Proclamação dos resultados eleitorais pode demorar quase duas semanas
alexandre chiúre correspondente em Maputo
Moçambique inicia esta noite a contagem dos votos das eleições presidenciais e legislativas, assinalando o fim de dois dias de votações em todo o país.
De acordo com aquilo que está previsto, as assembleias deverão encerrar rigorosamente às 18.00 horas locais (16.00 em Lisboa).
A contagem começará logo a seguir, nas 12 800 mesas de voto que abriram ontem, às 07.00, incluindo seis países africanos e dois europeus que acolhem, pela primeira vez, este sufrágio.
Concluída esta fase, proceder- -se-á aos apuramentos distritais, provinciais e nacional, admitindo-se que os resultados demorem alguns dias a ser conhecidos, num escrutínio onde estão recenseados pouco mais de nove milhões de eleitores, 40 mil dos quais na diáspora.
Ao longo do dia de ontem, o primeiro dos dois dias de votação, não foram registados incidentes.
Nalgumas assembleias de voto verificou-se mesmo uma certa afluência nas primeiras horas da manhã, mas o movimentou foi decrescendo ao longo dia, deixando pairar a ameaça de enorme índice de abstenção.
Para já, um dos principais problemas que os eleitores tiveram de enfrentar nas assembleias de votação foi a localização das mesas que correspondiam os seus cartões.
Em Maputo, por exemplo, muitos idosos movimentavam-se de um lado para o outro sem encontrar quem os orientasse.
Alguns observadores admitiam, no entanto, que por detrás da fraca afluência às urnas pudesse estar - pelo menos na capital moçambicana - o calor intenso que ontem se fazia sentir em Maputo.
É isso que explica que os principais candidatos às eleições presidenciais - Armando Guebuza (Frelimo), Afonso Dhlakama (Renamo- -União Eleitoral) e Raul Domingos, (Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento) - tivessem destacado a forma ordeira como decorreu o primeiro dia de votações, aproveitando, no entanto, para lançarem fortes apelos ao voto.
Marcelino dos Santos, fundador e dirigente histórico da Frelimo, juntou-se aos apelos, designando a abstenção como «inimigo do meu povo».
Tranquilidade. Apesar das eleições, a vida não parou em Moçambique. Enquanto uns iam votar, outros dedicavam-se aos seus negócios de sobrevivência, para além daqueles que aproveitaram para viajar para as suas terras de origem.
Exemplo disso verificou-se na Junta, o terminal dos autocarros interprovinciais, que registou um movimento normal de passageiros e de vendedores ambulantes.
Um desses vendedores foi Nilza Elias, de 18 anos, que não sabia ainda se ia votar. Beneficiando da sombra que lhe era proporcionada por um autocarro estacionado, aproveitava para vender os produtos expostos numa pequena caixa, misturando variedades de bolachas com doces, cigarros e outros artigos.
Já Jorge Congole, um motorista de transportes semicolectivos de passageiros, procurava clientes para o Xai-Xai, a 120 quilómetros da cidade de Maputo. Sem sucesso. «Hoje não há movimento.»
Num dos cantos do terminal vislumbravam-se mais de duas dezenas autocarros praticamente vazios, mas a poucos metros dali, outros, já lotados, continuavam à espera, antes de seguirem viagem.
Enquanto isso, os vendedores que, por ali se amontoam, tentavam assediar os passageiros, impingindo-lhe os seus produtos pelas janelas.
A maior parte brandia pacotes de bolachas, bolos e pães, mas também havia quem tentasse vender relógios, capulanas, lenços, água mineral e até vinho.
Rosa Alberto, de 37 anos, casado, com seis filhos, costuma ali vender entre 100 a 250 pães por dia. Quando lhe perguntámos pelas eleições, sorriu, garantindo que iria votar noutra altura. Os rendimentos do negócio ajudam o casal a pagar os estudos aos filhos.
Moisés Buque, de 22 anos, encontrava-se no terminal desde a madrugada, a tentar ganhar a sua subsistência. Votar não era a sua principal preocupação. Carregado de garrafas de água mineral gelada e vinho, distribuídos pelas duas mãos, passava de carro em carro, à procura de clientes.
À semelhança do que sucedia com Zefanias Fabião. Aos 26 anos, está no desemprego. Votar também não era a sua prioridade.
Neste ambiente de indiferença, só Pedro Manicusse, de 40 anos, destoou. Com as malas nas mãos, estava de partida para Maxixe, na província de Inhambane, a quase 500 quilómetros de Maputo. Para ainda chegar a tempo de votar no local onde está recenseado. |