PROCESSO ELEITORAL EM MOÇAMBIQUE NA FASE CRÍTICA
O presidente da Renamo-UE e candidato à Presidência da República, fala, hoje, em princípio, à comunicação social num encontro com jornalistas no qual se espera que a liderança da “perdiz” apresente os dados factuais sobre as irregularidades que estariam a manchar o presente processo eleitoral, agora na fase de apuramento de resultados.
Pelo menos três manchas principais no presente processo eleitoral, avançadas nas hostes da "perdiz", poderão ser determinantes no resultado final, nomeadamente o banimento, pela Polícia, por instrução de presidentes de mesas dos fiscais daquele partido político em algumas assembleias de voto, com especial destaque para a província de Tete e Gaza, onde tal operação chegou a abranger distritos inteiros.
No caso concreto de Tete, distritos como Changara, Cahora Bassa, Máguè e Tsangano, apenas foi permitido aos delegados de candidatura da “maçaroca e tambor” fiscalizar o processo e é exactamente nesses pontos do país onde o índice de abstenção situa-se abaixo de 20 por cento, quando nos restantes pontos do país o tal índice ascende a 70 por cento. E quanto a escolha dos eleitores, quase todos depositaram o seu voto na Frelimo e Guebuza, o que é demasiado suspeito, tendo em conta que nas eleições de 1994 e 1999, a “perdiz” e o seu candidato esmagaram os seus opositores em Tete.
Em Tete, o pretexto para expulsar os delegados de candidatura das assembleias de voto, em distritos inteiros, foi da suposta identificação falsa, mas a “perdiz” alega que tal foi orquestrado «pois que as credenciais foram passadas por oficiais dos órgãos eleitorais dominados pela Frelimo que orquestraram erros de cópia de nomes ou de números de BI ou de cartões de eleitores, documentos exigidos para o levantamento de credenciais».
Outro ponto, que levanta litígio neste processo, é o aparecimento de supostas mesas fantasmas, como é o caso da província de Manica, no Centro do país. Nos mapas sobre a distribuição das mesas em toda a província de Manica constam apenas 723, mas na fase de apuramento de votos os elementos da Renamo-EU nos órgãos eleitorais detectaram mais 105. Partindo-se do pressuposto de que cada mesa tem mil eleitores, estão, existem naquele ponto do país, aproximadamente 105 mil eleitores fantasmas. Nos dados avançados em algumas publicações, a Frelimo e Guebuza são apontados como vencedores em Manica, círculo eleitoral sempre dominado pela “Perdiz”.
No seu pronunciamento em alguns órgãos de comunicação social, o director-geral do STAE, António Carrasco, reconheceu, na passada quarta-feira, a existência dessas mesas, um problema que tentou minimizar, limitando-se a prometer que é um caso a ser analisado.
No entanto, a “perdiz” assegura que tal cenário aconteceu noutras províncias, como é o caso de Cabo Delgado e aquela organização política promete apresentar provas dentro de dias.
Nas hostes da “perdiz”, uma solução possível para os tais problemas já identificados pode passar pela repetição do escrutínio nesses locais. O argumento é de que no caso concreto de mais de cem editais com eleitores fantasmas, na província de Manica, como separá-los dos restantes?
Por último, existe o problema dos boletins de voto inutilizados, alguns dos quais por uma mão criminosa em Nampula, na sua maioria a favor de Afonso Dhlakama e o seu partido. Em Angoche, um dos presidentes de mesa foi surpreendido com uma “almofada” por baixo do seu boné, na cabeça, e que no acto de contagem de votos fazia questão de levar os dedos à referida “almofada” para depois untar nos boletins de votos a favor da “perdiz” e o seu candidato.
O tal indivíduo, surpreendido em flagrante delito, se admite que esteja nas mãos da Polícia.
Referir que nas últimas eleições autárquicas um outro cidadão, tido como técnico do STAE, foi surpreendido, em flagrante delito, isso na cidade da Beira, dessa vez a tentar adulterar os editais a favor da Frelimo e o seu candidato naquele município, no desesperado esforço de evitar a vitória do candidato da “perdiz”, Devis Simango e o seu partido.
De fontes de Sofala soubemos que o tal indivíduo já foi julgado em Novembro, desconhecendo-se, ainda, a sanção criminal aplicada.
Digitalização de dados também problemática
Referir que a selar este processo eleitoral que se apresenta problemático desde o seu início, com a actualização conflituosa dos dados do recenseamento eleitoral, que tem a sua quota parte no índice de abstenção, temos a polémica de digitalização dos resultados eleitorais, com o software, aplicado, a ser posto em causa.
Em Manica e Gaza, os técnicos indicados pela “perdiz” detectaram uma falha no processo.
Dizem eles que sempre que se introduzia um algarismo, subia para dois dígitos(se for um, passava-se para dez, por ai adiante). Pelo menos em Manica, o processo de digitalização de dados foi interrompido por algumas horas e mais tarde veio a prosseguir sem os técnicos indicados pela “perdiz”, situação que passou pelo arrombamento das portas, com o auxílio da Polícia, uma vez que os elementos da Renamo-UE se recusavam a dar a outra chave, também, necessária para se ter o acesso à referida sala.
Entretanto, apesar destes incidentes todos, o apuramento dos resultados prossegue, e nos bastidores de cada uma das duas principais formações políticas(“perdiz” e “maçaroca e tambor”) se reclama vitória.
JAQUES FELISBERTO – IMPARCIAL – 10.12.2004