AFONSO DHLAKAMA, LÍDER DA RENAMO-UE O presidente da Renamo-UE e um dos cinco candidatos à Presidência da República, nas últimas eleições no país, deu sinais, semana passada, de que não vai conformar-se com os resultados do presente escrutínio a ser anunciado, em princípio, na próxima sexta-feira, dia 17 de Dezembro. Segundo Afonso Dhlakama, que falava numa concorrida conferência de imprensa, na última sexta-feira, «aceitar este resultado é matar a democracia», por considerar que o mesmo resulta de um processo fraudulento e acredita o líder da Oposição em Moçambique que tal escrutínio «não favorece até o próprio Guebuza», apontado como virtual vencedor, segundo as projecções dos órgãos eleitorais, dominados pelo partido no poder. Na sua opinião, o que aconteceu, no país, no presente processo eleitoral, é o maior crime «praticado em todo o continente africano, sobretudo, no sul do Sahara». Sobre os caminhos a seguir, no futuro, Dhlakama disse que não cabe a ele decidir, mas sim o povo moçambicano. Deu, no entanto, a entender que ele era favorável à repetição das eleições, mas, antes disso deviam ser reformulados os órgãos eleitorais, designadamente a CNE e o STAE. É, no entanto, uma possibilidade que dificilmente poderá acolher o consentimento da Frelimo, tendo em conta os pronunciamentos recentes de quadros séniores daquela formação política, com especial destaque para presidente daquele partido, Joaquim Chissano, que já apelou para a necessidade de se aceitar os resultados das últimas eleições gerais no país. Por seu turno, o candidato à Ponta Vermelha e virtual vencedor, segundo as projecções dos órgãos eleitorais, Armando Guebuza, é citado, pela Lusa, como tendo classificado as últimas declarações do seu opositor directo, nas últimas eleições, de uma «reacção desesperada de alguém que vê tudo a desaparecer, todo o sonho que ia ter. E é sobretudo o facto de não estar a dar a liderança que a RENAMO como oposição em Moçambique merece». No entanto, Afonso Dhlakama não é o único a admitir a ocorrência da manipulação neste processo eleitoral e o dedo acusador é apontado para os órgãos eleitorais, com especial destaque para o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral tido como instrumento do partido no poder. Numa entrevista publicada na última quinta-feira no semanário Zambeze, que vamos citar algumas passagens, o bispo católico de Quelimane, Bernardo Governo, acusou os órgãos eleitorais de «programar e executar fraude eleitoral» e de serem instrumentos da FRELIMO. Assegurou o bispo que os habitantes da Zambézia estão «cansados de ser roubados» «Assistimos a fraudes programadas pela CNE e executadas pelo STAE», denunciou Bernardo Governo, depois de questionar a composição partidária dos dois órgãos, com maioria da FRELIMO. Segundo a sua Opinião, primeiro, o STAE disponibilizou tardiamente o material da votação nas localidades consideradas sob influência da RENAMO; segundo, algumas assembleias de voto foram transferidas para distâncias superiores a 20 quilómetros», numa manobra que tinha como objectivo «roubar votos à oposição», tida como maior perdedora com as ditas abstenções que rondam os 70 por cento(dos nove milhões de eleitores). Nas eleições de 1999, houve uma afluência às urnas na ordem de 68 por cento, dos sete milhões de eleitores na altura registados. Já em jeito de desabafo, avançou que «o povo pode ser analfabeto mas não é parvo e um dia a justiça será feita» e que «nenhum grupo governará o país eternamente enquanto o povo continuar na pobreza absoluta». Abstenção artificial Dhlakama, também, insistiu que a abstenção verificada neste processo é artificial e só ocorreu porque alguém dificultou o trabalho dos eleitores, alguns dos quais foram impedidos de votar devido à troca de cadernos de uma assembleia de voto para outra, a supressão de nomes nos cadernos, etc. Além dos habituais problemas na informatização de dados, o líder da “perdiz” denunciou a existência de mesas de voto fantasmas em algumas províncias, que foram descobertos os seus editais, já na fase de digitalização dos resultados. As tais ocorrências foram registadas em Manica(105), Sofala(69), Nampula(203) e Gaza(203). Os cadernos de tais mesas fantasmas tem referência de 1999 e, em regra, cada caderno possui mil eleitores. JF E REDACÇÃO – IMPARCIAL - 13.12.2004