Discordo em absoluto quando se comenta mal a abstenção havida nesta últimas eleições.
O que houve sim, foi um acto lívre e consciente de toda a maioria de um povo, que num acto democrático, gritou em unissono, ESTAMOS FARTOS.
ESTAMOS FARTOS de não termos o mínimo dos mínimos de fartura.
ESTAMOS FARTOS de cóleras, sida, tuberculose, malárias, má nutrição, mortalidades infantis, etc.
ESTAMOS FARTOS de crimes sem criminosos, de corrupção sem corruptos, do crime organizado sem organizadores, de processos autónomos sem autonomia, de fugas mais que orquestradas de criminosos sem que conheçamos o chefe da orquestra.
ESTAMOS FARTOS, do hospital que de hospital apenas tem nome, do posto de saúde sem parteira, da escola sem carteira, da torneira sem água, do interruptor sem luz.
ESTAMOS FARTOS de ser assaltados e assassinados tanto na via que devia ser pública bem como dentro de nossas casas por bandos e mais bandos de criminosos que aumentam dia a dia como ratos, sem que ninguém nos proteja.
ESTAMOS FARTOS dos super- enriquecimentos mais super-rápidos por quem há meia dúzia de anos não tinha quinhenta.
ESTAMOS FARTOS de viver no meio da imundicie, enquanto outros vivem em faustosas mansões de milhões de dólares sem que se saiba a origem do dinheiro de quem as mandou edificar.
ESTAMOS FARTOS de sermos pedintes crónicos de roupa mais que usada, de alimentos mais que duvidosos, de medicamentos falsificados (retrovirais e outros que tais), de pedirmos dinheiro para tudo e mais alguma coisa, nem que seja para construir um simples fontanário.
ESTAMOS FARTOS do aumento galopante do consumo de drogas pesadas, sem se querer propositadamente saber, quem são os seus Condes, Marqueses e Barões, verdadeiros assassinos da nossa juventude, nada nos dizendo onde fica instalado o Reino desta próspera vergonha
monárquica.
ESTAMOS FARTOS de pertencer à classe dos sem trabalho, de despedimentos esclavagistas, de vencimentos com meses ou anos em atrazo, de reformas (quando existem) de miséria, de salários de fome, de nos sentirmos totalmente desprotegidos por aqueles que de cinco em cinco anos nos apelam o voto, para que, pouco tempo depois e à nossa custa se sentarem com o cu na « cadeira vermelha» e nos mandar descaradamente à merda.
É por isto e por muito mais que ESTAMOS FARTOS.
Escusam de inventar mesas redondas e nelas juntar psícólogos, para-psicólogos, politiqueiros, escrirtores, jornalístas, académicos, etc. etc. para estudar o fenómeno da abstenção.
O FENÓMENO É SÓ UM - ESTAMOS FARTOS
ELEITOR INDISPONÍVEL – IMPARCIAL – 08.12.2004