De entre as pessoas que nos dias 1 e 2 de Dezembro não foram votar, existem os que alegam ter-lhes faltado tempo, enquanto outros se defendem dizendo que estiveram a fazer riqueza e por isso não podiam gastar tempo atrás das urnas de votação.
Mas há ainda os que não foram votar no futuro do país por acharem que em Moçambique ainda não apareceu nenhum dirigente com as características de Samora Machel, capaz de devolver aos moçambicanos o sentido patriótico, a luta contra a corrupção e contra todos os males que o primeiro presidente de Moçambique independente sempre defendeu em vida.
Este grupo, sustenta as suas afirmações lembrando que durante o tempo de Samora Machel, no país a corrupção e a criminalidade estavam condenados ao fracasso, entendendo os mesmos defensores das políticas samorianas, que se Machel estivesse vivo os actuais abusos não teriam lugar.
Os menos cépticos, todavia, acham que Armando Guebuza pode realizar um excelente trabalho, a avaliar pelo rigor demonstrado durante o período que esteve na governação, apontando como exemplo disso a Operação Produção, que para muitos é motivo de condenação mas que, na essência, demonstra que não se deve permitir preguiça entre os moçambicanos e que para a sobrevivência “as pessoas precisam de trabalhar”, de contrário terão de praticar crimes de vária para ordem para conseguirem o que conseguiriam trabalhando normalmente. Este grupo entende igualmente que a decisão alguma vez tomada por Guebuza de mandar para fora de Moçambique estrangeiros que pretendiam continuar a colonizar o país “é de aplaudir”, embora nos dias de hoje tal gesto possa ser mal interpretado.
Mas há o receio de Armando Guebuza, uma vez confirmado presidente de Moçambique, vir a fracassar na implementação das suas políticas, porque amarrado aos interesses partidários. O mesmo aliás que sucedeu em relação a Joaquim Chissano, cujos mandatos foram sempre geridos pela cúpula da Frelimo, nalguns casos com forte interferência nas decisões tomadas pelo ainda presidente da República.
“Guebuza não terá grande espaço de manobra”, garantem alguns observadores, que acreditam que tal situação vai influenciar para que Guebuza seja igual a Chissano na presidência de Moçambique e que nada de fundamental irá mudar no estilo de gerir o país.
Aliás, dizemos nós, Chissano foi capaz de alertar na altura da campanha eleitoral, que vai controlar a presidência de Guebuza, na sua qualidade de presidente do Partido Frelimo, do mesmo modo que provável sucessor de Joaquim Chissano terá se intrometido no seu posicionamento durante os anos que esteve na Ponta Vermelha.
É por estas e outras que os observadores que temos vindo a fazer referência entendem que não é desta que Moçambique ‘repesca’ a figura carismática de Samora Machel. Daí o distanciamento verificado na votação deste mês.
A. Mayngana - Expresso(Maputo) - 14.12.2004