazão Mazula veio a público com os seus resultados que dão vitória a Guebuza e a Frelimo. O propalar projecções infundadas, nada é melhor que o mulequismo à medida das benesses rece-bidas, pois tenho sérias dúvidas que alguém fora da Renamo e Frelimo fizeram uma contagem paralela com base em editais.
Quanto muito o que ouviram pelo telefone pelos seus pupilos pagos à medida da missão secreta incumbida. Que se nos demonstre as contas com os números dos editais a que se referem as projecções, isto é, edital por edital.
Nestas eleições o quadro mudará somente se os observadores nacionais e internacionais pugnarem por uma verdadeira justiça. Em nenhum jogo de futebol se aceitará perder com golos marcados à mão. Pensamos que qualquer homem aceita uma derrota justa e não forjada.
De nada valerá a tentativa de "comer" a oposição com nomeações de PCAs aqui e governadores acolá. Porque a RENAMO UE não é de Dhlakama. Este país pode arder por brincadeiras de mau gosto. Depois não digam que não avisamos, porque os verdadeiros culpados, mais do que aqueles a quem as atmosferas insalubres não incomodam, sois vós que fechais os olhos a verdades incontestáveis.
ZAMBEZE – 16.12.2004