HOJE NA CAPITAL DO PAÍS
Os líderes dos partidos políticos da Oposição, em Moçambique, reúnem-se hoje, na capital do país, para produzir um memorando conjunto sobre as últimas eleições gerais no país e a ideia até agora prevalecente, segundo fontes do IMPARCIAL, é a exigência da impugnação do escrutínio devido «a várias fraudes cometidas ao longo do processo».
A nossa fonte assegurou que além dos partidos coligados à Renamo-UE, estarão representados, no encontro, as formações políticas sem assento no parlamento, incluindo o PDD, de Raul Domingos, que aparece nas projecções dos resultados eleitorais divulgados pelos órgãos de comunicação social como a terceira força política em Moçambique, mas como poucas hipóteses de transpôr a barreira dos cinco por cento de modo a conseguir assentos no parlamento, com 250 deputados.
As provas, para a impugnação dos resultados, «estão chegando todos os dias», garantiu a fonte do IMPARCIAL, que fala do aparecimento de editais fantasmas já na fase de digitalização dos resultados «que até levou à Comissão Provincial de Eleições, em Nampula, a endereçar um ofício à CNE a pedir as instruções sobre o que fazer com os editais que aparecem a mais».
Refira-se que a Renamo-EU denunciou semana passada ter havido mesas fantasmas em muitas províncias, nos quais foram produzidos editais que agora aparecem a mais no apuramento dos resultados, tendo em conta os mapas distribuídos sobre a localização das mesas. Em Manica, fala-se de 105; Sofala( 69), Nampula(203) e Gaza(203). Os cadernos de tais mesas fantasmas têm referência de 1999 e, em regra, cada caderno possui mil eleitores, o que a ser verdade, são milhares de eleitores fantasmas.
Mato de irregularidades
Esta semana o “Boletim informativo sobre o processo político” que diariamente é publicado publicado pela organização de Parlamentares Europeus para África(Awepa), em Maputo, apontou algumas irregularidades nos editais detectados pelos seus correspondentes nas províncias.
Com base na informação recolhida por 50 correspondentes destacados em todo o país, o boletim refere a ocorrência de fraudes com a intenção de invalidar votos em assembleias de voto e a falsificação dos editais em mesas onde os delegados da Renamo foram impedidos de estar presentes.
«O problema para a Renamo será que, embora a fraude seja óbvia, será muito difícil provar» as dúvidas levantadas nos distritos de Changara e Chiconono.
«E a CNE não anulará estes resultados sem provas», lê-se no boletim da passada terça-feira,
que acrescenta que a prática «de encher as urnas com boletins e de falsificar editais parece ser mais comum este ano do que em 1999».
“Editais falsos” como em 1999
A primeira suspeita começou por ser levantada no distrito de Changara (província de Tete) pela Agência de Informação de Moçambique (AIM) e mais tarde pelo “Boletim”.
A rádio estatal anunciou uma participação de cerca de 96 por cento. Das cerca de 65 mil pessoas que afluíram às urnas em Changara, cerca de 64 mil votaram a favor de Armando Guebuza e 900 a favor de Afonso Dhlakama, o candidato da Renamo.
O editor do “Boletim”, Joseph Hanlon, interroga-se se o que aconteceu foi a colocação de boletins falsos nas urnas ou uma participação excepcionalmente elevada da população neste distrito - numa localidade vizinha, Moatize (como no resto do país), a afluência não ultrapassou os 40 por cento.
«É mais provável que alguém tenha enchido as urnas de boletins ou que os editais sejam falsos, como aconteceu em 1999.
Nessas, como nestas eleições, a Frelimo expulsou os activistas da Renamo para fora de Changara, não ficando qualquer delegado da Renamo nas assembleias de voto desse distrito», lê-se no boletim publicado em inglês.
A publicação descreve outras ocorrências, também na província de Tete, no Norte. Dois casos distintos, no mesmo distrito de Tsangano, mostram que a presença ou não de delegados da Oposição leva a resultados muito díspares.
Numa mesa onde estava o delegado da Renamo, registaram-se apenas 388 votantes dos 858 inscritos, seguindo a tendência de fraca participação do resto do país. Desse, 194 votos foram para Dhlakama e 176 para Guebuza, sendo os restantes considerados nulos.
Na mesa ao lado, sem o delegado da Renamo, os registos indicam um resultado muito diferente: dos mil eleitores inscritos, 750 votaram. Desses, 565 a favor de Guebuza, quatro a favor de Dhlakama, sendo 177 votos nulos.
O “Boletim” publicado pela Awepa chama a atenção para estes dados, referindo que outras mesas de voto registaram taxas de participação «anormalmente elevadas». E dá mais um exemplo, entre outros: no distrito de Biri-Biri, onde a Polícia começou por declarar uma afluência fraca às eleições, foram registados 947 votantes dos mil inscritos, dos quais 820 votaram a favor de Guebuza e 25 a favor de Dhlakama.
Além disto, refere a existência de “provas” de que em zonas tradicionalmente favoráveis à Renamo, em dois casos, os presidentes das mesas «foram vistos a colocar uma marca de tinta no boletim de voto enquanto explicavam ao eleitor como votar», invalidando propositadamente os boletins. E acrescenta que percentagens “estranhamente” elevadas de votos nulos ou inválidos foram registadas em zonas da Renamo.
DA REDACÇÃO – IMPARCIAL -14.12.2004