Do ‘“fiasco” das eleições de Moçambique’
Cândido Mendes*
As eleições são apenas um meio dos políticos se enriquecer. Se eles querem ficar ricos que seja com os seus próprios esforços, mas contem comigo.
Os angolanos que estiveram presentes a observar as eleições gerais em Moçambique são unanimes em afirmar – e os dados existentes provam isso – as eleições moçambicanas foram um fracasso, pelo menos no que diz respeito à participação dos eleitores no processo eleitoral. Os jovens simplesmente mandaram bugiar os políticos, para eles, votando ou não, nada mudaria nas suas vidas. Só os kotas acreditaram que essa classe de cidadãos ainda poderia fazer alguma coisa.
Ora Moçambique é indubitavelmente um país em pleno crescimento económico. Tem-no sido desde 1992, altura da assinatura dos acordos de paz. Apesar das enchentes de rios que ameaçavam a estabilidade do país em 2000, o país cresceu, alcançando um dos maiores índices de desenvolvimento no continente, pese embora o facto de ser pobre em recursos naturais.
Também há poucas dúvidas de que o timoneiro dessas mudanças não tenha sido o Presidente Joaquim Chissano. A imprensa internacional chamou de “história de sucesso” – tanto assim que mereceu o perdão da sua dívida externa por vários países da União Europeia, incluindo a Alemanha, que em 2000 cancelou a 100% os 195 milhões da dívida de Moçambique. A comunidade internacional acreditou em Chissano e os investidores estrangeiros, sancionados pelos seus governos, estavam literalmente em bicha para entrar em Moçambique, dependente grandemente de doações externas para implementar muitos dos seus programas, em função da confiança manifestada na gestão de Chissano, por um lado, e da FRELIMO, por outro.
Essa forma fez com que o país deixasse de ser considerado um Estado “pária” para ser tratado com respeito na arena internacional.
Pese este factor de reconhecimento externo, a nível interno, os jovens moçambicanos acharam nada estar a mudar no seu país, optando por emitir um “cartão vermelho” durante o processo eleitoral, não só as políticas governamentais da FRELIMO e Chissano, como a própria Oposição.
E foi por esta razão que nos dias 01 e 02.12, as longas bichas eram preenchidas maioritariamente por homens e mulheres de meia idade e velhos, enquanto os jovens iam à praia ou noutros ambientes. “As eleições são apenas um meio dos políticos enriquecerem. Se eles querem ficar ricos que seja com os seus próprios esforços, mas não contem comigo. Chissano nunca fez nada p’ra mim”, justificou explicou um jovem entrevistado por um canal televisivo europeu, acrescentando o facto de mesmo com a vitória já garantida de Guebuza/FRELIMO, o aviso emitido pela juventude é sério.
Mas se Chissano conseguiu “milagres económicos”, ter grande parte da dívida externa perdoada e alinhar doadores nos seus programas, é tido como não tendo feito nada, que diria então o jovem Chimoio se fosse angolano. Por cá, três anos após a assinatura do memorando do Luena, 29 anos de Independência o Presidente José Eduardo dos Santos, ainda é colocado a inaugurar uma escola de adobe, como aconteceu, no dia 11 de Novembro, no Namibe, escola essa que até nem foi construída pelo seu governo, mas por uma ONG internacional...
Entretanto como estamos a falar de eleições moçambicanas, Folha 8 ouviu quatro individualidades nacionais dos 12 presentes nas eleições moçambicanas, nomeadamente, . Justino Pinto de Andrade, professor universitário, militante do MPLA e analista político, Augusto Santana, director do EISA, Instituto Eleitoral da África Austral, ONG que apoiou a ida dos nacionais à Moçambique, Clarisse Kaputu, Secretária da UNITA para a Promoção da Mulher e nomeada vice-ministra da Assistência e Reinserção Social e Tomás de Mello, Jornalista da Rádio Ecclésia.
As suas reacções merecem uma leitura ponderada, para que daí sejam extraídas lições, para que um eventual cenário triste não se produza, nas projectadas e sempre adiadas eleições, que poderão ocorrer em Angola nos anos de 2006, 2007, 2010 ou 3008.
Assim, na forja, está a realização de um seminário onde se poderá transmitir a experiência adquirida na observação das eleições moçambicanas, produzindo-se recomendações aos actores políticos nacionais para se evitar o “Fiasco de Moçambique.”
"Cartao vermelho" aos políticos moçambicanos
FOLHA 8 - ANGOLA - 15.12.2004