"Afluência deixou muito a desejar", segundo a CNE. Resultados oficiais só em 17 de Dezembro
O primeiro de dois dias de eleições em Moçambique correu de forma organizada, as assembleias de voto abriram e fecharam à hora prevista, mas ficou marcado pela fraca afluência dos eleitores moçambicanos, que podem continuar a votar hoje até às 18 horas (16 horas em Portugal). Os partidos deverão começar a anunciar resultados nos próximos dias. Mas os números oficiais só são divulgados a 17 de Dezembro.
Num balanço de fim de dia, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) admitiu que a afluência às urnas "deixou muito a desejar", dando o exemplo de assembleias de voto onde a taxa de participação não ultrapassou os 10 por cento dos eleitores inscritos.
A abstenção aumentou nas eleições de 1999 e poderá ser mais elevada nas cidades, tendencialmente pró-Frelimo, do que nas zonas rurais, pró-Renamo. "Que todos se dirijam às urnas para votarem em consciência e sem medo porque o voto é secreto", apelou Chissano que abandona a chefia do Estado, mas mantém-se na liderança da Frelimo, pelo menos até ao próximo congresso, sem data marcada.
Os dois principais candidatos à Presidência da República, Armando Guebuza pela Frelimo e Afonso Dhlakama pela Renamo, manifestaram-se confiantes numa vitória, divulgou a Lusa.
"Acredito que vou conseguir um resultado que reflicta o entusiasmo que a população me transmitiu durante a campanha eleitoral", declarou Guebuza. Em caso de vencer, o empresário e secretário-geral da Frelimo prometeu lutar contra a corrupção e a burocracia do Estado.
"Estou convencido de que irei vencer as eleições", afirmou Dhlakama. "Durante os 45 dias de campanha, a população moçambicana demonstrou querer mudança, por estar cansada do Governo da Frelimo." Afonso Dhlakama concorre pela terceira vez para tentar conquistar a Presidência e inverter a maioria absoluta de que goza a Frelimo, desde as primeiras eleições em 1994.
Observadores continuam excluídos da contagem
As atenções estarão também viradas para o desempenho do dissidente da Renamo, Raul Domingos que poderá tirar votos a Dhlakama. O líder do Partido pela Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD) declarou-se confiante na normalidade do processo. "Os moçambicanos têm experiência democrática e a presença maciça dos observadores neste processo irá contribuir para a transparência do processo", disse, ressalvando porém que os problemas podem acontecer "na contagem dos votos".
A Comissão Nacional de Eleições (CNE), cuja direcção é composta maioritariamente por representantes da Frelimo, tem recusado a presença dos observadores na fase da contagem, contrariando a vontade dos representantes da União Europeia, da Commonwealth, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e do Centro Carter, entre outros.
Se a CNE não ceder, os dois mil observadores moçambicanos e estrangeiros mobilizados para estas eleições, não estarão presentes na contagem final de votos, no processo de digitação de votos e nas sessões de decisão sobre votos duvidosos e nulos. Estas sessões são decisivas, sobretudo se a margem entre os dois principais candidatos for muito estreita.
ANA DIAS CORDEIRO
PÚBLICO - 02 de Dezembro de 2004