Quando começam a ser conhecidos alguns resultados parciais oficiais das legislativas e presidenciais de Moçambique, o bispo católico de Quelimane acusou os órgãos eleitorais de "programar e executar fraude eleitoral" e de serem instrumentos da Frelimo, partido no poder. Numa entrevista ao semanário moçambicano "Zambeze", publicada ontem, e citada pela Lusa, o bispo Bernardo Governo disse que os eleitores da província da Zambézia estavam "cansados de ser roubados". Responsabilizou a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) pela fraude e questionou a composição partidária destes dois órgãos com maioria da Frelimo.
"Assistimos a fraudes programadas pela CNE e executadas pelo STAE", disse Bernardo Governo. O bispo denunciou "manobras que tinham o objectivo de roubar votos à oposição", como a transferência de algumas assembleias de voto para distâncias superiores a 20 quilómetros, ou a chegada tardia do material de votação em localidades consideradas sob influência da Renamo da província da Zambézia, segundo maior círculo eleitoral.
Resultados parciais resultantes da contagem oficial dos órgãos eleitorais começaram a ser divulgados, confirmando a já esperada vantagem do candidato da oposição e do seu partido nas legislativas nessa província. O mesmo acontece em Sofala, onde Afonso Dhlakama, também goza de muitos apoios.
Quando estão contados apenas um quarto dos editais (folhas dos resultados de cada mesa de voto) nestas duas províncias, nas presidenciais, Dhlakama vai à frente com 71 por cento dos votos em Sofala e com 53 por cento na Zambézia. O candidato presidencial da Frelimo, Armando Guebuza, conta com 23 por cento em Sofala e 41 por cento dos votos na Zambézia.
Em Manica, onde já foram contados três quartos dos editais, Guebuza vai à frente com 47,6 por cento e Dhlakama com 47,4 por cento dos sufrágios das presidenciais.
Relativamente às zonas favoráveis à Frelimo, apenas foram divulgadas projecções não oficiais da Rádio Moçambique, aguardando-se os resultados parciais da contagem oficial dos órgãos eleitorais. Projecções não oficiais apontam para uma abstenção de cerca de 60 por cento - mais elevada na cidade de Maputo e na província de Gaza, zonas de influência da Frelimo e mais baixa em Inhambane, pró-Frelimo e em Nampula e Zambézia, tendencialmente pró-Renamo. A.D.C.
PÚBLICO - 10.12.2004